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Bruno Wendel
Publicado em 11 de maio de 2020 às 17:16
- Atualizado há 2 anos
Ana Cristina chegou confiante à agência da Caixa no Comércio (Foto: Marina Silva/CORREIO) Sentada em uma das 100 cadeiras enfileiradas em frente à agência da Caixa Econômica Federal do Comércio, a auxiliar de cozinha Ana Cristina dos Santos, 48 anos, comemora. “É hoje que resolvo minha vida”. Das outras vezes que tentou sacar o auxílio emergencial, ela desistiu. “Era um inferno de gente. Hoje, nem parece aquele amontoado de antes”, disse entusiasmada. De fato, nesta segunda-feira (11), primeiro dia de organização das filas pela Guarda Municipal, nada lembrava as aglomerações dos últimos dias, de dobrar quarteirões no entrono das agências de Salvador. >
O CORREIO esteve pela manhã em algumas unidades da Caixa. As pessoas estavam sentadas em cadeiras de plástico posicionadas sobre marcações no chão, que determinavam o distanciamento recomendo pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para evitar a proliferação da covid-19. Esse foi o cenário na agência da Avenida Estados Unidos, no Comércio, uma das agências mais procuradas pela população e que até outro dia encabeçava o ranking das mais problemáticas em relação às filas. Além disso, as pessoas que estavam do lado de fora esperavam, em média, meia hora para serem atendidas. >
“Hoje tiveram dois aspectos importantes. Primeiro a forte chuva que caiu logo no início da manhã. Isso fez com que algumas pessoas ou ficassem em casa ou não saíssem todas de vez para o mesmo local. E o outro aspecto, e mais importante, foi a forma da organização das filas. Em virtude do trabalho dos guardas municipais, foi possível que os funcionários da Caixa se concentrassem nas atividades de dentro da agência, agilizando o atendimento às pessoas. Antes, os funcionários paravam para organizar as filas e isso refletia no atendimento”, explicou o diretor da Guarda Municipal, Maurício Lima.>
Para a ação nas agências, atuarão 160 guardas municipais, que estarão distribuídos em 30 viaturas, três bases móveis e um ônibus da GM. >
O CORREIO encontrou a auxiliar de cozinha Ana Cristina por volta das 9h. Usando máscara, ela relatou como foi o cenário nas duas vezes em que tentou sacar o benefício, nas agências de Periperi e da Graça. Em ambas as ocasiões ela chegou às 6h e desistiu de esperar por volta das 13h, porque sabia que não ia ser atendida até às 14h, horário de encerramento.>
“Foram várias sensações que tive. Uma delas foi a humilhação. A gente estava ali porque precisa da ajuda. Várias pessoas tomando sol e chuva no meio da pandemia. E o medo? Todo mundo aglomerado, tinha gente sem máscara, uma confusão, todo muito correndo o risco de ser contaminado”, disse ela que, logo depois, conseguiu, entrar na agência e foi atendida.>
A situação não foi diferente para a dona de casa Joicevânia Silveira Régis, 37. Ela disse que fez só “esquentar a cadeira”. “A diferença é gritante. Na semana passada estive aqui às 7h30 e saí às 11h sem resolver nada. Desisti porque a fila a gente sabia onde começava, mas não via onde terminava. Hoje, o caso é bem diferente (nesse momento, um funcionário da Caixa chama 10 pessoas para entrar e Joicevânia é uma delas). Opa! Fiz só esquentar a cadeira”, brincou ela. No Comércio, Joicevânia disse que só fez "esquentar a cadeira" (Foto: Marina Silva/CORREIO) Além de organizar as filas, os guardas municipais distribuíram máscaras, fizeram higienização com álcool em gel nas mãos dos beneficiários que acessavam as agências e contaram com o apoio dos funcionários da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) para aferir a temperatura das pessoas.>
“Até o momento não foi detectada nenhuma suspeita com a temperatura elevada, um dos indicativos de suspeita de contaminação pela covid-19”, disse o diretor da GM. Segundo ele, houve filas organizadas em outras agências da Caixa de grande procura da população, como Periperi, Largo do Tanque, Estrada das Barreiras e Cajazeiras >
Bloqueio Já na agência da Caixa das Mercês, no Centro, a situação foi ainda mais tranquila: não havia fila. As cadeiras colocadas em frente à agência estavam vazias. Quem chegava, tinha logo as mãos higienizadas pelos guardas municipais e adentrava no banco. O diretor da GM explicou o motivo: “Além da chuva, houve também o reflexo da interdição na Avenida Joana Angélica. As pessoas pensaram na dificuldade de chegar ao banco pelo fato de não ter a circulação de transporte”, explicou Maurício Lima. Nesta segunda, começou o isolamento mais restritos no Centro, Plataforma e Boca do Rio. >
A babá Josemilda Pereira da Silva Junqueira, 46, chegou à agência 8h40. Às 9h06 cruzava a porta de saída do banco. “Foi ótimo. Resolvi tudo. Meu pagamento já foi agendado. Da outra vez, cheguei aqui às 8h40 e saí às 14h sem sequer ter chegado próximo à entrada do banco”, declarou ela, que estava na companhia do filho, Lucas da Silva Junqueira, 24. “Minha mãe penou nesse dia, mas deu tudo certo”, disse o rapaz. Josemilda e o filho, Lucas, passaram cerca de 30 minutos na agência da Caixa das Mercês (Foto: Marina Silva/CORREIO) Cadeiras Embora não seja responsável pela Caixa Econômica, que é de alcunha federal, a prefeitura resolveu agir para resguardar a população e providenciou o aluguel de 4 mil cadeiras, que serão disponibilizadas gratuitamente para organizar melhor as filas. Ao todo, serão 100 delas por agência.>
“Todas elas são sem braço, para evitar a proliferação da covid-19 quando as pessoas apoiam o cotovelo, e higienizadas com hipoclorito de sódio no galpão antes de serem levadas para as agências”, explicou Maurício Lima. >
As cadeiras usadas pela prefeitura foram alugadas com o Microempreendedor Individual (MEI) Welington Gonçalves, 40 anos, que ficou conhecido por distribuir cadeiras para idosos e gestantes nas filas da Caixa nas agências de Periperi e Calçada. A boa ação aconteceu na semana passada. >
“É muito bom. Fui para ajudar a minimizar o sofrimento das pessoas sem ganhar qualquer benefício. Resultado: acabei gerando renda temporariamente para 58 pessoas, o que inclui também as atividades de limpeza e transporte das cadeiras”, disse ele ao CORREIO.>