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Da Redação
Publicado em 16 de setembro de 2014 às 03:26
- Atualizado há 2 anos
Bem-vindo à primeira Primavera do resto de nossas vidas. Este mês, só este mês, como um dependente químico em recuperação que vive cada dia como se fosse o último e não gosta de ouvir Amy Winehouse cantar Rehab, não quero pensar que sou brasileiro, não quero saber das dezenas de mortos nas estradas a cada feriado nacional, da incompetência administrativa, do cinismo dos políticos, dos milhões de analfabetos funcionais, dessa alegre melancolia tropical.>
Nada de internet, nada de TV, nada de jornal, nada que me lembre os percalços da economia brasileira e a ética duvidosa nossa de cada dia. Chega de notícias de famosos com 15 minutos de validade, de cantores e atores medíocres tratados como artistas relevantes, de intelectuais omissos (e cooptados pelo poder), de problemas de infraestrutura, de crimes e escândalos, do obtuso conceito do politicamente correto, de uma sociedade violenta e cada vez mais vulgar. >
Este mês, eu quero ser feliz. Trinta dias de ventura plena, com possibilidade de renovação, é tudo que posso almejar e que a minha cabeça, que não me deixa descansar, permite. Não reclamo. “Uma vida inteira de felicidade! Nenhum homem vivo conseguiria suportá-la. Seria o inferno”, escreveu Bernard Shaw que, como todo bom irlandês, cultivava a ironia (de Sócrates a Carlos Drummond de Andrade, o que seria da vida sem uma boa dose de ironia?).>
Só quero ao meu lado, nestes 30 dias, quem for bonito, elegante e (quase) sincero. Que goste de Norah Jones cantando música folk, de praia no final da tarde, de vinho francês, de abraço apertado, de Sam Shepard, de ambrosia, de filme noir, de banho frio, do silêncio da madrugada, de criança, de Sean Penn, da Lua cheia refletida no mar, de surfe, de chope no Verão do Rio, de carinho de gato, de Julio Cortázar, do Flamengo, de Jorge Ben, de histórias de fantasmas, de planejar assassinatos que nunca serão realizados... >
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Retifico: não precisa ter o mesmo gosto meu, mas é fundamental entender que as ações justas ou injustas, os comportamentos heroicos ou criminosos, as virtudes ou os vícios põem em jogo as relações entre as pessoas. Que todas as questões de ordem moral estão ligadas ao fato de que mantemos relações com os nossos semelhantes. Todo tipo de relação, claro. De amor romântico, de parentesco, de amizade, de trabalho.>
São relações diferentes, mas todas implicam uma comunidade humana e regras de vida, ou seja, uma moral. Coisas da filosofia, que nos permite todo tipo de aventuras, périplos, trajetórias. Seria difícil fazer o bem ou o mal se pudéssemos, como Robinson Crusoé numa ilha deserta, não encontrar nenhum ser humano. É por sermos muitos e vivermos uns com os outros que podemos ser bons ou maus com as pessoas. Então, é preciso vigiar o mal e exercitar a gentileza.***>
“Quando não me perguntam o que é o tempo, eu sei. Quando me perguntam, não sei mais”, disse Santo Agostinho. Como o tempo, acreditamos saber o que é a felicidade enquanto não temos de explicá-la de maneira precisa. Assim que temos de falar a respeito com exatidão, ficamos em situação embaraçosa. O que sinto por você é parecido com o tempo - e não precisa de explicação.>
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E isso é apenas pulp fiction, homeboy.>