Concha Negra celebra música afro-baiana com apresentações de Cortejo Afro, Chico César e Ilê Aiyê

Performance desta sexta-feira (23) marcou o início da terceira edição do projeto

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  • Raquel Brito

Publicado em 23 de fevereiro de 2024 às 22:29

Cortejo Afro foi o anfitrião da noite
Cortejo Afro foi o anfitrião da noite Crédito: Ana Lucia Albuquerque

“O Concha Negra mantém nosso corpo negro ativo. É a música negra pulsando”. Foi com essas palavras que o cantor Portella Açúcar, vocalista do Cortejo Afro, descreveu a noite desta sexta-feira (23), minutos antes de subir ao palco da Concha Acústica. A data marcou o retorno do projeto Concha Negra, que exalta a riqueza da produção musical afro-baiana, para a sua terceira edição.

O Concha Negra teve sua primeira etapa entre setembro de 2017 e fevereiro de 2018. A segunda edição ocorreu entre novembro de 2019 e março de 2020.

O primeiro dia da nova edição foi protagonizado pelo Cortejo Afro. O show contou com participações de Chico César e do cinquentenário Ilê Aiyê, e a abertura ficou por conta do Núcleo de Ópera da Bahia.

Núcleo de Ópera da Bahia abriu a noite de apresentações
Núcleo de Ópera da Bahia abriu a noite de apresentações Crédito: Ana Lucia Albuquerque

Quando os anfitriões da noite subiram ao palco, o dilema entre ficar em pé ou sentado na Concha Acústica foi dissipado: quem estava sentado, logo se levantou para dançar com a banda, que apresentou sucessos próprios, como Ajeumbo, e outros hinos da música negra, como Sorriso Negro, de Dona Ivone Lara.

Frequentadora assídua da Concha Acústica, a médica Amélia Carneiro, 67, marcou presença no Concha Negra e fez questão de levar uma prima e uma amiga. “É um reconhecimento importante das nossas raízes, é uma afirmação da nossa identidade. É preciso dar esse espaço para os artistas pretos, porque é a nossa história e é sensacional, é um ritmo muito especial e vibrante”, diz.

O evento uniu todas as idades. A estudante Ana Patrícia Carvalho, de 23 anos, foi com a namorada, Ana Lara, e estava ansiosa para rever o Cortejo Afro, que já assistiu quatro vezes pessoalmente, e conhecer o show de Chico César.

“Eu estou empolgada. O palco da Concha Acústica é muito almejado pelos artistas e todas as pessoas que se apresentam aqui sempre falam que é o sonho da vida delas. Então eu acho que é um espaço que deveria ser ocupado sempre por artistas negros e da terra também. A gente que já é daqui, então tem que ocupar mesmo”, celebra.

Segundo Chico César, o evento é uma celebração da negritude e da resistência negra. “É sobre a capacidade de sobreviver em um sistema tão cruel. Neste momento, nós nos mostramos livres. Eu acho que seria uma alegria para qualquer artista negro de outro estado ser convidado para participar de uma celebração que é da negritude tipicamente baiana. Eu me sinto em casa”, disse o cantor ao CORREIO.

Chico César apresentou suas canções embalado pela percussão do Ilê
Chico César apresentou suas canções embalado pela percussão do Cortejo Afro Crédito: Ana Lucia Albuquerque

O cantor paraibano, que cantou sucessos como Mama África e Pedrada, celebrou a chance de cantar na Bahia para um público majoritariamente negro e relembrou o Carnaval. “Olha, se isso não for macetar o apocalipse, eu não sei não, hein?”, brincou, após cantar Deus me Proteja.

Para garantir o seu lugar na primeira fileira, a servidora pública Elisa Garcia, de 35 anos, chegou com antecedência na Concha. Gaúcha, ela mora em Salvador há apenas um mês e aproveitou a chance para ver os artistas pessoalmente pela primeira vez. “Eu gosto muito de todos. Estou bem feliz por ver Chico César, principalmente. Eu vim sozinha, não tinha ninguém para vir comigo e vim mesmo assim”, conta.

Por volta das 20h50, foi a vez de Iana Marucha e Juarez Mesquita, vocais da Band'Aiyê, tomarem conta do Concha Negra, apresentando canções como Que Bloco É Esse e A Força do Ilê junto ao Cortejo Afro.

As apresentações da terceira edição do Concha Negra vão até abril.

Confira a programação:

  • 08 de março: Xella Convida
  • 22 de março: Olodum
  • 29 de março: Adão Negro
  • 05 de abril: SALCITY RAP

Os Filhos de Gandhy se apresentariam no dia 1º de março, mas o show precisou ser remarcado. A nova data ainda não foi divulgada.

*Com orientação da subeditora Fernanda Varela.