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Da Redação
Publicado em 21 de agosto de 2015 às 01:31
- Atualizado há 2 anos
Em 3 de novembro de 1859, o imperador Dom Pedro II, durante a solenidade do beija-mão no Paço de Nazaré das Farinhas, “distinguiu particularmente”, assim se expressou o cronista da época, um cavaleiro de 35 a 40 anos, estimados, que lhe ofereceu “um rico álbum” impresso provavelmente na tipografia de sua propriedade. No ano seguinte, esse cavaleiro receberia de Sua Majestade a Ordem da Rosa, um dos títulos de nobreza distribuídos por D. Pedro II em retribuição a alguns de seus anfitriões na sua histórica viagem pelas províncias do Norte. O cavaleiro em questão era Manoel Teixeira de Carvalho Serva, suponho eu que neto do pioneiro da imprensa na Bahia, Manoel Antônio da Silva Serva. Se correto meu raciocínio, seria filho de Delfina, uma das filhas do patriarca, digamos assim, casada com José Teixeira de Carvalho, o sócio da Viúva Serva na tipografia de Salvador após o falecimento do empresário. Em 1851, segundo relato de seu próprio punho, foi residir em Nazaré das Farinhas, lá tornou-se um próspero homem de negócios (comerciante de açúcar, dono de uma fábrica de charutos e acionista da Caixa Econômica) e um dos homens mais influentes do município. Em 1864 foi eleito Provedor da Santa Casa de Misericórdia de Nazaré, um cargo de grande representatividade política e social na época. Quando o neto de Silva Serva aportou em Nazaré, o município recém tinha sido elevado a essa categoria, antes na condição e status de Vila. A lavoura, baseada na cultura da mandioca, expandia-se com a nova cultura da cana-de-açúcar. A população era estimada em 13 mil habitantes. Dom Pedro II, na referida viagem, estimou em apenas 5 mil, pondo em dúvida as estatísticas oficiais. Então, nenhum periódico circulava na cidade. O Echo Nazareno, redigido pelo suplemente de juiz municipal Ernesto Francisco Xavier de Assis, suspendera atividades justamente em inícios de 1851. Durante cinco anos, os nazarenos leram apenas as gazetas da capital e do recôncavo. Em 1856, Serva montou uma oficina tipográfica que registrou como Tipografia de Manoel Teixeira de Carvalho Serva, onde imprimiu O Industrial, um periódico de sua propriedade, também redigido por ele, que circulou até 1861, sendo substituído pelo O Regenerador, órgão do Partido Republicano Federalista. O último exemplar conhecido de O Industrial é o número de série 532 de 16 de março do ano referido. Nessa edição louvou a queda do gabinete Ferraz no Império, substituído por um outro conservador, mais moderado. Circulava quando queria, “este jornal não tem dia certo para sua publicação”, explicava no expediente, porém, a frequência era de duas a três edições por semana. Diferente do avô, que foi apenas empresário, Carvalho Serva, assim como os tios Manoel e José Antônio, era redator. Escrevia bem. Tinha um estilo limpo, agradável, objetivo, sem o proselitismo rebuscado de outros jornalistas da época que se esforçavam em elencar palavras supostamente eruditas, fugindo muitas vezes do escopo principal do artigo. Carvalho Serva ia direto ao assunto e se, às vezes, se excedia na linguagem, no embate político sempre em tempo de eleições, o fazia com elegância. Certa feita, provocado por um jornal da capital, o Interesse Público, de Domingos Guedes Cabral, chamou-o à luta: “Não foi o nosso propósito apresentar em Nazaré um jornal com o fim de dirigirmos ofensas diretas... Hoje são os protestos contra nós, levados à imprensa de um modo repulsivo, pela linguagem de que se servem esses nossos inimigos, que para com eles temos a precisa caridade porque são cegos e não vêm...Se estão resolvidos a uma luta de honra, a ela, a imprensa! A palma ao vencedor, ao vencido o esquecimento”.>