Ricardo David sai porque o Vitória perdeu até o essencial: esperança

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Publicado em 11 de abril de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

Errei, confesso que errei. E não foi pouca coisa. Logo eu, sempre tão crítico em relação à margem de erro admitida nos clubes de futebol. Pois bem, aqui está assinada a confissão.

As linhas as seguir foram publicadas em 14 de dezembro de 2017, um dia depois da eleição que transformou Ricardo David no primeiro presidente eleito pelo voto direto do sócio do Vitória: “Posso estar enganado, mas, aparentemente, o rubro-negro está em boas mãos, como também estaria se Manoel Matos fosse o eleito. Ambos apresentam perfil técnico, não estavam na eleição a passeio. Por sinal, se Ricardo David puder ouvir vozes como a de Manoel Matos e a de Alexi Portela, ainda que de maneira ocasional e consultiva, o Leão só tem a ganhar”.

As aparências realmente me enganaram. De fato, Ricardo David apresenta perfil técnico e não estava na eleição a passeio, mas não foi o bastante. Ricardo recebeu um clube desarrumado administrativamente pelos gastos excessivos de seu antecessor, Ivã de Almeida, o que foi um dificultador no início do mandato e gerou certa paciência de torcida e críticos. Porém, à medida que andou com as próprias pernas, o dirigente teve atuação desastrosa na área mais vital: o futebol.

Ricardo David não deixará o cargo daqui a 13 dias por causa do rebaixamento à Série B, afinal, acidentes de percurso acontecem. Também não deixará a presidência porque as receitas caíram bruscamente. Nem por causa do episódio em que o Vitória forçou o final do Ba-Vi antes do tempo regulamentar. Tampouco porque não ganhou sequer um clássico em sete disputados. Tudo isso seria “perdoado” pelos rubro-negros se ainda houvesse esperança.

Isso é o que dói mais. Ricardo David deixa o Vitória oito meses antes do prazo porque o futebol apresentado levou do torcedor a perspectiva de dias melhores com a atual diretoria. Tirou o ânimo de ir ao Barradão, de gritar o nome de um jogador em coro. Criou-se o paradoxo de torcer sem fé.   Erasmo Damiani, Jorge Macedo, Alarcon Pacheco. Os três diretores de futebol contratados encheram o time de jogadores com currículo e qualidade muito aquém da expectativa e reforçaram a certeza de que, desde o início da gestão, o clube está perdido no quesito mais fundamental. As eliminações na primeira fase do Baiano e da Copa do Brasil foram o recibo, o comprovante.

A situação chegou ao limite. Mesmo a preocupação em sustentar o mandato até dezembro para manter sólida a jovem democracia do Vitória se tornou obsoleta. Não há temor de golpe porque o próprio Ricardo David entendeu que é hora de passar o bastão, de encontrar alguém mais competente no desafio. Não há mais forças para defendê-lo.

É difícil avaliar quem será o próximo presidente. Os favoritos são Paulo Carneiro e Raimundo Viana e, se a ordem das duas últimas eleições for mantida, Carneiro sairá vencedor. A chapa dele ficou em terceiro lugar e a de Raimundo Viana em quarto no pleito de 2016, que elegeu Ivã de Almeida, tendo Ricardo David em segundo lugar. Em 2017, já sem Ivã na disputa, o candidato Manoel Matos, apoiado por Paulo Carneiro, ficou em segundo e Viana em terceiro. A grande questão é: como votarão os sócios que elegeram Ivã e David? Teoricamente, eles são contra a volta de Paulo Carneiro. Por outro lado, as duas gestões decepcionantes do novo podem levá-los a rever conceitos. Não arriscarei palpite.

Herbem Gramacho é editor de Esporte e escreve às quintas-feiras.