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Da Redação
Publicado em 5 de agosto de 2022 às 15:06
- Atualizado há 2 anos
O corpo do humorista e apresentador Jô Soares é velado nesta sexta-feira (5), em São Paulo, em cerimônia restrita para familiares e amigos. Ele morreu na madrugada de hoje, no Hospital Sírio Libanês, aos 84 anos.>
Jô estava internado no hospital na capital paulista desde o final de julho. A família decidiu não informar a causa da morte. >
Segundo a Quem, prestaram as últimas homenagens a Jô Soares amigos como Regina Braga e Drauzio Varella, o maestro João Carlos Martins, Tiago Leifert e Daiana Garbin, Zelia Duncan, Juca de Oliveira e a ex-esposa do apresentador, Flavia Pedras Soares. >
Flavia usou as redes sociais para informar a morte de Jô. "Faleceu há alguns minutos o ator, humorista, diretor e escritor Jô Soares. Nos deixou no hospital Sírio Libanês, em São Paulo, cercado de amor e cuidados. O funeral será apenas para família e amigos próximos", escreveu, se referindo a ele como seu "amor eterno". "Viva você, meu Bitiko, Bolota, Miudeza, Bichinho, Porcaria, Gorducho. Você é orgulho pra todo mundo que compartilhou de alguma forma a vida com você.">
Jô e Flavia foram casados de 1987 a 1998. Ele também foi casado com Therezinha Austregéliso, com quem teve o filho Rafael, que faleceu em 2014. Além disso, foi casado com a atriz Silvia Bandeira, de 1980 a 1983. >
Vida artística Nascido José Eugênio Soares em 16 de janeiro de 1938, Jô Soares estudou em Lausanne, na Suíça. Pensava em ser diplomata e aprendeu várias línguas, o que lhe deu sólida formação cultural e intelectual. Viu televisão pela primeira vez em 1952, nos Estados Unidos, e começou a trabalhar no veículo seis anos depois, aos 20, escrevendo e atuando nas peças policiais de TV Mistério, programa da TV Rio protagonizado por Paulo Autran, Tônia Carrero e Adolfo Celi.>
Mas só seria apresentado ao público como comediante pouco tempo depois, na TV Continental, e a capacidade de fazer rir o levaria a todos os canais de TV do Rio de Janeiro na época. Em 1960, substituiria José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, a convite do próprio, na redação do Simonetti Show, da TV Excelsior. Já na Record, em 1966, escrevia e atuava no lendário Família Trapo, sitcom que depois inspiraria tantas outras e faria a glória de Ronald Golias, Renata Fronzi, Renato Corte Real e Zeloni, além do próprio Jô.>
A redação era dividida com Carlos Alberto de Nóbrega, com quem combinava as cenas que caberiam a um e a outro, cada um na sua casa. Quando se encontravam, juntavam as duas partes e todo o enredo se encaixava perfeitamente, sem necessidade de ajustes.>
Depois de ensaiar por algumas vezes sua saída da Record, Jô estrearia na Globo em 1970. "Eu queria um programa de humor com uma nova cara", relata Boni, ex-chefão da emissora, em seu livro de memórias, O Livro do Boni. E continua: "Tinha um nome pronto na cabeça: 'Faça Humor, não faça a guerra'. Havíamos contratado também o Renato Corte Real e o incluímos no projeto. As reuniões se sucederam com o Augusto César Vanucci, o Jô, o Renato, o Haroldo Barbosa, o Max Nunes e o João Lorêdo.">
O horário era o das noites de sexta, na vaga que antes cabia a Dercy Gonçalves. E, se Dercy alcançava, naquela época, 60% dos lares com televisão, Jô bateu nos 70% e Boni foi celebrado até pelo patrão, Roberto Marinho. "Faça Humor, não Faça a Guerra" ficou por três anos no ar e foi substituído por Satiricom, que durou mais três anos, sucedida por "Planeta dos Homens", que seguiu liderando a audiência pelos cinco anos seguintes.>
