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Da Redação
Publicado em 18 de outubro de 2021 às 05:04
- Atualizado há 2 anos
Cada vez mais, através de sorrisos e creme dental, a felicidade anda nos bombardeando. Junto com a burrice, ela é transmitida por jornais, rádios e televisão. A consagração veio com o advento do whatsaap e das redes sociais. Paradoxalmente, na briga eterna desse mundo, muito cidadão de bem acredita que é necessário sempre ferir ou ser ferido. Que vida amarga!>
Temos o sorriso engarrafado, pronto e tabelado. Mas, para ser feliz, o cidadão de bem precisa se considerar superior. Por isso, ensina e aprende bem cedo a defender a família e a tradição, balançar a bandeira do bem e punir o pecado sem perdão. Tolerância zero. Depois, faz suas orações uma vez por dia e manda a consciência, junto com os lençóis, pra lavanderia.>
Com quantas mortes no peito se faz a seriedade? Com quantos quilos de medo se faz uma tradição? É fácil fazer discurso moralista e pedir severidade com os mais fracos. Quem rouba um, é moleque. Se rouba 100 já passou de doutor e 10 mil é figura nacional. O tamanho do roubo faz a honra do ladrão. Rico chega na dança com o olho grande e ganância de braço dado.>
O apelo por dureza ignora as perspectivas de quem sonha apenas em botar filho no colégio, dar picolé na merenda, viver bem civilizado, ou pagar imposto de renda. A felicidade vai atacar essas pessoas até não dar pra respirar. O que acontece quando nem o Largo dos Aflitos é bastante largo pra caber a aflição de alguém? Um caminho é a cracolândia da Estação da Luz, afinal está tudo escuro dentro do coração. Isso não se resolve com bala ou cadeia.>
Quando o ódio pega no peito, a pessoa fica cega e nem percebe que está gritando e berrando como louca. Chega de botar dinamite na cabeça do século. Com todo o respeito, mas meta sua moral, regras, regulamentos, escritórios, gravatas, sua sessão solene lá no banco da esquina. Estou falando da vida real e não de discursos vazios. Botaram tanto lixo, tanta fumaça na consciência da cidade que ela está podre, sufocada, gemendo. >
Sei que não sou delicado, mas quem se deu por ferido foi porque tem seu pecado. Pode parecer que o caso é chorar, mas nosso consolo é que sempre podemos navegar canções. Um baiano em especial sabe explicar o mundo para nos confudir e vai nos confundindo para esclarecer. Ele não fica velho, nem deixa os nossos sonhos envelhecerem. >
Esse texto é mais dele do que meu. Na verdade, nenhuma linha é minha. Plagiei um gênio. Roubei dele até mesmo a ideia do plágio! Casando a cultura do mouro com o saber de Aristóteles, ele compôs todos os textos acima, antes de surgirem algorítimos, Trumps ou Bolsonaros.>
Fico imaginando o que ele criaria vivenciando realidade da Defensoria Pública, vendo de perto as injustiças e os preconceitos. Lembro dele em cada menino Jesus que defendemos, em cada mãe solteira que vê no próprio filho a culpa e a salvação e precisa de alimentos. Não sei se um dia ele entenderá essa relação. Se mais gente entender, já fico satisfeito. Quem deseja um mundo melhor precisa ouvir o tropicalista de Irará. >
Muito obrigado, Tom Zé! Parabéns pelos 85 anos!>