Conheça a escritora viajante e sem grana que já conheceu quase todo o Brasil

Manoela Ramos, 26, faz da Praia da Paciência, em Salvador, seu escritório

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  • Da Redação

Publicado em 9 de março de 2020 às 06:40

- Atualizado há um ano

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Em apenas três anos, Manoela Ramos, 26,  percorreu quase todos os estados brasileiros. “Faltam cinco, mas já está tudo certo para eu conhecê-los a partir desse mês. Só depois disso poderei dizer que a Bahia é o melhor lugar do Brasil”, diz. Engana-se quem pensa que a fala tem um quê de bairrismo.

Manoela é natural de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, mas virou “baiana de coração” e volta e meia passa por aqui. Em fevereiro, por exemplo, esteve na Chapada Diamantina, no Litoral Norte, e em Salvador. 

Esta semana, volta à cidade para participar de uma bate-papo sobre Escritas Pretas, Intercâmbio e Viagens, na Escola Winnie Mandela, no Engenho Velho de Brotas. O evento acontece nesta quarta-feira (11), às 18h, com as presenças de Ingride Ellen e Vânia Melo.

O escritório da jovem também funciona em terras soteropolitanas, mais precisamente na Praia da Paciência. “É onde faço grana, apresento meus livros, conheço gente nova, e encontro amizades”, explica.

Leia o livro! Escritos e publicados de maneira totalmente independente, os livros a que ela se refere são Confissões de Viajante (Sem Grana) e Em Busca do Norte - o primeiro, já está em sua segunda edição. As duas obras são impressas em uma gráfica de Salvador, o que também motiva a vinda frequente dela para cá. 

”A primeira tiragem de Confissões de Viajante saiu com 700 exemplares. Depois, fiz outra com 2 mil, e já vendi outros 1400 livros. Arrisquei muito, acreditei que ia ter saída, e que era melhor vender dois livros a R$ 20 cada, que um a R$ 40”, explica Manoela, que é formada em Publicidade.

A vida de viajante profissional, inclusive, só teve início depois que ela conquistou o diploma, em julho de 2017. ”Já tinha um tempo que não conseguia me ver no mercado tradicional de trabalho, mas sabia que seria importante pegar o canudo. Então, preferi terminar o que já havia iniciado pra não ter nenhuma “dívida” pra quitar antes de começar a viajar”, comenta, ao emendar que foi a faculdade quem lhe apresentou ferramentas e recursos para lidar com a vida escritora independente. 

Antes de se aventurar em um negócio próprio, Manoela chegou a vender artesanato e comida por onde passava; mais uma forma de bancar os custos de tanto tempo fora de casa. 

Com os livros, conseguiu não só fazer grana, mas também alcançar, de forma mais profunda, o que a motivou viajar sozinha: o autoconhecimento.

Sem medo “Fui criada com bastante liberdade por meus pais, que me criaram para o mundo, como se diz. Então, em relação à família, sempre foi muito tranquilo. Eu entrei em crise existencial durante a faculdade, e nessa fase comecei a tentar me entender mais. Viajar sozinha foi a opção para eu encontrar a solidão necessária, e fora da zona de conforto. Foi nesse processo que virei escritora, já tinha vários esboços de coisas, mas achava que tinha de desenvolver uma carreira até publicar livros”, lembra.

