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Laura Fernades
Publicado em 3 de junho de 2017 às 06:30
- Atualizado há 2 anos
Quem não conhece Despacito que atire a primeira pedra, afinal, o hit dançante invadiu as rádios, redes sociais e, em apenas um mês, tornou-se a primeira música em espanhol a liderar o ranking americano Billboard Hot 100 nos últimos 20 anos, desbancando a eterna Macarena. O que pouca gente sabe é que existe uma compositora “quase” baiana por trás do sucesso do cantor porto-riquenho Luis Fonsi, gravado com participação de Daddy Yankee e Justin Bieber.>
Sim, “quase”, porque a coautora de Despacito é a cantora e compositora panamenha Erika Ender, 42 anos, que só não nasceu em Salvador porque sua mãe baiana se mudou grávida de sete meses para o Panamá, terra do marido. “Quase nasci aqui! Sou metade latina, metade brasileira. A Bahia está em mim”, garante Erika, em entrevista exclusiva concedida ao CORREIO durante sua rápida passagem por Salvador, na última semana.>
Desacostumada com o calor baiano e acolhida no ar-condicionado da casa dos primos, em Patamares, a artista conta que passou na terra da família para divulgar o novo disco, Tatuajes, disponível nas plataformas digitais. Seu quinto álbum inclui uma versão minimalista e mais lenta de Despacito, hit que alcançou mais de 1,7 bilhão de visualizações no YouTube, ganhou paródia de Tirullipa e Whindersson Nunes e até versão religiosa.>
“Tive momentos importantes ao longo da carreira, mas nunca uma música conectou tão rápido com o mundo todo”, impressiona-se Erika, vencedora do Grammy Latino 2016 de melhor canção regional, por música gravada pelo grupo mexicano Los Tigres del Norte. Morando há dois anos em Los Angeles, a artista é a mulher mais jovem a entrar no Hall da Fama de Compositores, cuja cerimônia será realizada em outubro, em Miami.>
“Estou fazendo 25 anos de carreira este ano e várias coisas aconteceram de vez nesse aniversário. Despacito está dando a volta ao mundo e é uma grande conquista. Isso me fez a única compositora latina, mulher, que ocupou esse lugar até o momento. Aconteceu com La Bamba, com Macarena e agora com Despacito”, comemora Erika.>
A cantora reforça que teve outras músicas no topo das paradas americanas, mas não com “esse” sucesso, enfatiza. “Uma delas ficou muito famosa por aqui”, comenta. Então começa a cantarolar em espanhol um trecho da composição panamenha que não é sua, mas que traduziu para o inglês: “Vida, devolva minha fantasia, meu sonho de viver a vida...”. Soou familiar? É porque a canção foi gravada, no Brasil, pelo grupo KLB, que a batizou de A Dor Desse Amor.Filha de baiana, a cantora e compositora panamenha Erika Ender, 42 anos, é coautora do hit Despacito (Foto: Marina Silva/CORREIO)>
DevagarinhoEnquanto faz uma pausa para confessar que é apaixonada por brigadeiro, feijoada, artesanato do Mercado Modelo e que adora se vestir de branco, Erika volta a falar da carreira e explica que sempre buscou apresentar seu trabalho com propósito e mensagem. Foi esse pensamento que a guiou na letra de Despacito, um reggaeton que fala sobre a sensualidade “com classe e bom gosto”, em suas palavras. Ao narrar a história de um casal apaixonado, a letra fala de “malícia com delicadeza”, que começa ‘despacito’ (lentamente) e fica selvagem. Passo a passo, suave, “suavecito”, o casal se envolve “poquito a poquito”. “Não acredito em música que não tenha mensagem. Pode ser pra curtir, pra namorar, desabafar... De qualquer jeito, tem que ter uma mensagem”, defende Erika.>
Para ela, Despacito “é poesia”. “Quis manter o bom gosto, chamar a atenção para se viver a vida um pouquinho mais devagar, no mundo cada vez mais imediato. A gente tem que entender que devagarinho a gente tem um desfrute bem melhor do que chegar correndo no final”, sugere, sorrindo.>
EspontaneidadeSempre bem-humorada, Erika conta que sua personalidade tem muita influência baiana. “Adoro a musicalidade baiana, adoro o jeito baiano, como tudo é festa, como tudo é alegria. Pode estar caindo o mundo que estão sorrindo”, elogia a artista panamenha.Sua mãe, a médica baiana Maria da Graça Ender, 68, concorda e reforça que “Erika sempre foi uma menina ajuizada, afetuosa e, sobretudo, muito criativa e feliz”. “Essa alegria natural e espontaneidade do baiano ficaram na personalidade dela. Realmente, se eu não tivesse voltado aos sete meses, Erika seria baiana!”, ri Maria da Graça.>
A distância de Salvador, porém, não é grande porque Erika faz questão de sempre visitar a família no Natal e no Réveillon. Prima do arranjador e produtor musical baiano Yacoce Simões, que é casado com a cantora Ana Mametto, Erika conta que toda vez que vem para Salvador faz festa com a família que é “muito unida e sempre se junta para cantar e dançar”.>
Fã de artistas como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Dorival Caymmi (1914-2008), Maria Bethânia, Gal Costa, Ivete Sangalo e Daniela Mercury, Erika conta que é apaixonada pelo trio elétrico. “Tenho todas as referências. A Bahia, pra mim, é o máximo!”, elogia a artista, que chegou a acompanhar um Carnaval no trio de Carlinhos Brown.>
Apaixonada por música desde pequena, Erika tinha o canto como brincadeira favorita. “Ela sempre foi a que cantava, chamava a atenção”, diverte-se a irmã de Erika, a produtora, relações públicas e empresária Ilka Ender, 38. “Eu sempre estava do lado para apoiar, nunca tive ciúme. Minha mãe sempre dizia que o que uma tinha e a outra lhe faltava, juntas éramos uma só. É muito bonito”, agradece.>
Com 17 anos de carreira, que incluem trabalhos para a Sony Music e para artistas como Shakira e Michael Jackson (1958- 2009), Ilka tem hoje a sua própria empresa e se dedica à carreira da irmã. “O que a gente faz agora, profissionalmente, a gente já fazia brincando”, compara. “Minha irmã tem a missão de vida de deixar uma marca na alma das pessoas de forma muito positiva e eu tenho a missão de fazer com que isso aconteça”, resume.Erika (à direita) ao lado da irmã, a empresária panamenha Ilka, e da mãe, a médica baiana Maria da Graça (Foto: Divulgação)>