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A Rádio Clube de Nazareth, fundada um ano depois da Rádio Sociedade da Bahia, foi também uma das pioneiras no país
Nelson Cadena
Publicado em 29 de fevereiro de 2024 às 05:00
Um ano e sete meses após a fundação da Rádio Sociedade da Bahia, cujo centenário transcorre em 24 de março próximo, foi fundada em Nazaré das Farinhas a primeira emissora de rádio do interior da Bahia: Rádio Clube de Nazareth. Foi também uma das pioneiras no país. Difícil estabelecer um ranking cronológico da matéria pela inconsistência das informações existentes. A história do rádio foi contada pelos seus protagonistas, com o mínimo de isenção.
A Rádio Clube de Nazaré é uma ilustre desconhecida em qualquer publicação. Na Bahia imaginávamos que a Rádio Commercial e a Rádio Clube, esta, de Salvador, fundadas em 1933 e 1934, fossem a segunda e a terceira emissoras baianas. As duas tiveram vida curta. A sua concessão foi cassada no período da ditadura Vargas, sob o argumento de deficiência técnica, algo do gênero. A Rádio Commercial pertencia ao jornal O Imparcial e foi uma emissora muito qualificada na sua programação, enquanto durou.
A rádio nazarena foi fundada em 18 de outubro de 1925 “destinando-se a proporcionar a seus associados, além de audições de radiotelefonia, diversões outras, de acordo com seus estatutos, como poderá V.Exa. verificar pelo exemplar que tenho o prazer de incluir a esta”, informou o secretário da emissora, Álvaro Pereira, em ofício endereçado a Antenor Augusto de Miranda, presidente da Rádio Sociedade da Bahia. O exemplar a que a missiva se refere, imagino que tenha sido a edição do dia do jornal O Conservador, fundado e dirigido pelo poeta e romancista Anísio Melhor e que circulou de 1912 a 1945.
O intelectual foi um dos fundadores da emissora e membro da diretoria com o cargo de orador. Se hoje não faz sentido ser o orador oficial de uma diretoria de emissora de rádio, naquela época era relevante. A grade de programação de todas as rádios brasileiras consistia basicamente em música, poesia, discursos e conferências e mais tarde, notícias. As emissoras que desenvolveram o radiojornalismo eram vinculadas, ou associadas a jornais. Não sabemos se a rádio de Nazaré chegou a ter algum vínculo com o jornal O Conservador, além do fato de seu diretor ser um dos fundadores.
No ofício endereçado à Rádio Sociedade a emissora informa: “O Rádio Club de Nazareth possui hoje um aparelho tipo Murdock-Netrodyne Receiver, com 6 válvulas e alto-falante Magna Vox, tendo nas suas experiências dando resultados altamente satisfatórios, proporcionando-nos, mesmo, o grato prazer de ouvirmos com bastante nitidez, as audições dessa Sociedade”. Os aparelhos Murdock eram receptores de alta qualidade, superiores aos de galena, mas não transmissores. E se transmissores, apenas de um usuário para outro. Por isso, talvez com o objetivo de publicidade, saliente a nitidez da recepção irradiada pela Rádio Sociedade da Bahia.
Não temos indícios de quanto tempo durou essa rádio do interior do Estado. E nem sabemos se chegou a ter uma grade de programação regular com audiência.
Nelson Cadena é publicitário e jornalista, escreve às quintas-feiras