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Terra Afefé: artista baiana cria ‘microcidade’ na Chapada para ensinar arte de conviver

Residência artística em Ibicoara tem proposta de ser cidade ressignificada; entenda

  • D
  • Da Redação

Publicado em 3 de dezembro de 2022 às 05:00

. Crédito: Foot: Divulgação

E se um dia você tivesse a oportunidade de morar numa cidade pensada exclusivamente por uma pessoa? Parece uma ideia assustadora, algo que combinaria bem com histórias distópicas da ficção, mas é pura realidade e não tem nada de amedrontador no projeto comandado pela artista baiana Rose Afefé, 34 anos, a “prefeita” de um lugarzinho na Chapada Diamantina ressignificado pela arte de conviver.

A experiência, da qual várias pessoas pagam para participar, ocorre em Ibicoara, onde Rose recebe visitantes no que chama de microcidade, construída por ela. Os próximos encontros vão acontecer em janeiro, e ainda há vagas. Para entrar na brincadeira, basta se conectar com a artista, que reúne pessoas interessadas em coexistir por alguns dias, livremente, deixar de lado as opressões, julgamentos e rótulos, para viver a arte e a natureza entre as paredes de adobe e as montanhas da Chapada.

Rose organiza programas com diferentes propostas e possibilidades experimentadas por ela, que também vivencia, se surpreende e aprimora a própria obra, a cada encontro que promove. O lugar também pode ser utilizado para desenvolver algum projeto em sintonia com a comunidade local, que a artista descreve como afetuosa, acolhedora e parceira, tendo apoiado o trabalho artístico desde o início.

O site afefe.com.br traz informações sobre a residência artística, e é por lá também que estão as orientações sobre as  vivências que preveem hospedagem, alimentação e atividades por R$ 1.460 (em quarto coletivo) a R$ 3.800 (quarto individual) no programa Coexistir, que ocorrerá de 10 a 20 de janeiro de 2023. Já no programa Reconstruir, entre 23 e 29 de janeiro, os mesmos benefícios ficam por R$ 1.490 (quarto coletivo) a R$ 2.699 (individual)

Segundo Rose, os programas visam convocar “pessoas de diferentes áreas criativas dispostas a revisitar e imergir em suas histórias, conectando práticas e pensamentos sobre arte e vida a partir de memórias compartilhadas”. Ela concede bolsas para pessoas com poucos recursos e negras ou indígenas que podem escrever uma carta de intenção para aplicar à vaga de bolsa parcial. “É o tipo de conhecimento que precisa ser compartilhado com essas pessoas, que também carregam histórias de suas trilhas, caminhadas e ancestrais”, ressalta.

O programa Habitar recebe, mensalmente, entre seis e 10 habitantes temporários para vivenciar individual e coletivamente a microcidade. “É direcionado a pessoas que desejam se aprofundar em um vivo diálogo com a Terra”, explica ela.  Já o programa Coexistir é descrito pela artista como uma proposta de rememorar lugares e momentos das trajetórias individuais que fundamentam os ofícios e modos de existência de cada participante. No Reconstruir, a ideia é aproximar as pessoas do ato de construir, “botar a mão na massa” ou, literalmente, no barro, usando o canteiro de obras como instrumento para explorar a capacidade de “pôr em prática”, de executar e realizar.

Persistência da memória As coleções de lembranças, tanto do lugar, da comunidade local, como das pessoas que passam por ele, é um fio condutor da obra Terra Afefé. Dos desenhos da infância da artista - que já projetavam a cidade que ela queria para si e para os outros -, da casa de adobe pintada com cal onde vivia, até a atitude de articular uma carreira fora de sua cidade natal, Varzedo-BA, tudo faz parte do processo artístico e interno de Rose. Tudo reverbera nas vivências dos participantes, como é possível captar em uma conversa com a artista e a partir da leitura de depoimentos de quem já passou por lá, que podem ser conferidos no website.

Raízes  A obra de Rose se conecta ao que a artista passou a valorizar ao revisitar e compreender suas origens, constantemente rejeitadas por ela própria no passado. Hoje, ela diz que consegue ver toda a beleza que tinha guardada em seu legado familiar e territorial, fortalecendo-se e reencontrando-se com suas memórias durante o processo de realização da Terra Afefé. “Me aprisionaram numa ideia que minha casa, porque era de adobe, era uma casa de pobre, e isso não é pobreza, é inteligência de sobrevivência, mas eu só entendi depois”, conta Rose. “Depois que aprendi a valorizar e a olhar diferente para minhas memórias, que passei a revisitar meus pensamentos e sensações de quando eu era criança, pude ressignificar minha história, valorizar quem eu sou, de onde eu vim”.

A artista resgata muitos momentos de sua vida no trabalho que é fruto da busca por compreender sua existência, o que abriu para ela uma porta de entrada no cenário artístico brasileiro contemporâneo, no papel de protagonista, guardiã de memórias do interior da Bahia e de vestígios das pessoas que se conectam à sua obra. A proposta da residência artística, de uma forma geral, é dar a oportunidade de, naquele lugar, sentir com liberdade as belezas naturais, contribuir com as atividades coletivas, cozinhar e comer alimentos veganos e vegetarianos colhidos ou comprados nas comunidades próximas, se conectar com as pessoas, suas questões e a vida ao redor, com o território, e com as outras práticas artísticas que vão sendo executadas em paralelo por Rose. “No processo de erguer paredes com barro, busco, simultaneamente, uma conexão entre a intuição e o gesto que o corpo e a “terramemória” carregam”, declara.

Exposição A obra Terra Afefé foi indicada ao prêmio PIPA 2022 (premiopipa.com), por um grande corpo de jurados que incentiva artistas contemporâneos em seus primeiros trabalhos. “Ser indicada a esse prêmio, que é uma galeria de artistas contemporâneos do Brasil, é um reconhecimento importante para mim de uma arte difícil de nomear. É uma instalação? É uma escultura? É uma performance? É um movimento vivo? É tudo isso e nada disso. Enquanto arte ela cumpre seu papel de fazer pensar”, diz a artista. 

Um fragmento do trabalho de Rose Afefé, a obra “Paredememória”, está no 32º Programa de Exposições CCSP – II MOSTRA 2022 (centrocultural.sp.gov.br).

Serviço:

O que: Imersão artística Coexistir Quando: de 10 a 20 de janeiro de 2023 - 10 dias   O que: Imersão artística Reconstruir Quando: de 23 a 29 de janeiro de 2023 - 7 dias   O que: Imersão artística Habitar Quando: todos os meses, a combinar, de 6 a 10 dias de imersão   Onde: Ibicoara-BA   Bolsas: vagas de bolsa para pessoas negras ou indígenas com renda familiar de até 2 salários mínimos. Pessoas com poucos recursos e negras ou indígenas podem escrever uma carta de intenção para aplicar à vaga de bolsa parcial. Enviar para: [email protected] (vagas limitadas)   Contatos e mais informações:www.afefe.com.br@[email protected]