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Alan Pinheiro
Publicado em 29 de agosto de 2024 às 06:00
Uma história de investigação com crimes sendo resolvidos enquanto se estabelece uma relação complexa entre o protagonista e o assassino. Essa é a premissa de Longlegs, filme que chega aos cinemas brasileiros nesta quinta-feira (29) com um show de atuação da dupla de atores principais e uma história de terror que mistura ocultismo e rock’n’roll numa experiência em busca do desconforto. >
Na trama, a agente do FBI Lee Harker (Maika Monroe) é convocada para reabrir um caso arquivado de um serial killer chamado de Longlegs (Nicolas Cage). Conforme desvenda as pistas deixadas nas cenas dos crimes, Harker se vê confrontada com uma conexão pessoal inesperada com o assassino, lançando-a em uma corrida contra o tempo, onde o sobrenatural está escondido nos detalhes.>
O aspecto principal do filme são as interpretações da dupla principal. Maika Monroe entrega uma personagem se redescobrindo, em uma atuação que mistura desde uma postura estéril a um olhar desesperado, sem exageros ou maneirismos que desrespeitem o estado psicológico da agente. No entanto, é Nicolas Cage quem toma os holofotes para si. O ator encontra uma nova persona no assassino. Enquanto está na tela, todo o brilho é direcionado à figura bizarra e macabra do maníaco.>
O próprio Cage revelou em entrevistas que sua mãe, Joy Vogelsang, foi uma das principais inspirações para a construção de Longlegs. A fixação do serial killer pela cor branca veio de uma experiência vivida quando o ator tinha dois anos e se assustou ao ser encarado pela mãe com o rosto coberto de creme. Além do visual, ele acrescentou que o diagnóstico de depressão e esquizofrenia dela também o inspirou.>
“Ela falava em termos que eram quase poesia. (...) Tentei colocar isso no personagem de Longlegs, porque ele é uma entidade trágica. Ele está a mercê dessas vozes que estão falando com ele e o forçando a fazer essas coisas”, disse Cage, em entrevista à revista Entertainment Weekly.>
Altas expectativas foram criadas pelo marketing em torno da caracterização do ator ter levado o coração da atriz principal a 170 batimentos por minuto. Apesar de uma palidez que se estende por todo o corpo do personagem e dá o tom incômodo do filme, a imagem de Longlegs não surpreende por si só. O diferencial é justamente quem está por trás da maquiagem, já que Cage é uma carta na manga para provocar tensão pelo diretor Osgood Perkins, filho de Anthony Perkins, o Norman Bates do clássico Psicose, de Alfred Hitchcock.>
Desconforto na tela >
Se o ator acerta ao gerar o desconforto pedido pela trama, a direção compõe esse sentimento com enquadramentos pouco usuais e escolhas propositadamente equivocadas para criar angústia. Exemplo disso é o excesso de simetria nos cenários e o uso de uma câmera grande angular (para captar imagens panorâmicas) em espaços fechados. As escolhas ajudam a criar uma atmosfera de enclausuramento. Além disso, sequências de flashbacks e detalhes que indicam a presença do mal são inserções que aumentam a imersão.>
A construção da trama se inspira em casos reais e em outros filmes do gênero, a exemplo do alfabeto codificado usado pelo assassino do Zodíaco - as dinâmicas entre personagens são influenciadas por obras como O Silêncio dos Inocentes (1991) e Seven (1995). >
Em Longlegs, elementos ocultistas e satanistas ganham importância na investigação de Harker e se misturam com a “má fama” do rock, frequentemente relacionado com o culto ao diabo. O rock, inclusive, que assume importância na personalidade do antagonista, com as constantes referências ao glam-rock dos anos 70. Principalmente, o produzido pelo T. Rex, que possui três músicas na trilha, além de abrir o filme com versos de Bang a Gong (Get it On). >
Se Longlegs é competente em criar atmosfera de horror psicológico, o último ato escorrega na crescente de tensão construída pelo diretor ao apostar em uma sequência exageradamente expositiva. Pelo final agridoce e pelo “banho-maria” de terror ao longo de suas quase duas horas de duração, espera-se que a opinião pública se divida. Mesmo com os poréns, o todo termina se destacando ao fechar a experiência sem se render a sustos fáceis e valorizar a construção do medo. >
Quando as luzes do cinema apagarem e o filme começar, a certeza é que angústia não vai faltar.>
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