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Da Redação
Publicado em 13 de agosto de 2019 às 05:00
- Atualizado há 2 anos
Um dos melhores livros sobre marketing que li foi Surfando As Ondas do Mercado, de Raimar Richers, professor fundador da FGV, que tinha uma tese matadora: as relações das empresas com os mercados é dialética. Elas não podem ser totalmente contrárias a eles e devem aproveitar ao máximo as macro e micro tendências naturais da economia. Mas assim como os surfistas exímios, as empresas podem surfar com destreza nessas ondas do mercado e criar circunstâncias, até no contrafluxo, que lhes sejam favoráveis.>
Tenho pensado bastante nisso ao analisar o momento atual do mercado publicitário, seus últimos e possíveis próximos desdobramentos, principalmente em relação aos meios de comunicação e seus veículos.>
O que me fez lembrar de uma tese, que escrevi junto com Fernando Leite, nos inicio dos anos de 1980: a evolução da publicidade é determinada pela tecnologia utilizada, estrutura disponível e atuação comercial dos veículos, cabendo aos anunciantes e agências aproveitarem ao máximo suas possibilidades. Isso vem desde 1700 e poucos, quando os jornais da Fleet Street, em Londres, lançaram as raízes da dimensão industrial da publicidade.>
300 anos depois, ela está no auge da revolução motivada pelo digital, que vem transformando de forma profunda o resultado de mais de um século de imensa expansão econômica da área - pois só nos Estados Unidos, passou de cerca de US$ 1,5 bilhão ao ano no início dos anos 1900 para perto de US$ 250 bilhões na entrada do século XXI.>
O grande fluxo dominante atual tem sido o digital, que não apenas literalmente criou um novo meio como abalou severamente dois outros, tradicionais, o jornal e a revista, e incomodou os demais, inclusive o mais poderoso e utilizado de todos, a TV.>
Mas apesar de seu domínio econômico, o digital ainda é um pós-adolescente desengonçado, cheio de problemas e oportunidades, entrando em sua fase de amadurecimento.>
O modelo econômico do digital não fez bem até para a maioria de seus players, tendo privilegiado alguns poucos e deixando um rastro de fracassos entre seus próprios pares.>
Até pouco tempo não havia nem mesmo abalado a TV, o meio mais eficiente e mais eficaz da publicidade, que está perdendo seu rumo só agora, desde que em 2017 o digital lhe tomou o bastão de líder do mercado.>
Quanto aos demais, os que souberam enfrentar a onda com mais sabedoria e inclusive aproveitar os recursos digitais para modernizar sua tecnologia e estrutura, bem como ajustar seu modelo comercial, safaram-se melhor.>
Vamos aos números: o jornal foi o grande perdedor, saindo de uma receita global de US$ 107,35 bilhões em 2000 para US$ 44,05 bi em 2018 (- 59%) e com tendência de cair nos próximos dois anos; a revista saiu, nesse período, de US$ 47,46 para US$ 26,22 bi (- 45%); o rádio, que soube se imiscuir no mundo digital, cresceu 13%, de US$ 30,38 para US$ 34,20 bi; a TV cresceu 61%, passando de US$ 116,33 para US$ 187,48 bi e apresenta uma tendência de perda (mas que ainda pode não acontecer, se ela souber aproveitar o contra fluxo, que parece se formar - tema para a segunda parte desta série).>
Quem soube surfar bem e incorporar de forma eficaz o digital foi o OOH, que cresceu 98% entre 2000 e 2018, passando de US$ 18,99 para US$ 37,66 bi e ainda com tendência de alta. E o cinema, que também surfou legal, pulou 398%, de US$ 0,87 para US$ 4,34 bi, e tem previsão de crescer 12% em 2020, empatando ou até superando o digital, que registrou um salto quântico de 2.774% no período, passando de US$ 7,90 para US$ 227,09 bilhões, mas que parece estar reduzindo seu empuxo de subida e deve vir a sofrer o contrafluxo nos próximos anos.>