Jornalista revira história da família e descobre antepassados escravocratas

Helena Vieira é autora de Jussiape, a Cidade Onde Nada Acontecia

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Publicado em 18 de novembro de 2023 às 05:00

Helena Vieira
Helena Vieira Crédito: Renato Parada/divulgação

No início do filme Django Livre (2012), de Quentin Tarantino, negros escravizados, com os pés acorrentados, se arrastam ao lado de dois homens brancos, confortavelmente sentados, cada um em seu cavalo. O que você faria - e sentiria - ao descobrir que seus antepassados fizeram algo como aqueles escravizadores?

A jornalista baiana Helena Vieira só descobriu esse passado de sua família quando revirou o Arquivo Público do Estado da Bahia, em busca de suas origens e resolveu escrever o livro Jussiape, a Cidade Onde Nada Acontecia (Ed. Folhas de Relva/ 234 págs./ R$ 59). "Meu pai nunca havia comentado sobre isso [o uso de mão de obra de escravizados na família]. Tomei um choque".

O episódio que mais a impressionou foi quando descobriu que o trisavô Sabino, em 1877, mandou uma escravizada da Bahia para São Paulo, onde seria comprada por cafeicultores de lá. Foi aí que Helena lembrou da cena do filme: a mulher viajou 1,3 mil quilômetros a pé e acorrentada.

"Tornar isso público foi, para mim, uma educação. Laurentino Gomes [autor do livro Escravidão] diz que era 'normal' a escravidão. Então, tive que pensar: será que eu naquela época não usaria mão de obra de escravizados? E não precisei ir longe: sempre fui servida por empregadas domésticas que ganhavam muito pouco. Então, não julguei meus antepassados como piores que outras pessoas. Mas foram cruéis e desumanos com essa moça", reconhece.

Mas o livro de Helena vai além da escravidão e faz um registro mais amplo do passado de sua família. Para isso, ela foi a Jussiape, na Chapada Diamantina, onde viva o pai dela, Raimundo. Lá, conversou com moradores que conheciam seus parentes, incluindo pessoas já quase centenárias.

Não espere, no entanto, que o livro seja apenas um registro familiar. Jussiape, a Cidade Onde Nada Acontecia, vai bem além disso e conta um pouco da história de 200 anos do Brasil a partir de seis gerações que foram pesquisadas pela autora.

O livro é também um importante registro sobre os movimentos migratórios, fundamentais para a formação do Brasil: "Meu avô Solon, num imenso sacrifício, saiu com os filhos de Caetité para Salvador, numa viagem no lombo de burro por dois dias. Depois, pegou trem de carga e barco para chegar a Salvador. Tudo isso, para dar oportunidade de educação aos filhos", diz Helena.

Alice Caymmi em voz e violão

Alice Caymmi apresenta neste sábado (18), no Teatro Sesc Casa do Comércio, às 20h, o show Kali. No espetáculo, em formato voz e violão, a cantora e compositora carioca - neta de Dorival Caymmi - mostra faixas da sua discografia como A Estação e Louca, além de composições inéditas. Há ainda versões de outros artistas, como Hentai, da popstar espanhola Rosalía. Durante a apresentação, Alice fala sobre sua vida e carreira com o público, em tom intimista. Ingressos à venda no Sympla e no local, por R$ 100 (inteira) e R$ 50 (meia).

O cartola mais controverso da história

Não há dúvida: Eurico Miranda foi o cartola mais polêmico da história do futebol. E, se você tem alguma dúvida, vá logo assistir à série documental A Mão do Eurico, com os cinco episódios já disponíveis no Globoplay. A produção começa mostrando a ascensão da popularidade do dirigente do Vasco da Gama, quando conseguiu repatriar um dos maiores ídolos do clube, Roberto Dinamite. No episódio seguinte, estão os bastidores de uma das transações mais midiáticas da história do futebol brasileiro: a ida de Bebeto para o Vasco, vindo do arquirrival Flamengo. E, claro, não falta a briga dele com a Globo, quando, para jogar uma final de Campeonato Brasileiro, ele colocou na camisa de seus jogadores o escudo do SBT. E a emissora de Roberto Marinho foi obrigada a fazer a transmissão mostrando a marca da rival. A decadência dele - especialmente depois da queda de um alambrado no estádio do Vasco - também está na série, assim como o seu retorno à presidência do clube, num mandato longe das glórias do passado.