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Bloco, que teve início em 1975 sob vaias, completa 50 anos em novembro deste ano, sendo considerado patrimônio cultural
Larissa Almeida
Publicado em 31 de janeiro de 2024 às 10:30
O Ilê Aiyê, primeiro bloco afro do Brasil, é fundado nos primeiros dias de novembro de 2024 pela ialorixá Hilda Dias dos Santos (1923-2009), a Mãe Hilda Jitolu, e pelo seu filho Antônio Carlos dos Santos Vovô (1952). A sede da associação carnavalesca, à época, era o terreiro Ilê Axé Jitolu, na ladeira do Curuzu, no bairro da Liberdade.
Pela primeira vez, o bloco Ilê Aiyê sai do Curuzu rumo às ruas do Centro de Salvador para fazer o desfile carnavalesco. Na ocasião, Vovô do Ilê tocou timbal para aproximadamente 100 foliões, incluindo 15 instrumentistas. A saída do bloco foi alvo de críticas da imprensa, vaias e vigilância da Polícia Federal.
No Carnaval de 1977, o Ilê Aiyê atrai uma multidão composta por cerca de mil foliões. Diante da aceitação popular, o bairro da Liberdade ganha a fama de espaço negro de resistência, tal como ‘Harlem baiano’.
Após uma viagem para a Nigéria, Gilberto Gil e seus músicos compõem o álbum ‘Refavela’, e decidem incluir a música ‘Que Bloco É Esse?’ no disco para homenagear o Ilê Aiyê. Naquele período, o cantor estava inserido em movimentos contracultura e de exaltação das culturas africanas.
A Noite da Beleza Negra é criada em 1979 como resposta à falta de participação da mulher negra nos concursos de beleza, como o Miss Universo. Com a proposta de subverter os eventos de beleza tradicionais, a Deusa do Ébano é escolhida por seu carisma, ativismo, consciência de pertencimento étnico-racial e performance diante da plateia e jurados para ser a rainha do Ilê no Carnaval. O concurso, que ocorre algumas semanas antes da festa momesca, se tornou o maior do gênero na exaltação da mulher negra no Brasil.
A identidade visual do primeiro bloco afro do Brasil, batizada de perfil azeviche, é criada pelo artista plástico, cenógrafo, designer e figurinista Jota Cunha. A máscara de pele preta com quatro búzios abertos na testa em formato de cruz representa o Ilê Aiyê até os dias atuais.
Canto Negro I, primeiro disco do bloco, é gravado em 1984 com músicas de sucesso do grupo, como “Que bloco é esse?”, “Mãe Preta” e “Depois que o Ilê passar”.
O Grupo de Dança do Ilê Aiyê é criado para fazer parte do cortejo coreografado da Noite da Beleza, com figurinos e adereços, do Carnaval e de eventos menores.
Benim e Bahia começam a estreitar relações em 1987, com uma viagem ao país africano do prefeito de Salvador da época, Mário Kertész, e de uma comitiva da qual o Ilê Aiyê fez parte. A partir disso, houve um intercâmbio cultural com a inauguração, no Pelourinho, da Casa do Benin, e a instalação, no país africano, da Casa do Brasil.
A Escola Mãe Hilda, unidade escolar comunitária de Ensino Fundamental, que tem como foco temático a equidade racial e de gênero, é aberta pelo grupo para ampliar as ações para a juventude negra de Salvador.
Após fazer homenagens ao povo negro de países africanos como Ruanda, Senegal, Angola e Nigéria, em 1989, o Ilê Aiyê tem como o tema do seu Carnaval um tributo a Zumbi do Palmares.
A cantora Daniela Mercury lança o disco ‘O Canto da Cidade’ em 1992, com a música ‘O Mais Belo dos Belos’, composição que é resultado da união entre duas canções do Ilê Aiyê: ‘A Verdade do Ilê’ e ‘O Charme da Liberdade’.
A escola de percussão do grupo é inaugurada com objetivo de formar jovens instrumentistas para a Band’Aiyê.
O Projeto de Extensão Pedagógica do Ilê Aiyê inaugurou a série Caderno de Educação, que passou a publicar textos sobre a história negra. Mãe Hilda acolheu 50 professores das escolas públicas do bairro da Liberdade, em Salvador, para a capacitação.
Gravação do disco Ilê Aiyê 25 Anos, batizado de Canto Negro IV.
A Senzala do Barro Preto é inaugurada no Curuzu, em Salvador, para ser a nova sede do bloco afro Ilê Aiyê. O edifício de oito andares é entregue com estúdio, espaço para as festas da Beleza Negra e as demais atividades de ensino e formação do grupo.
A top model britânica negra Naomi Campbell fez uma participação especial no desfile do bloco em 2008
Morre a ialorixá Mãe Hilda Jitolu, liderança religiosa e cultural que cuidava do terreiro Ilê Axé Jitolu, berço do Ilê Aiyê.
Primeiro DVD do Ilê Aiyê é lançado em comemoração aos 40 anos do bloco
No ano do centenário do nascimento de Nelson Mandela, o tema da festa carnavalesca do Ilê Aiyê é ‘Mandela – a Azânia celebra o centenário de seu Madiba’.
Esta matéria integra uma série de reportagens sobre os blocos afro e afoxés do Carnaval de Salvador, que serão publicadas ao longo dos próximos dias no CORREIO.