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Da Redação
Publicado em 22 de dezembro de 2013 às 16:03
- Atualizado há 2 anos
A família de armênios estava no Líbano e imigrou novamente para o Brasil. Jack Vartanian chegou em São Paulo aos 3 anos. Em casa, cresceu entre pedras e metais preciosos. Tudo que viu ficou na cabeça. “Você vê muita coisa. É como escutar muita música e criar um ouvido mais apurado”. O pai trabalhava com busca e venda da matéria-prima para joalheiros que, na maioria das vezes, copiavam o que já existia. Cansou de ver coisas tão valiosas mal usadas e decidiu fazer as joias ele mesmo. Em 1999, virou designer e hoje, aos 41 anos, é um dos principais nomes brasileiros no mercado mundial. >
Qual é a sua relação com as joias? Eu via o trabalho que a gente tinha para buscar as pedras, o esmero para ter o melhor possível. Buscávamos sempre a melhor lapidação, as pedras mais bem executadas. A gente fornecia para muitos joalheiros e convivia com eles. Poucos eram verdadeiramente artistas. A maior parte levava aquilo como um ganha-pão. Eu decidi fazer diferente. Quando comecei meu trabalho, estava brincando muito com pedras e cores, da forma que eu achava elegante. É preciso ver a cor da pedra, a lapidação, o brilho. A pedra tem que conversar com você. Você tem pedras preferidas? Se eu fosse eleger uma seria o diamante. Mas eu adoro esmeralda, o verde é uma cor que, não sei, tem uma luz bonita. As outras duas pedras que gosto de usar bastante são a safira e o rubi, que são as mais nobres. Mas a que eu mais uso é o diamante e quase sempre ele é o coadjuvante do trabalho. Sua experiência anterior foi importante para o trabalho de designer? Extremamente. Até porque o erro clássico do designer é não saber a prática. Isso é como começar a cozinhar sem conhecer os ingredientes. O designer tem que entender o que é possível fazer no metal, nas lapidações, como elas se encaixam. Tem também a questão do caimento, do vestir, além da seleção das peças e do design, que são importantes. A joia não é uma miniescultura para a vitrine. A verdadeira joia é aquela que incorpora na pessoa, como os cocares que os índios usam. É uma coisa muito mais lá atrás, na minha opinião, remonta a formação da civilização. Você já disse que sua marca quer passar um ‘life style’. Qual é? Da pessoa que quer estar bonita, da mulher que quer estar sexy e não óbvia. Tenho horror a joia muito óbvia. O lema da minha empresa é transformar o óbvio no extraordinário. Sempre tive horror a copiar, me inspirar no trabalho dos outros. Faço cinco, seis coleções ao ano e desenho todas. Esse processo criativo vem do meu conviver com a vida, das situações às quais me exponho. Quais são as características do seu trabalho?É difícil colocar isso em palavras. Mas tem uma certa opulência chique. Nem sempre no tamanho da peça, mas na seleção das pedras. O acabamento é muito importante. Fazer uma joia leve é muito mais difícil. O não óbvio, esse chique, são coisas que se repetem. Algumas joias são mais discretas, talvez, mas sempre tem algum detalhe que as faz brilhar. Eu chamo de disturbing element. E tem peças mais exuberantes como um todo. Sempre tem um pouco de rock’n roll, na cor, no banho. Eu adoro rock, Metallica, Queen, David Bowie. É a atitude rock, fazer diferente, sair do status quo. Meu estilo não é muito romântico.Como é seu processo criativo? Eu não fico amarrado a nenhuma metodologia. Prefiro o que é gostoso, orgânico. Quando uma ideia vem, registro ela no papel. Há alguns anos criei o hábito de andar com bloquinho. O importante é, quando a ideia vem, guardar ela. O processo criativo pode começar em várias situações. Enquanto seleciono uma pedra, ou vejo no restaurante uma mulher com um detalhe no cinto ou na bolsa que remete a alguma forma e daquilo começa uma história. O que faz uma joia ser boa?Acho que é a mesma coisa que faz qualquer coisa ser boa: as formas, a qualidade, o empenho na construção. Escolher pedra é muito parecido com escolher fruta. Você procura a mais bonita, com o cheiro melhor. É um pouco mais óbvio do que as pessoas imaginam. Você começa a perceber quais pedras são mais difíceis de achar pelo tom, por exemplo. Mas com fruta todo mundo convive e sabe mais. Mas escolher pedra é como escolher uma pitanga no pé. Você já sabe, só de olhar, qual é mais gostosa. Em 2010, você disse que em dez anos gostaria de estar desenhando carros. Só faltam seis anos, agora. Tem planos? Ainda não, mas a vontade continua. Quando vejo uma coisa que gosto, penso: “Por que fizeram assim, não de outro jeito?”. Eu penso em como agregar ao design. Ainda não pintou nenhuma oportunidade. Mas preciso de tempo também para me expor a essa situação. Mas, com certeza, uma hora vai aparecer um convite.>