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Monique Lobo
Publicado em 29 de dezembro de 2015 às 13:42
- Atualizado há 2 anos
Se tem alguém que sabe desconstruir a ideia comum de uma publicação literária é a canadense Keri Smith. Depois do seu best-seller Destrua Esse Diário (2007), que vendeu mais de três milhões de cópias no mundo todo, ela seguiu firme com sua arte participativa em títulos como The Guerilla Art Kit (2007), How to be an Explorer of the World (2008) e Mess: A Manual of Accidents and Mistakes (2010). Ano passado, outro livro ganhou tradução em português: Termine Esse Livro, uma obra aberta com ares de espionagem.>
Agora, chega ao Brasil o seu 12º livro, O Mundo Imaginário de ... (Intrínseca/R$ 29,90/ 192 páginas). Com tradução de Lourdes Sette, a obra segue o preceito que rege todas as publicações anteriores: o leitor tem que meter a mão na massa para dar sentido à história. Ou seja, até que você entre na viagem, aquele monte de papel não passa de um livro em potencial. “Eu estou tentando tirar as crianças de casa, longe das telas de TV e computador. Alguém nessa cultura precisa dizer que esse comportamento é disfuncional”, revelou a autora em entrevista à revista americana Time.(Foto: Reprodução)>
Instigar a imaginação e estimular a criatividade é o grande objetivo dos projetos da canadense. Nesse, o leitor já começa a interferir personalizando o título com o seu nome e a capa pode se tornar O Mundo Imaginário de João, de Maria, de Astrogildo Junior da Silva... O sumário já dá uma ideia das inúmeras referências que podem ser utilizadas nesse processo de criação. “Comece um mapa”, “Crie os personagens” e “Crie uma trilha sonora”, são alguns dos capítulos dessa aventura. >
EssênciaPara inspirar, ela apresenta diversas citações, com um destaque principal para um texto do artista plástico americano Steve Lambert sobre utopia. “É preciso esforço e imaginação extras para deixar de lado essas visões maculadas e sonhar com a realidade que preferimos, sem falar em explorar os incontáveis futuros possíveis”, aponta em um trecho. O pensamento de experimentar e conhecer coisas novas é a essência de todo o projeto da autora. “O que eu estou fazendo é tentar fazer com que as crianças prestem atenção, olhem mais para o mundo físico e questionem tudo”, afirmou a Keri Smith. >
A ilustração, principal forma de expressão da artista, volta com o mesmo perfil dos exemplares anteriores. Desenhos, letras divertidas e por vezes espelhadas, além de colagens fazem parte do projeto gráfico. E é claro que, mais uma vez, a autora solicita a intervenção do leitor com desenhos de paisagens, criação de casas, etc. Não há nada que não precise da interferência do proprietário do livro.>
Essa incansável necessidade em tornar o leitor participativo vem de uma mulher que sabe muito bem que milhares de pessoas precisam desse empurrãozinho para se sentir incluídas. Na infância, no subúrbio de Toronto, Keri lidava com uma mãe que tinha um tumor no cérebro e um casamento infeliz. As brigas a levavam para o quarto para desenhar. Quando chegou à adolescência, teve experiências com drogas e com auto mutilação. A arte, tanto a ilustração quanto a escrita, a ajudaram a superar esses problemas pessoais. >
Casou-se com o músico experimental californiano Jeff Pitcher e se tornou mãe de duas crianças. É nelas que encontra a inspiração diária para produzir obras para outras tantas milhões de crianças e adultos que encontram em seus livros uma forma de se expressar. Keri tem consciência de que não vai deixar de disputar essa atenção com o mundo virtual. Mas espera que, em sua casa e em outros lares, as crianças possam experimentar o gostinho do mundo físico. “Eu só espero que meus filhos tenham uma base suficiente para se lembrar de como era antes da tecnologia, como é bom o que se sente. Porque eu me lembro”, disse.>