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Luiza Gonçalves
Publicado em 26 de janeiro de 2024 às 05:00
O amor e a dedicação a serviço da música baiana impressiona quando se trata de Sarajane. Quando a primeira musa da axé music eternizou na memória de baianos o hit A Roda, eu, por exemplo, estava longe de ser um projeto, mas conheço a música como se tivesse pulado o carnaval de 86. Ao longo de 40 anos de carreira, a cantora abriu caminho para uma geração de artistas, expandiu a música feita na Bahia para todo o Brasil e, continua sendo incentivadora de novos talentos e performer cheia energia. >
Dona de um currículo extenso, Sarajane começou na música aos 12 anos como cantora de jingles. Aos 14 já era vocalista do trio elétrico Novos Bárbaros. Aos 16 conheceu Chacrinha quando ele visitou Nazaré das Farinhas, sua cidade de origem, e a partir deste encontro realizou diversas participações no Cassino do Chacrinha, promovendo a Bahia e sua música. De lá para cá, são quatro décadas de carnaval, 15 álbuns e o prêmio de melhor cantora de trio nos anos de 88 ,89, 90 e 91. Pioneira, defende a importância do legado da axé music e luta pelo seu registro oficial enquanto Patrimônio Histórico e Cultural de Salvador. >
Hoje, Sarajane inicia seu pré-carnaval com o evento Bailinho Axé Pra Você - O Som do Bicentenário, que acontece às 19h, no Largo Tereza Batista, Pelourinho, com participação de Aila Menezes, Gilmelândia, Amanda Santiago, Márcia Castro, Nininha Problemática e Victor Rocha. Os ingressos serão trocados por dois quilos de alimentos não perecíveis, revertidos para a campanha Bahia Sem Fome. >
Qual a sensação de comemorar esses 40 anos cantando nos carnavais?>
A sensação é maravilhosa. Olhando para trás, foram muitas histórias, muitos carnavais e muitas conquistas. O carnaval de Salvador é um grande palco. >
O que o público pode esperar do Bailinho Axé Pra Você? >
O Bailinho Axé Pra Você - O Som do Bicentenário faz uma homenagem às mulheres guerreiras da Independência. O público pode esperar algo muito massa, porque vai ser uma discoteca anos 90, com gente bacana. >
Qual sua avaliação da evolução da música baiana nesses anos de atuação e como você se insere neste cenário? >
A música baiana vem se modificando a cada ano, trazendo células novas. Hoje, a gente tem uma galerinha jovem, que é das comunidades, com o ainda tambor presente. Fico muito feliz de ver essa transformação. Tanto que, esse ano, regravei A Roda com Nininha Problemática e com o DJ Xirita. >
Como você enxerga o protagonismo da mulher na história da axé music? >
O protagonismo da mulher em qualquer estilo é muito forte, porém, com pouco acesso. Você ainda vê que os homens dominam mais... Mas hoje tem o movimento das mulheres no pagode, né? As mulheres tomaram consciência do quão importante é a voz feminina como luta.>
No que se transformou a axé music?>
As pessoas têm mania de falar que a axé music morreu. Eu acho que tudo que se faz na Bahia é axé nusic porque axé music é uma mistura de células e tá aí muito forte. Vê o BaianaSystem, por exemplo. Fico feliz quando vejo Attooxxa, Alinne Rosa, cantando minha música. A axé music tá viva para caramba; o Sul e o Sudeste consomem axé o ano inteiro, E temos que ter cuidado para a axé music não ser registrada como patrimônio cultural da humanidade no Rio, como o acarajé foi (risos). >
Tem algum artista da nova música baiana que chame sua atenção?>
Procuro ver a música, o estilo, o que traz de informação, de resistência. Tem Attooxxa, Afrocidade, O Kannalha, Márcia Castro e Ju Morais. É muita gente boa que tá pintando aí, só que as pessoas ficam vendo mais o lado preconceituoso. Claro que tem muita música explícita. O que pude analisar enquanto pesquisadora nas minhas lives foi enxergar que essa música chama atenção para resistência: ‘Ó, estamos aqui não somos invisíveis’. >
O que podemos esperar das próximas décadas de Sarajane?>
Quero abrir a roda pelo menos, se eu ficar bonitinha, até uns 70, depois quero descansar. >