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Maysa Polcri
Publicado em 1 de dezembro de 2025 às 05:00
Após rodadas de negociações com entidades sindicais, o Governo do Estado já possui a versão, que tudo indica que será a final, da reestruturação do Planserv. As medidas aumentarão as contribuições de funcionários públicos e do governo para tentar conter o rombo da assistência médica dos servidores estaduais baianos. >
Audiência pública por melhorias no Planserv
A expectativa é que o plano, apresentado em reunião com representantes de sindicatos e associações nesta segunda (1º), seja enviado como projeto de lei à Assembleia Legislativa da Bahia (Alba) nesta semana. O governador Jerônimo Rodrigues (PT) deve solicitar regime de urgência. A medida diminui as etapas de análise e discussão das mudanças nas comissões da Casa. >
A reportagem apurou que a versão final do projeto será apresentada com algumas mudanças em relação ao projeto original. O principal ponto se mantém: a fixação de um único percentual para todos os beneficiários do Planserv. >
A mudança deve começar a valer em 2026 e mudará radicalmente a forma de cobrança das mensalidades, que hoje é proporcional às faixas salariais dos servidores. Com a alteração, foi estabelecido um percentual de 5,5% para a contribuição dos beneficiários, em 2026. No ano seguinte, o desconto nos salários subirá para 6%. >
A proposta original não previa escalonamento do percentual, o que foi criticado pelos servidores. O cálculo do governo prevê que ao menos 130 mil beneficiários tenham redução das mensalidades com as novas medidas. O quantitativo representa 26% do total de usuários do plano, que é de 500 mil pessoas, segundo o Estado. >
Também integram a proposta do governo a fixação de um mínimo cobrado, no valor de R$ 120, independente da faixa salarial, e um teto de cobrança, que será de R$ 1,5 mil. Isso significa que mesmo os funcionários com os maiores salários pagarão, no máximo, esse valor. >
O teto do funcionalismo público brasileiro é R$ 46.366, o que corresponde aos salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar disso, um levantamento divulgado na semana passada indica que o Brasil tem mais de 50 mil servidores que ganham mais do que o teto estabelecido pela constituição. >
Para tentar tirar as contas do Planserv do vermelho, o governo estadual também precisará aumentar a contribuição patronal. O percentual, atualmente fixado em 2,5%, terá aumento escalonado em dois anos. No ano que vem, subirá para 3,5%, chegando a 4% em 2027. Servidores já disseram considerar a proposta insuficiente, como vem mostrando reportagens do CORREIO. >
Entre 2015 e 2018, a contribuição do governo do estado para o plano de saúde dos servidores despencou de 5% para 2%. Na avaliação dos trabalhadores, a diminuição foi um dos fatores decisivos para o sucateamento do Planserv, que é alvo de críticas dos beneficiários. >
O balanço financeiro do plano no ano passado revelou rombo de R$ 198 milhões. A receita foi de R$ 2 bilhões, enquanto a despesa foi na ordem de R$ 2,2 bilhões. E a situação não é isolada no governo Jerônimo Rodrigues. Em 2023, o déficit nas contas do Planserv foi de R$ 147 milhões. >
O governo ainda não se manifestou oficialmente sobre os detalhes da proposta, mas já vinha dando sinais de que a reestruturação seria apresentada em breve. Em reunião com servidores em outubro, o coordenador-geral do Planserv, Luiz Perez, confirmou aumento das mensalidades para parte considerável dos servidores. >
Ao ser questionado pelo CORREIO no dia 28 de outubro, o governador Jerônimo Rodrigues afirmou que o projeto seria divulgado em até dez dias - prazo que não foi respeitado. “Vai ser preciso o Estado acrescentar mais um percentual sobre a contribuição do patronal, que é o Estado, estamos vendo qual é o valor”, declarou. >
Na última quinta-feira (27), servidores públicos baianos realizaram um protesto contra o sucateamento do Planserv. Dezenas de manifestantes se reuniram em frente ao Hospital de Brotas, em Salvador, para cobrar melhorias no serviço em meio às negociações para reestruturação do plano. >
Servidores levaram faixas e cartazes com objetivo de chamar atenção do Governo do Estado para o descredenciamento de clínicas e dificuldades na marcação de exames e consultas. O Hospital de Brotas, que é de uso exclusivo dos beneficiários do Planserv, também foi alvo das críticas, sendo apelidado de “matadouro de servidor”. >
Em outubro deste ano, uma reportagem do CORREIO mostrou que o Governo do Estado paga R$ 65 aos médicos a cada consulta atendida pelo plano. O valor é considerado incompatível com o praticado no mercado e um dos fatores que contribuem para que profissionais e clínicas deixem de atender pacientes do Planserv. >
Um dos objetivos da reestruturação é, justamente, aumentar a margem da remuneração dos serviços. Ainda fazem parte das promessas a criação de núcleos regionais distribuídos pela Bahia, para evitar a concentração de serviços na capital.>