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Doris Miranda
Publicado em 7 de outubro de 2025 às 06:00
Se você disser que eu desafino, amor. Saiba que Bossa Nova, o terceiro volume da coleção MPQ - Música Popular em Quadrinhos, já chegou às livrarias. E a editora Brasa fez um trabalho de primeira, sem perder o tom em nenhuma nota. A parceria com o Programa Brasil em Quadrinhos segue priomorosa, como a obra de Tom e Vinicius, apresentando oito histórias em quadrinhos originais inspiradas em alguns dos maiores clássicos da bossa nova, ilustradas por nove artistas da cena brasileira, como Laura Athayde, Helena Cunha, Cora Ottoni, Alexandre S. Lourenço, Carol Ito, Juliana Russo, João Lin e Samanta Flôor. >
O estilo musical que combina elementos do jazz e samba, é considerado um marco da mescla cultural brasileira. Os quadrinistas se inspiraram em canções como Desafinado, Mas que Nada, Retrato em Branco e Preto e Águas de Março para criar histórias em quadrinhos originais. >
Bossa Nova - coleção Música Popular em Quadrinhos
As músicas são recriadas com tanta poesia quanto humor - e zero obviedade. A história que abre o livrinho é exemplo disso. Sai de cena o drama sobre solidão e desejo de Eu e a Brisa (1967), do precursor Johnny Alf, e entra na mira do leitor a trama criada por Laura Atahyde, que apresenta a imaginação da menina Catarina. Na espera pelo pai, sozinha no pátio da escola, ela encontra companhias inusitadas para matar o tempo.>
Juliana Russo narra o itan de Ossaim, orixá das folhas sagradas, através da melodia de Canto de Ossanha (1966), o mais clássico dos afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes. O dia a dia de um prédio de apartamentos, ligado pelos afazeres de um único zelador, é o pano de fundo para a releitura que Lielson Zeni e Samanta Flôor deram para Samba de Uma Nota Só (1961), de Tom Jobim, Newton Mendonça e Herbie Mann. A ideia aqui é mostrar o lado mais ordinário da vida, as realizações que as pequenas variações do existir permitem.>
Em Desafinado, Helena Cunha apresenta uma história de amor LGBT, supostamente desajustada, desenhada com uma simplicidade desconcertante, mas tão refinada quanto a música de Tom Jobim e Newton Mendonça, de 1958. Uma das artistas mais legais da atualidade, a premiada Carol Ito assina uma versão para Retrato em Preto e Branco (1967), de Tom Jobim e Chico Buarque, canção que nasceu instrumental e depois ganhou uma letra que versa sobre os desvarios de um amor que nasceu para dar errado. >
O Brasil aparece inteiro, em cores vibrantes, otimismo de um sambinha bom e alto astral desencanado dos vira-latas caramelo, na versão de Cora ottoni para Mas Que Nada (1962), de Jorge Ben Jor. Momentaço do livro.>
SAMBA>
A coleção MPQ é uma parceria da Editora Brasa com o Programa Brasil em Quadrinhos, iniciativa da Bienal de Quadrinhos de Curitiba, do Instituto Guimarães Rosa e do Itamaraty. O projeto tem como objetivo difundir os quadrinhos brasileiros no exterior e apoiar o ensino do português como língua estrangeira em escolas ao redor do mundo. Os volumes anteriores — Grandes Sucessos (esgotado) e Samba (ainda disponível) — receberam destaque por aliar memória afetiva musical com narrativas visuais potentes. >
Fundada em 2021, a Brasa foi finalista do Prêmio Jabuti 2022 na categoria Quadrinhos com Brega Story, semifinalista da edição de 2023 com Barrela. Em 2024, duas publicações entraram na lista: Grandes Sucessos foi semifinalista e Damasco, finalista.>
Os artistas e seus clássicos: >
Laura Athayde – Eu e a Brisa, de Johnny Alf>
Helena Cunha – Desafinado, de Tom Jobim e Newton Mendonça>
Cora Ottoni – Mas que Nada, de Jorge Ben>
Alexandre S. Lourenço – Chega de Saudade, de Tom Jobim e Vinicius de Moraes>
Carol Ito – Retrato em Branco e Preto, de Tom Jobim>
Juliana Russo – Canto de Ossanha, de Vinicius de Moraes e Baden Powell>
João Lin – Águas de Março, de Tom Jobim>
Lielson Zeni e Samanta Flôor – Samba de Uma Nota Só, de Tom Jobim, Newton Mendonça e Herbie Mann>