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Publicado em 5 de agosto de 2024 às 15:42
Dos 57 países avaliados pelo Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) quanto à criatividade, o Brasil está entre os 15 piores, ficando com 23 pontos - dez abaixo da média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Participaram da última prova alunos de 15 e 16 anos, que responderam ao teste em quatro fases: expressão escrita, expressão visual, resolução de problemas sociais e resolução de problemas científicos. O desempenho dos estudantes brasileiros se iguala ao de países como Peru, Panamá e El Salvador. >
Os resultados divulgados em junho parecem desanimadores para o país, porém, há um caminho para reverter isso: a educação midiática, que tem como uma das bases o desenvolvendo do pensamento crítico, que é uma capacidade essencial para avançar na criatividade. Quem explica isso é o coordenador pedagógico do Instituto Palavra Aberta, Bruno Ferreira. >
Antes de mais nada, vale entender o que o Pisa considera como criatividade: "Competência para se envolver produtivamente na geração, avaliação e melhoria de ideias que possam resultar em soluções originais e eficazes, avanços no conhecimento e expressões impactantes da imaginação". >
Na proposta da educação midiática, a criatividade dos estudantes pode ser aguçada a partir das metodologias ativas. “São propostas educativas em que propomos aos estudantes que eles investiguem a sua realidade, levantem informações, pesquisem e criem coisas. E educação midiática se alicerça nesta perspectiva, como um conjunto de habilidades que favorecem o acesso, a avaliação, a criação e o compartilhamento de produtos e mensagens midiáticas pelos estudantes”, explica o coordenador. Ou seja, a educação midiática é fundamentalmente ativa e, desta maneira, ao propor que os estudantes investiguem fontes de informação, reflitam sobre elas, e também criem mensagens, está contribuindo para o desenvolvimento da criatividade desses jovens. >
De onde vem a escassez da criatividade? >
Se o pensamento criativo é treinável, é importante considerar que historicamente a educação não se preocupou em desenhar essa característica no sujeito. Ao longo do tempo, os processos educativos vem calcados na transmissão de conhecimento do professor para o aluno; de um lado o educador como sujeito da prática pedagógica e do outro, os estudantes como meros ouvintes e receptores do conhecimento. >
“Mais recentemente temos mudado essa perspectiva, mas ainda encontramos muita resistência por parte dos professores que, muitas vezes, já se acostumaram a essa questão de alicerçar a sua aula nesse processo de transmissão de saber, porque também aprenderam que ensinar é isso”, salienta Ferreira. >
Essa desconstrução de paradigmas, inclusive, é preciso ser reforçada também junto aos estudantes que, muitas vezes, chegam à escola, esperando uma aula mais expositiva. Quando o professor propõe um método inovador, que os coloquem na condição de investigadores, de revolvedores de problemas, e de criadores, os alunos tomam um susto, porque também estão acostumados com o modelo tradicional de educação. Tudo isso contribui para o cenário da falta de criatividade. >
Vida Digital >
Não se pode deixar de considerar que jovens e adolescentes vivem hoje no âmbito da cultura digital, onde circulam modinhas, que se reproduzem nas redes sociais, como vídeos rápidos e dancinhas do TikTok, que, por serem divertidas, os estudantes querem copiar. “Nas redes sociais é muito comum que a gente nunca saiba quem é a pessoa que realmente inova e inaugura uma nova trend, porque é tanta gente reproduzindo e copiando, que a gente nunca sabe quem foi o primeiro a elaborar aquilo”, cita Ferreira. >
O uso prolongado de telas gera uma outra condição, que podemos chamar de “preguiça intelectual”, provocada justamente pela exposição a conteúdos muito rápidos, muito imediatos, sem profundidade e sem tempo suficiente para digeri-los e refletir sobre eles. “A criatividade é habilidade que vem de uma experiência, e toda experiência é uma demora atenciosa sobre um determinado fazer. A gente não está se demorando em nada, muito pelo contrário, estamos passando rapidamente pelos conteúdos. Não estamos refletindo sobre eles, estamos realmente sendo muito dominados pelos estímulos das redes sociais e pela sensações que os seus conteúdos nos provocam. Para que a gente desenvolva a criatividade, é fundamental pensar”, ressalta o educador. >