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Brenda Viana
Publicado em 18 de março de 2024 às 06:00
Os acordes da guitarra baiana são reconhecidos a léguas de distância por aqueles que amam esse instrumento musical único e especial para os baianos. Em meio a uma tarde de muito calor em Salvador neste domingo (17), o Largo Quincas Berro D'Água, Pelourinho, ferveu com o evento Brasil Guitarras - Especial Guitarra Baiana, que reuniu dez representantes da guitarrinha para uma apresentação que estava sendo organizada há mais de três anos. >
Segundo a produtora Tereza Rolemberg, proprietária do Bra.sil Arte e Cultura, a vontade de juntar grandes guitarristas baianos já estava sendo organizada desde a primeira reunião que fez em 2017, no Farol da Barra.>
“São três anos que estou lutando para realizar esse evento. Veio a pandemia, atrapalhou demais, desisti por um tempo, e agora consegui patrocinadores para nos ajudar a colocar essa reunião para frente. O projeto está dando certo, principalmente porque Armandinho, meu grande amigo, abraçou a minha ideia”, explicou. >
Considerado o maior nome da guitarra baiana no mundo, Armandinho Macêdo entendeu que o evento precisava ter um destaque maior, principalmente por Salvador ser o berço do instrumento, que nasceu como Pau Elétrico nos início dos anos 1940:>
“A guitarra tem esse diferencial no país, né? Então, fazer esse evento é manifestar a cultura na Bahia, é mostrar que o instrumento que eu dei o nome precisa ser respeitado. A Bahia mudou a história do Brasil no quesito musical, portanto, é importante que a gente repasse para as próximas gerações que a guitarra baiana vai estar aqui para seguir em frente, principalmente entre as mulheres”.>
E falando em mulheres, duas delas estavam ontem no palco: Thathi e Patty Kiss. Elas reforçaram a importância de mais participações femininas em eventos majoritariamente masculinos. “É uma luta constante, tendo que se impor. Fazer música instrumental já é difícil, ainda mais sendo mulher. Um mercado que é restrito demais e tendo que me encaixar no ambiente masculino fica mais complicado, então, cada degrau que a gente alcança assim é uma satisfação sem fim”, comemorou Patty. >
Cantora, compositora e guitarrista, Thathi não deixou de agradecer pelo reconhecimento: “Ser mulher é tentar entrar em espaços que deveríamos estar há muito tempo, principalmente no ambiente musical. A desigualdade é tamanha e somos invisibilizadas constantemente. O evento Brasil Guitarras está aí para mostrar que podemos aparecer ainda mais. Que outras meninas possam subir nesse palco futuramente”. >
Armandinho fez questão de frisar que mulheres musicistas são extremamente importantes. Para o artista de 70 anos, a percepção delas na música baiana, principalmente, na guitarra baiana, que nasceu aqui, é necessária para ecoar pelo Brasil inteiro: “Para essa amostra desse instrumento que reflete tanto a musicalidade baiana, onde se originou o trio elétrico, estar com mulheres que sabem de tudo na música é indispensável”.>
Brasil Guitarras
Além de Julio Caldas, Armandinho, Thathi, Patty Kiss, Morotó Slim, Aroldo Macêdo, Fred Menendez, Ricardo Primata, Fred Menendez e Sávio Assis, estava lá também Eric Assmar. Ele é filho do também guitarrista Álvaro Assmar, um dos maiores bluesman da história da Bahia, morto em 2017. >
“A gente vive em um lugar muito diverso culturalmente e, dentro dessa diversidade, a gente tem a guitarra elétrica como uma parte fundamental de muito do que se criou da música popular baiana contemporânea”, disse Eric, elogiando a miscigenação dos ritmos musicais que desembarcam em Salvador ou que foram criados por aqui.>