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Laura Fernades
Publicado em 15 de março de 2020 às 05:30
- Atualizado há 2 anos
Esconder as rugas? Nem pensar. Cabelos brancos? Livres e soltos. É assim que vivem as chamadas influenciadoras maduras, já ouviu falar? São aquelas mulheres que exibem as marcas da idade sem o menor pudor. Seja no mundo digital ou no real, essas figuras ocupam cada vez mais os espaços que se alimentam da imagem e inspiram quem quer assumir a velhice com orgulho.
Se o leitor não acompanha o movimento mundial, basta conhecer perfis como o da irreverente americana Bad Winkle (@baddiewinkle), 92 anos, “desde 1982 roubando seus homens”; ou da extravagante designer de interiores Iris Apfel (@iris.apfel), 98, americana cujo perfil no Instagram avisa que “mais é mais e menos é entediante”, em referência ao bordão da moda “menos é mais”.
No Brasil, a agente de segurança Sueli Rodrigues, 70, está entre os principais nomes, com mais de 25 mil seguidores. O curioso é que foi bem por acaso que Sueli foi parar na internet. Não fosse um câncer no estômago, talvez o @blogdasu70 não existisse para alegrar o dia a dia de seus seguidores, “seguimores” ou “netinhos” como se alterna em chamar.
Discreta, a paraibana de nascimento e paulista de criação estava deprimida porque perdeu 80% do estômago. “Estava meio down, por causa de um câncerzinho básico. Me sentindo a magra da magra. Não conseguia engordar com 20% de estômago, né? Então uma amiga perguntou: ‘Su, vamos fazer um blog com suas roupas?’. Aí eu: ‘O que é blog? O que é Instagram?’”, ri Sueli, que tem pouco mais de um ano de rede social.
Bastou a amiga contar sua história para as seguidoras - seu público majoritário - cobrirem Sueli de carinho e aumentarem sua autoestima. Hoje, o famoso “look do dia” é o que domina sua elegante timeline, com fotos na rua, no táxi, na varanda de casa, no estúdio, na festa, na horta da cidade de Itu ou em uma praia paradisíaca. Sueli Rodrigues, 70 anos, virou influenciadora depois de enfrentar um câncer no estômago (Foto: Divulgação) Apesar do glamour natural, Sueli prefere seguir “a linha do bem-estar” e tirar fotos com roupas casuais. “Compro peças a R$ 30, a R$ 19, não sou chique. Gosto da roupa que me faz bem. Se olho no espelho e gosto, é ela que eu visto”, conta Sueli, que chegou a ser reconhecida em uma das lojas que frequenta. “'É a Su modelo! Posso tirar uma foto?'”, lembra, orgulhosa.
Questionada se gosta do sucesso, Sueli solta uma gargalhada gostosa e não esconde a felicidade em ser parada na rua. “Muito! Gosto de ser acessível, sabe? Quando alguém chega perto de mim, agarro mesmo, beijo mesmo! Quer dizer, agora não pode mais, por causa do coronavirus”, completa, rindo.
Velha? Para os que acham que quem tem 60 anos ou mais está velho para o mundo digital, as próprias influenciadoras mandam seu recado. “Imagina! A tecnologia te põe em contato com o mundo, principalmente a partir dos 60, quando você vai se isolando”, defende Sueli. “É quase uma revolução, sabe? Essas pessoas estavam escondidas, invisíveis. De repente, está todo mundo apostando nisso. Até o mercado”, vibra.
A própria Sueli foi julgada “velha para isso”, quando topou entrar no mundo digital. Mas, inspirada em outras mulheres, tomou coragem e seguiu em frente. Entre suas referências, está a produtora de moda Patida Mauad (@pamauad), 61, mineira de nascimento e paulista de coração que depois dos 60 decidiu reinventar sua vida e os 34 anos de profissão. Patida Mauad, 61 anos, fala sobre moda, viagens e gastronomia (Foto: Brunel Galhego/Divulgação) Em seu blog (patida.com) e no Instagram, Patida compartilha ensaios de moda e textos sobre suas viagens Brasil afora. Em uma delas, por exemplo, conta como foi passar dez dias no mar da Bahia com um grande amor, um velejador francês “anti-rede social”. Além disso, É na internet que Patida reforça seu estilo de vida e declara o amor à mãe de 98 anos, com quem “senta no boteco para tomar cerveja até hoje”.
“A mamãe não gosta da cabeça do velho, ela é muito jovem”, conta, orgulhosa, sobre sua referência feminina. Por isso, não suporta quando alguém diz que a internet não é para o público 60+. “Acho cafona isso, você pode fazer e vestir o que quiser. As mulheres estão se fortalecendo uma na fala das outras. Isso gera uma potência incrível!”, comemora Patida.
Mulherada Mesmo ciente de que, no Brasil, o universo das influenciadoras maduras ainda é muito novo, Patida defende o movimento que é tendência mundial. “Escuto de muitas pessoas: ‘mas eu sou invisível’. Então, essa é uma forma de nós, mulheres maduras, nos aproximarmos”, explica.
Patida acredita que, aos poucos, essas pessoas estão se libertando e o mundo está atento. “São pessoas que querem se divertir e que vão viver mais, porque isso também está mudando. Então, o mercado está preocupado com essa faixa etária que está bombando. A gente está virando referência para uma porrada de coisa”, afirma.
Sueli concorda e diz que “a mulherada está se soltando” e tem o que mostrar. “Temos uma vivência. As rugas são de lutas, alegrias, e nós temos uma vontade louca de viver”, defende. “Depois dos 60 é que você começa a viver, sabe? Sem medo de ser feliz, porque muita coisa é reprimida nas mulheres. Quando a gente se olha no espelho e se acha linda, a gente só quer ser feliz. Em todas as idades você encontra beleza”, sorri.
Perfis de mulheres 60+ para seguir no Instagram