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Roberto Midlej
Publicado em 5 de setembro de 2015 às 10:26
- Atualizado há 2 anos
Canções pouco conhecidas de Erasmo Carlos ganham versões ao vivo em CD e DVD (Foto: César Ovalle/Divulgação)Que Erasmo Carlos é autor, ou, pelo menos, coautor de alguns dos maiores clássicos da música brasileira, ninguém discute. Com tantos sucessos, era natural que, aos 74 anos de idade e 54 de carreira, muita coisa boa ficasse de fora do repertório de seus shows, o que causava uma certa frustração nos fãs do artista.>
Agora, com o CD e DVD Meus Lados B (Coqueiro Verde), os seguidores do Tremendão ganham uma segunda chance para escutar canções que Erasmo gravou, mas não tiveram a repercussão que mereciam, as tais “lados B” que inspiraram o projeto.O trabalho, gravado ao vivo no Tom Jazz, em São Paulo, traz seis composições de outros compositores, como Taiguara (1945-1996), autor de Dois Animais na Selva Suja da Rua, e Gonzaguinha (1945-1991), de Sementes do Amanhã.“Incluí umas coisas que fizeram sucesso também na voz de outros intérpretes, como De Noite na Cama. Era uma composição de Caetano Veloso que Marisa Monte regravou nos anos 1990”, diz Erasmo. A música havia sido gravada no álbum Carlos, Erasmo (1971), que representa o rompimento definitivo do cantor com a Jovem Guarda.Outras duas músicas daquele álbum clássico foram escolhidas para o repertório de Meus Lados B: É Preciso Dar Um Jeito, Meu Amigo e Maria Joana, ambas parcerias com Roberto Carlos.Maria Joana“Aquele disco foi um momento de transição em minha vida: eu havia mudado de gravadora, tinha me casado e estava com novos amigos. Foram, então, experiências positivas na minha vida, que me botaram num caminho novo e bem diferente”, diz Erasmo.O Tremendão fala sobre Maria Joana, um claro trocadilho com a palavra marijuana, que remete à maconha: “A contracultura dos anos 60 criou modismos e um deles era a maconha, que foi logo aceita pelos intelectuais”. Erasmo lembra que a ideia da composição surgiu quando foi a Israel e ouviu uma banda local cantar a música I Like Marihuana. “Achei que dava um bom jogo de palavras com Maria Joana e tive a ideia. Mas a música, claro, acabou sendo censurada”, recorda-se.A Jovem Guarda também está presente, com canções como O Homem da Motocicleta, do segundo álbum do cantor, Você me Acende (1966). Outra música que mantém as características do movimento é Estou Dez Anos Atrasado, embora já tenha sido gravada em 1970. Jovem GuardaSobre a Jovem Guarda, que está completando 50 anos, o cantor diz que se orgulha de ter participado e até sente saudades. Mas não dá vez à nostalgia: “Meu passado mora em mim, mas não sou saudosista”. Reconhece que havia preconceito contra o movimento, especialmente contra seus protagonistas, vindos do subúrbio carioca: “Nós não tínhamos ‘pedigree’, enquanto o pessoal da MPB era estudante universitário”.O cantor não sabe apontar com segurança as razões dessas músicas não terem feito o sucesso esperado, mas especula e dá uma alfinetada na indústria musical: “As gravadoras, muitas vezes, escolhiam o que elas queriam que fossem sucesso e pagavam o jabá para tocarem algumas canções. Para outras, não pagava. Aí, quem só ouvia rádio acabava sem conhecer muita coisa”.O DVD tem duas canções que não estão no CD: Amar Para Viver ou Morrer de Amor e Abra Seus Olhos. O belo encarte que acompanha o álbum tem material que vai agradar aos fãs, como a reprodução das anotações feitas a próprio punho pelo cantor, incluindo os rascunhos das composições.O making of traz depoimentos de personalidades como a escritora Fernanda Young e a cantora Karina Buhr, que se assumem fãs de Erasmo e estiveram presentes ao show que originou o DVD.>