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Roberto Midlej
Publicado em 12 de setembro de 2024 às 06:00
Nesta quinta-feira, 12, a partir das 18h30, Salvador receberá a masterclass do historiador de cinema Noel Herpe na sala de arte Cinema do Museu, localizada no Museu Geológico - Avenida Sete de Setembro. O evento será dividido em dois momentos: inicialmente, será exibido o média-metragem "É o Homem", seguido por uma palestra baseada no novo livro de Herpe, “Travestissons-nous”. O foco será uma análise crítica sobre a imagem das travestis no cinema e seus impactos sociais, especialmente relevante diante dos alarmantes índices de violência contra a população LGBTQIAPN+. >
Noel Herpe, renomado por sua contribuição acadêmica e vasta trajetória no cinema, trará uma retrospectiva histórica das representações cinematográficas das travestis, buscando desconstruir estigmas e promover novos olhares sobre performatividades fora do padrão heteronormativo e cisgênero. O evento é apoiado pela Embaixada da França no Brasil e pelo Governo da Bahia através da Lei Paulo Gustavo, destacando-se como uma oportunidade única para explorar a diversidade na sétima arte.>
Herpe, além de historiador, é cineasta, ator e crítico de cinema, com contribuições em diversas publicações renomadas. Com um DEA em literatura moderna e doutorado em estudos cinematográficos, ele é professor na Universidade de Paris - VIII e já lançou mais de trinta livros, incluindo biografias aclamadas como “Eric Rohmer”. Sua presença na masterclass reforça a importância do evento para o cenário cultural e acadêmico de Salvador.>
A realização é da Santa Luzia Filmes, produtora audiovisual de Salvador reconhecida por seus lançamentos nas principais plataformas e salas de cinema, como os premiados "A Coleção Invisível" e "Sem Descanso".>
Entrevista com Noel Herpe>
O senhor acompanha a produção brasileira de cinema LGBTQIAPN+? Se acompanha, pode citar alguns filmes que lhe chamaram a atenção e por que os destaca?>
Meu trabalho se concentra na representação de travestis no cinema francês, inglês e americano. É uma área com a qual estou mais familiarizado como historiador e que, curiosamente, raramente foi considerada sob esse ângulo. Isso dito, sou sensível à figura da travesti como figura-chave do cinema brasileiro, sejam elas pessoas reais (Madame Satã) ou personagens fictícios, rompendo com a tradição patriarcal (O Beijo da Mulher Aranha) e embaralhando as cartas do relacionamento entre os homens. >
Pode fazer um breve resumo sobre o seu livro "Travestissons-nous"?>
Com base em minha experiência pessoal, estou tentando explorar os diferentes modos de travestir-se em filmes de longa-metragem, desde a era silenciosa até os dias atuais. O homem que se veste de mulher geralmente o faz para provocar o riso (no vaudeville) ou para brincar de morte (no burlesco). Mas, ao longo do caminho, em filmes como "Quanto Mais Quente Melhor » e "Tootsie", o ato de se vestir de mulher assume uma dimensão iniciática que vai muito além do disfarce. É uma descoberta do outro dentro de si, um questionamento da identidade. Trocar de roupa envolve a pessoa como um todo.>
Do que trata o filme "É o Homem", que será exibido antes da sua palestra e por que ele foi escolhido?>
Esse filme é sobre um homem comum que tenta se travestir em público. Eu queria que a excentricidade do seu vestimento levasse a uma experiência mais profunda. Ao se livrar de suas roupas masculinas, o personagem que interpreto ganha acesso a uma humanidade que transcende as pobres fronteiras entre homem e mulher. Esse é obviamente o significado do título, que, no entanto, não deve se limitar a uma leitura estritamente cristã.>
Qual a importância do cinema no combate à violência contra a comunidade LGBTQIAPN+? Filmes que abordam este tema realmente ajudam a combater o preconceito?>
Meu filme retrata exatamente essa violência, que é direcionada, no sentido mais amplo, a qualquer indivíduo que tente se expressar fora das regras. Acho que é mais interessante responder à violência com imagens poderosas do que com boas intenções.>