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Roberto Midlej
Publicado em 25 de setembro de 2024 às 06:00
Sim, sabemos que batizados não são o programa mais divertido nem descontraído para ninguém. E, na verdade, muita gente arruma uma desculpa para faltar a esse ritual religioso, que às vezes acontece numa manhã de sábado ensolarada e você prefere ir à praia tomar uma cervejinha. Mas que tal ir a um batizado diferente, num teatro e, além disso, divertido? >
Pois é assim que começa a peça Compadre de Ogum, que está voltando a cartaz amanhã e fica até o dia 23 de outubro, no Espaço Cultural Barroquinha. O público chega e é recebido por um sacristão interpretado pelo ator Amós Heber, que realiza improvisos, como se estivesse nos anos 1950, época em que se passa a história baseada criada por Jorge Amado. Originalmente, o texto foi publicado originalmente como um dos relatos do romance Os Pastores da Noite.>
A montagem volta a cartaz para celebrar dez anos de sua estreia e também uma década de fundação da Aláfia Cia. de Teatro. Compadre de Ogum conta a história do biscateiro Massu das Sete Portas, um homem negro que pretende batizar seu filho numa igreja católica. Há, no entanto, um detalhe que pode complicar o desenrolar da cerimônia: o padrinho escolhido é um orixá, Ogum. Mas, afinal, uma entidade do candomblé pode batizar uma criança em uma igreja católica?>
“A peça fala da convivência de credos distintos em Salvador e um dos motivos que faz o texto permanecer interessante é a reflexão sobre tolerância religiosa e o convívio respeitoso [entre pessoas de religiões diferentes]”, observa o diretor Edvard Passos, responsável também pela dramaturgia da montagem. >
Edvard acrescenta que o texto é também uma lição sobre como viver harmonicamente e de maneira solidária numa comunidade: “Massu faz parte de uma confraria que resolve questões comunitárias, onde as pessoas se dão as mãos para resolver os problemas. E o problema que eles precisam resolver é como batizar na igreja católica, sendo que o padrinho é um orixá”. O diretor cita uma frase de Makota Valdina, para lembrar da importância desse convívio harmonioso numa comunidade: “Minha mãe é do tempo em que vizinho era parente”, dizia a sacerdotisa religiosa.>
Um dos personagens mais solidários a Massu é seu amigo Pé de Vento, interpretado por Danilo Cairo. “Ele é um dos amigos que ajuda a viabilizar o batizado. Me interessou muito fazer o Pé de Vento, por causa do humor dele, é um personagem divertido, com uma loucura própria, que enxerga soluções à frente das outras pessoas”, diz Danilo. >
Boa parte da peça se passa dentro do bar de Isidro, onde os personagens se reúnem para bater um papo e também para tentarem resolver o impasse do batizado. “O bar é o grande ponto de encontro dos ‘pastores’, que formam uma confraria. Juntos, com um pouquinho de cachaça, eles se reúnem para resolver os problemas. São bastante pobres e têm amizades muito verdadeiras. Não importa de onde venha o dinheiro, eles vão dar um jeito de resolver o problema”, observa Danilo.>
Há dez anos, quando estreou, Compadre de Ogum foi apresentada dentro da Igreja de Santana, no Rio Vermelho. “Aquele local era ótimo, porque era cercado pelos bares do Rio Vermelho. E o bar é um espaço fundamental da peça. Além de tudo, tinha Jorge Amado e Zélia Gattai sentados naquele banquinho ali perto”, observa Edvard, se referindo à estátua do casal que fica no Largo de Santana. A montagem já esteve também no Vila Velha e na Casa de Castro Alves, no Pelourinho. Agora, retorna à Barroquinha, onde também já foi exibida.>
“O Espaço Cultural Barroquinha tem uma acústica melhor, cabe mais gente com mais conforto. Além disso, ali perto foi criado o primeiro grande candomblé urbano, que é o candomblé da Barroquinha. Então, é um espaço que dialoga com o espetáculo”, defende Edvard.>
Serviço:>
Compadre de Ogum. Sessões às 19h, nos dias 26, 27, 28 e 29 de setembro e 10,11,12 e 23 de outubro. Espaço Cultural Barroquinha. Ingressos: R$ 30 | R$ 15.>