Cadastre-se e receba grátis as principais notícias do Correio.
Portal Edicase
Publicado em 1 de março de 2024 às 15:25
O caso recente da Miss Acre Carla Cristina, que perdeu seu título e foi desclassificada do Miss Brasil Mundo por ter uma filha, revisitou questões profundas sobre maternidade e o mercado de trabalho. Infelizmente, situações como essa ainda são comuns em diversos âmbitos da sociedade, evidenciando os desafios enfrentados por mulheres que são mães e desejam conciliar isso com suas carreiras profissionais. >
Segundo uma pesquisa conduzida pela Fundação Getúlio Vargas, quase metade das mulheres que usam a licença-maternidade se afasta do mercado de trabalho após 24 meses, uma tendência que se mantém até cerca de 47 meses depois. >
O estudo revelou que, entre 247 mil mães analisadas, 50% enfrentaram demissão após aproximadamente dois anos de usufruto da licença. É relevante observar que, conforme a Lei 14.020, as mulheres têm direito à estabilidade no emprego desde a confirmação da gravidez até 5 meses após o parto. >
Esses dados sublinham a disparidade existente no mercado de trabalho quanto ao tratamento dado às mulheres que se tornam mães em comparação aos homens que se tornam pais. É imprescindível ressaltar que, apesar do cenário observado na prática, as responsabilidades parentais devem ser compartilhadas de forma equitativa e respeitadas pelas organizações. >
Ademais, há variações significativas ao considerar o nível de escolaridade, evidenciando outro problema: a desigualdade social. Mulheres com ensino superior apresentam uma redução de emprego de 35% após 12 meses da licença, enquanto aquelas com menor nível de escolaridade enfrentam uma queda de 51%. >
Há outros preconceitos perceptíveis no mercado de trabalho, como aponta o estudo conduzido pela Plure, HRtech de recursos humanos especialista em conectar empresas a mulheres. O levantamento revela como as mulheres LGBTQIAP+ enfrentam barreiras adicionais para ascender a cargos sêniores e de liderança , destacando a falta de inclusão nesses espaços. >
Considerando uma abordagem interseccional para analisar a empregabilidade, o estudo aponta que 43,79% das mulheres LGBTQIAP+ estão desempregadas, um índice acima da média geral de 39,35%. Além disso, 7,69% das mulheres LGBTQIAP+ na pesquisa são mães. >
“É um equívoco pensar que ser mãe diminui a capacidade profissional de uma mulher. Pelo contrário, a maternidade traz consigo uma série de habilidades valiosas, como organização, resiliência e capacidade de multitarefa, sendo extremamente relevantes no ambiente corporativo”, ressalta a CEO da Plure, Jhenyffer Coutinho. >
Apesar de se falar sobre a importância da diversidade, inúmeras organizações ainda enfrentam obstáculos na implementação efetiva de políticas inclusivas. A diversidade é vista como impulsionadora da inovação e resolução de problemas, mas diversas empresas precisam ajustar suas práticas de recrutamento e superar desafios como viés inconsciente e resistência à mudança. >
“A adaptação efetiva a essa tendência não é apenas uma questão de conformidade, mas uma estratégia essencial para garantir a competitividade e o sucesso a longo prazo no mundo empresarial diversificado e globalizado de hoje”, pontua a CEO da Plure. >
Outra pesquisa que chama atenção é o estudo ‘Cuidando de quem cuida’ produzido pela Genial Care, em que consta que 86% dos cuidadores de crianças com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) são mães, destacando-as como principais responsáveis pelo entendimento e cuidado das crianças autistas. >
Muitas delas acabam abandonando seus planos pessoais e profissionais para se dedicarem integralmente aos filhos com TEA. Em outros casos, enfrentam uma dupla jornada, conciliando trabalho e cuidados com os filhos. >
“Cuidar de uma criança com deficiência é uma tarefa difícil, principalmente por causa da desinformação da sociedade. Além disso, muitas mulheres cuidam dos filhos sozinhas ou com pouco apoio, o que pode levar ao burnout materno e à depressão. Por isso, é preciso reforçar a importância de a pessoa cuidadora ter uma rede de apoio”, alerta a Líder Clínica da Genial Care Academy, modelo próprio de capacitação do time terapêutico da Genial Care, Mariana Tonetto. >
É importante reconhecer o impacto mental e emocional que as mães passam ao enfrentar barreiras para conciliar suas responsabilidades familiares e profissionais. “A pressão para se adequar a padrões inatingíveis de produtividade e disponibilidade muitas vezes resulta em estresse, ansiedade e sentimentos de inadequação”, comenta a psicanalista e Presidente do Ipefem (Instituto de Pesquisa de Estudos do Feminino e das Existências Múltiplas), Ana Tomazelli. >
Segundo ela, as mães que desejam trabalhar e contribuir para o sustento da família não deveriam enfrentar penalidades ou restrições devido à sua condição parental. “É fundamental que as empresas e instituições adotem políticas inclusivas que reconheçam e valorizem a maternidade, garantindo igualdade de oportunidades e tratamento justo para todas as mulheres, independentemente do estado civil ou da parentalidade”, ressalta. >
A seguir, confira outros 10 desafios enfrentados pelas mães no mercado de trabalho e em ambientes sociais: >
Mães enfrentam discriminação no local de trabalho em função dos estereótipos de gênero e das preocupações sobre compromissos familiares. >
As mulheres, especialmente as mães, diversas vezes recebem salários mais baixos do que os homens pela mesma função, o que pode ser agravado após a maternidade. >
Em muitos países, a licença-maternidade é inadequada em termos de duração e benefícios, o que pode colocar pressão adicional sobre as mães para voltarem ao trabalho mais cedo do que desejariam. >
Mães enfrentam dificuldades para conciliar as demandas do trabalho com as responsabilidades familiares devido à falta de opções flexíveis de trabalho, como horários flexíveis ou trabalho remoto. >
Em alguns casos, as mulheres enfrentam estresse emocional e sentem culpa por não conseguirem equilibrar adequadamente o trabalho e a vida familiar. >
A falta de apoio da família, amigos e comunidade é capaz de tornar ainda mais desafiadora a jornada de conciliar maternidade e trabalho. >
As mulheres que optam por pausar ou reduzir suas carreiras para cuidar dos filhos muitas vezes enfrentam o estigma de uma lacuna no currículo. Além disso, elas têm dificuldades para avançar em suas carreiras quando decidem retornar ao mercado de trabalho. >
Devido a restrições de tempo e recursos, as mães se deparam com acesso limitado a oportunidades de treinamento e desenvolvimento profissional, afetando sua progressão na carreira. >
Muitas mães enfrentam o desafio de equilibrar as responsabilidades do trabalho remunerado com as tarefas domésticas e o cuidado dos filhos, enfrentando assim uma “dupla jornada”. >
As mães, inúmeras vezes, enfrentam julgamento e pressão social sobre suas escolhas de maternidade e carreira, seja por optarem por trabalhar em tempo integral, em tempo parcial ou ficarem em casa com os filhos. >
É fundamental fomentar uma discussão franca e positiva sobre os desafios enfrentados pelas mães no âmbito do trabalho, visando estabelecer ambientes mais acolhedores e justos para todas as mulheres. Somente assim poderemos progredir em direção a uma sociedade genuinamente inclusiva e igualitária, na qual a maternidade não seja uma barreira para o desenvolvimento profissional e pessoal. >
Por Letícia Carvalho >