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Paulo Leandro
Publicado em 12 de maio de 2019 às 05:00
- Atualizado há um ano
O saudoso professor Saja, com aquele jeitão bem-humorado dele, dizia que era muito fácil prever o futuro. Bastava verificar as condições em que construímos o presente, pois no agora é semeado o amanhã.
Vamos consultar o oráculo: este será o último dos campeonatos brasileiros, uma vez que não haverá mais país nenhum em breve. Economia estrangulada, universidades perseguidas, armamento liberado, cortes de tudo, que futuro terá o país?
Quanto pior, melhor. Venderemos as refinarias para comprar óleo mais caro lá fora. A multidão de famélicos vai sair por aí louvando o bispo... Logo seremos um Sudão do Sul gigantesco.
Para completar, vamos substituir o futebol pelo tiro como esporte nacional. Nada mais justo, pois foi o tiro que nos deu a primeira medalha olímpica. Neste último campeonato brasileiro de futebol de um país em extinção, que tal deixar uma bela lembrança?
O Bahia vai fazer cintilar sua terceira estrela, e o Vitória subiria... mas que azar! Subir para nada porque já não teremos querosene para aviação civil em 2020 e o máximo que o Nego vai disputar onde existia o Brasil é o Intermunicipal.
A proposta da coluna de hoje é torcer por nossos clubes neste último Brasileiro, antes do tiro tornar-se o principal “esporte”, praticado no cotidiano, como os babas, tendo cidadãos de bem ou não como traves para os artilheiros armados até os dentes de ouro.
Para quem é de outras regiões fora da baía, considerando Salvador como kirimurê dos tupinambá, e do Recôncavo, não há identificação certa. Mas pra que precisamos torcer para times de fora?
Este é o objeto de interessante trabalho de conclusão de curso desenvolvido na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB) pelo formando em Jornalismo Rodrigo de Azevedo, orientando da profª PhD em Cultura e Sociedade Márcia Rocha.
Belo Monte, Chapada, Baixo Sul, Região Cacaueira, Extremo-Sul, Sudoeste e muito menos o Oeste, que era de Pernambuco, nenhuma dessas regiões vai com a cara de Salvador, devido ao antigo mau costume de saquear os sertões via tropas do governo.
Por que, então, vamos pedir a este povo historicamente roubado para torcer pela dupla Ba-Vi que não os representa? A mídia, com o radio esportivo do Rio, e, a partir de 1987, com o controle do futebol pela Rede Globo, só fez atiçar o que havia de ressentimento,
Mas, insistimos, por que mesmo em kirimurê (baía) tem tantos flamenguistas, palmeirenses, vascaínos, corintianos, fluminenses e até crianças que torcem pelo Barcelona e times do exterior?
Quem vai ajudar Rodrigo a tatear alguma resposta é o nosso confrade raulseixista Paulo César Gomes, radialista esportivo e Fluminense de coração. Eis aí um enigma que vem desde a Confederação do Equador, em 1824.
Foi depois desse levante, organizado no Recife, que começamos a sofrer cortes de orçamento, que agora voltaram à moda. O Sudeste enriqueceu, seus clubes prosperaram e nós ficamos com a seca, a buchada, o forró e os rebaixamentos.
Agora, acabou a celeuma, pois vamos torcer pela Taurus, pela Winchester, pelo Coat e sei lá quais são outros bons times de tiro. No ex-país da bola, teremos como hino a musiquinha de Bat Masterson: “No velho Oeste ele nasceu... e entre bravos se criou...”
Paulo Leandro é jornalista e professor Doutor em Cultura e Sociedade