As anotações feitas em pequenos cadernos nos primeiros meses da viagem deram origem ao livro de estreia, que é dividido em duas partes. Na primeira, Manoela responde a dúvidas frequentes de todo viajante, como sobre como começar, como lidar com a família, dicas de hospedagem, cuidados essenciais. Na segunda parte, ela faz uma espécie de diário de bordo das primeiras viagens que fez, inspirada na narrativa de Carolina Maria de Jesus, cujos relatos sobre o cotidiano na favela em que vivia deram origem ao livro Quarto de Despejo - Diário de uma Favelada."Se estiver com medo, é melhor não viajar sozinha. O medo cria situações indesejadas, e você tem que estar com uma confiança no universo de que vai dar certo. Autoconfiança e autoconhecimento são fundamentais", diz ManoelaO estilo despojado e a abertura de Manoela ao novo faz com que ela se sinta uma nativa de cada lugar onde chega. “Comecei me hospedando em hostel, mas hoje fico na casa de moradores, porque acabei aumentando minha rede de conhecidos nesse processo”, conta. Natural de Cabo Frio, no Rio de Janeiro, escritora viajante é baiana de coração: "Estou sempre passando por aí". Na quarta-feira (11), ela participa de bate-papo na Escola Winnie Mandela, no Engenho Velho de Brotas (Foto: Reprodução) Depois de concluir a graduação em Publicidade e Propaganda no Rio de Janeiro, Manoela começou a viajar pelo Brasil; formação ajudou no planejamento do livro, que surgiu de anotações em cadernos (Foto: Reprodução) Depois de lançar Confissões de Viajante (Sem Grana), Manoela escreveu Em Busca do Norte; ambos os livros são impressos em Salvador, e vendidos por ela a R$ 20 por onde passa (Foto: Reprodução) (Foto: Reprodução) Se joga, mulher! Planejamento Tente fazer um roteiro antes de viajar, ou pelo menos tenha uma lista de acomodações, opções de transporte. Opte por transporte público, e evite caronas de desconhecidos.

Seguro Se for para fora do país, vá com seguro de viagem (sozinha, acompanhada, sempre!). O seguro funciona como um plano de saúde temporário e também uma garantia de indenização para várias situações e acidentes. Nem todos os países (na verdade, a maioria deles) atende gratuitamente estrangeiros na rede de saúde. Também é possível contratar seguros para viagens dentro do Brasil.

Poupe Leve dinheiro extra ou cartões de crédito com limite disponível. Outra dica muito importante é levar cartão de crédito, débito, dinheiro e vários tipos de meio de pagamento para distribuir em diferentes lugares: um pouco na carteira, um pouco na mala e algo na famosa pochete interna. Quem vai passar muito tempo fora, pode procurar trabalhos temporários por onde passa para complementar a renda. 

Contato Sempre deixe algum membro da família ou amigo saber onde você está, compartilhe com eles os passeios e avise de quando em quando o que irá fazer, e como pretende se deslocar. Opte por transportes públicos ou que você posssa compartilhar o roteiro/localização.

Conexão Carregue um chip de dados para o celular ou compre um quando chegar ao destino. Internet é fundamental hoje em dia, e pode lhe ajudar em tudo. 

Segurança Pesquise sobre a segurança na área em que está hospedada e, se achar necessário, faça passeios em grupo. Isso é ainda mais fácil e frequenet se ficar em um hostel!

Minimalista Viaje com pouca bagagem, para que você consiga transportar tudo sozinha, e não precise ficar pedindo ajuda a alguém a todo momento. Não esqueça de levar cópias físicas e digitais de documentos importantes.

Guia para mulheres que querem se jogar Em parceria com a ONG de empoderamento feminino Think Olga, a plataforma de reserva de hotéis Booking.com lançou no ano passado, a cartilha “Mulheres Pelo Mundo: Um Guia Para Viajar Em Sua Própria Companhia”, um material voltado a incentivar mulheres a fazer as malas e explorar novos destinos com segurança.

Esta ainda é a principal barreira e motivo de preocupação das mulheres que viajam sozinhas. De acordo com a pesquisa, 100% das entrevistadas declararam que viajariam em grupos só de mulheres porque sentem que estariam mais seguras, especialmente em programas noturnos. Outro levantamento, realizado pelo aplicativo de viagens Voopter, verificou que 46% das mulheres brasileiras já sentiram medo de viajar somente por serem mulheres, e temerem assédio e outras violências de gênero.

A cartilha foi produzidapara estimular que cada vez mais mulheres caiam na estrada, apresentando estratégias para tornar essa jornada mais prazerosa e oferecendo informações para lidar com inseguranças e medos que, por vezes, são obstáculos na vida das viajantes.

Totalmente ilustrada, a obra tem 20 páginas decoradas com desenhos lúdicos e delicados da artista Eva Uviedo. Nela, também estão contidas dicas práticas para se conectar com pessoas durante a experiência e enfrentar o medo da solidão durante a jornada.