Foi em 1981, ainda segundo o próprio Boni, que Jô sugeriu que já fosse hora de ter um programa todo seu. Nasceu daí o Viva o Gordo, que lançou personagens lendários, alguns deles atuais mesmo hoje. Com maquiagem e figurino a caráter, Jô fez barulho como o Capitão Gay e Norminha, entre outros.>
Em 1987, Jô pleiteou à direção da Globo, ainda na figura de Boni, um talk show. Não houve acerto e ele se mudou para o SBT, levando consigo seu fiel redator Max Nunes e também o programa humorístico, lá rebatizado como Veja o Gordo. Boni o ameaçou, chegou a dizer que ele não poderia usar a palavra "gordo", e Jô respondeu com um longo e bem argumentado texto no Jornal do Brasil, lido também durante o Programa Silvio Santos, já seu novo patrão.>
Anos depois, os dois retomariam a amizade. "Gritei, fiz ameaças, mas prevaleceu o carinho que sempre tive pelos dois (Jô e Max Nunes)", relata Boni. "Porém, profissionalmente, comprei a briga Criei a sessão de cinema Tela Quente, que incinerou o Veja o Gordo, fazendo com que o programa saísse do ar", completa.>
Sem o humorístico, Jô passou a se dedicar integralmente ao programa de entrevistas, que cresceu, apareceu e se tornou referência do gênero na TV brasileira, mesmo que cenário e formato em muito lembrassem a matriz americana, com Johnny Carlson, da poltrona à caneca. Entre 91 e 92, foi uma das vitrines mais fortes para a crise política que levaria o então presidente Fernando Collor ao impeachment, e essa postura seria cobrada do programa por todas as ocasiões seguintes em que a política merecesse foco prioritário.>
Em 2000, Jô voltou para a Globo, com o mesmo talk show e estrutura melhor de cenário e equipe. Junto, levou seu quinteto, que anos depois se tornaria sexteto, os diretores Diléa Frate e Willen Van Verelt, e, de novo, Max Nunes, amigo que perdeu em junho de 2014.>
Desde sempre, sua trajetória televisiva foi acompanhada de expediente permanente no teatro, dirigindo outros ou, durante um bom tempo, montando seus próprios espetáculos, precursores que foram - no caso dele e de Chico Anysio - dos chamados stand up de hoje.>
Também se debruçou sobre a produção literária, ao criar livros como O Astronauta Sem Regine, O Xangô de Baker Street!, que virou filme, O Homem que Matou Getúlio Vargas e Assassinato na Academia Brasileira de Letras. Esteve em clássicos do cinema como O Homem do Sputnik, de Carlos Manga, ao lado de Norma Bengel.>
Vida pessoal Jô teve algumas mulheres. Foi casado com Teresa Austregésilo, apresentadora da TV Tupi, com Flavinha, que viria a se tornar sua melhor amiga, e namorou as atrizes Cláudia Raia e Mika Lins. Deixa um filho.>
Já de volta à Globo, foi acusado, por longo período de falar mais que o entrevistado, o que contestava. Foi vítima do quadro Sandálias da Humildade, do Pânico, e não era exatamente conhecido por sua simpatia. Não que não fosse simpático. Era, e sabia como seduzir seus interlocutores com seu vasto repertório. E não negava algum egocentrismo, vá lá.>
Em 2000, quando atendeu ao convite de Boni para escrever um depoimento para o livro 50/50 (Ed. Globo), organizado para celebrar os 50 anos da TV, registrou lá: "Devo confessar que me senti lisonjeado quando fui convidado para integrar este projeto, mas, sinceramente, acho que a minha participação não é a mais adequada. Digo isso sem falsa modéstia, pois com meus 115 quilos, sou um exibido' pela própria natureza. Também por força da própria profissão, já que a exerço numa vitrine.">
Jô dizia que era "mais artista que intelectual". "Trabalho mais com a intuição do que com a razão. A TV não me preocupa, me ocupa.">