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Em entrevista ao CORREIO, ex-prefeito de Salvador disse que Jerônimo Rodrigues 'não é um cara brilhante nem na política nem na gestão"
Rodrigo Daniel Silva
Publicado em 13 de maio de 2024 às 05:00
Focado nas eleições municipais, o ex-prefeito soteropolitano ACM Neto tem atuado mais nos bastidores políticos nos últimos meses. Na primeira entrevista que concede a um veículo de comunicação neste ano, o vice-presidente eleito do União Brasil fez uma avaliação ao CORREIO dos governos Lula e de Jerônimo Rodrigues, ambos do PT.
Na opinião de ACM Neto, as duas gestões têm tido desempenho “ruins”. Mas, para ele, o governador não tem sabido aproveitar a parceria com o governo federal, como prometeu durante a campanha eleitoral de 2022. “Jerônimo não é um cara brilhante nem na política, nem é um cara brilhante na gestão”, acrescentou.
Ainda na entrevista, ACM Neto fala dos seus projetos futuros, da disputa do prefeito de Salvador, Bruno Reis, pela reeleição e dos desafios do União Brasil.
Essa é a primeira de três partes da entrevista concedida ao CORREIO.
Quais as metas do União Brasil na Bahia na eleição deste ano?
Quem está na oposição não pode estar preocupado em quantos prefeitos vai fazer. Nós nunca tivemos preocupados com isso desde 2006, quando perdemos a eleição para (Jaques) Wagner. Então, aqui na Bahia, o nosso foco fundamental é abordar as grandes cidades, ter candidato seja do partido ou de aliados. O nosso objetivo é ter nas 20 maiores cidades da Bahia ter, pelo menos, 80% dessas cidades palanque próprio no campo da oposição.
O senhor disse que o governo Jerônimo em 2023 foi o pior dos três governos do PT. Por quê?
Foi não, tem sido o pior dos três governos. Jerônimo está longe de ter o brilho e a liderança política nata que tem Jaques Wagner. Apesar de eu ser adversário, eu não posso deixar de reconhecer que ele é um líder político. Wagner tinha um charme, uma capacidade de articulação política que Jerônimo não tem. E Jerônimo também não tem o mesmo nível de aprofundamento que Rui (Costa), como governador, tinha. Eu tenho várias críticas à gestão de Rui, mas ele em si era um sujeito que procurava aprofundar, que se envolvia na gestão. Jerônimo não é um cara brilhante nem na política, nem é um cara brilhante na gestão. O que a gente vê desses quase um ano e meio de governo de Jerônimo é ele passeando pelo interior direto. É uma forma que ele tem de fugir dos problemas, porque ser governador está na ponta, está perto da população, mas também chamar secretário, planejar, organizar, ter projeto, cobrar metas e fazer as coisas acontecerem. Então, qual é a marca de Jerônimo? Qual é o grande projeto de Jerônimo? Porque mesmo no quesito obras, o que ele fez até agora foi entregar as obras que Rui Costa começou, principalmente, na boca da eleição de 2022, que foram obras eleitoreiras. Pouquíssima coisa ele (Jerônimo) começou como a ação do próprio governo dele. A minha crítica fundamental se concentra nas questões e problemas essenciais da Bahia.
O governo Jerônimo, então, é um governo sem obras e sem marca?
Sem marca nenhuma e com obras do passado. O foco agora, se eu fosse governador, não seria obras. O foco agora seria mudar, de fato, a realidade da educação pública da Bahia. Qual é a marca de Jerônimo em um ano e meio na educação? Defender a aprovação automática dos alunos, colocar uma faca no pescoço dos professores, obrigando os professores a passar os alunos de ano, independente se aprenderam ou não, para com isso produzir uma melhoria artificial na nota do Ideb, que põe hoje a Bahia em penúltimo lugar do Brasil no ensino médio. Ele quer, por uma portaria, dizer que melhorou para depois gastar em propaganda. Qual é a marca de Jerônimo na segurança pública? Foi a presença maior, visível e aterrorizante das facções criminosas que depois que ele assumiu começaram a ter mais espaço, projeção, visibilidade, e matar gente e oprimir principalmente o povo pobre da Bahia. Na saúde pública, qual é a marca de Jerônimo? São as filas da regulação que continuam cada vez maiores de pessoas que esperam, cada vez mais, para conseguir um internamento hospitalar e com o número cada vez maior de mortes acontecendo no interior. Quando a gente pega o retrovisor, e olha para trás e ver aquelas questões simbólicas que o governo prometeu, como a ponte Salvador-Itaparica, até agora, só continua a propaganda, VLT, só continua propaganda. Estamos indo para daqui a pouco 40% já do governo dele, e nada. Nem se pode dizer que é 40%, porque a gente não pode deixar de considerar um histórico e observar que o grupo político que ele representa comanda a Bahia pelo 18º ano.
O governador Jerônimo Rodrigues se elegeu com o discurso do alinhamento com o governo federal. A parceria tem funcionado? Ou o governo estadual não tem conseguido aproveitar a parceria?
Eu acho que o governo do estado é muito pior do que o governo federal. Os dois são muito ruins, apesar do governo do estado ser muito pior do que o governo federal. Essa parceria, no passado, eu não posso deixar de reconhecer isso, ela teve a capacidade de viabilizar coisas grandiosas para a Bahia, e talvez o metrô seja um desses exemplos aqui em Salvador. Mas, até agora, o que é que a gente viu? O quê de relevante aconteceu? O que é que esse prestígio todo de Jerônimo, governador, Rui Costa, chefe da Casa Civil, que é que isso tudo representa até agora para o estado que deu a vitória a Lula em 2022? Quando você faz o corte de proporção de votos e de quantidade de votos, a Bahia foi o principal estado para vitória de Lula em 2022. Então, o que eles fizeram juntos até agora está muito aquém do que o povo baiano esperava, e acho que isso é muito mais por responsabilidade do governo do estado.
Então, a parceria entre os governos estadual e federal por si só não traz benefício para o estado?
Eu governei Salvador sem nenhuma parceria. Bruno (Reis) está aí há quatro anos. Então, a gente completa agora 12 anos pilotando Salvador sem nenhum parceiro externo, mas fazendo as coisas bem feitas. Não adianta você ter parceiro, se você não sabe aproveitar. Por outro lado, se você é bom para caramba, independente, de ter parceiro ou não, as coisas vão acontecer.
O senhor pretende ser candidato em 2026 a governador da Bahia? Há alguma condicionante para ser candidato?
Quando passou 2022, eu procurei reinventar a minha vida e o meu trabalho, continuando com minha atuação política, que é a minha prioridade total. Mas dividindo essa atuação política entre Salvador e Brasília. A gente está fazendo coisas de alcance nacional e muito relevantes. Então, hoje minha vida está dividida entre Salvador e Brasília, então foi uma consequência da eleição de 22. Não tenho falado por enquanto sobre 2026, porque eu, aos meus 45 anos de idade e 26 anos de política partidária, não posso mais me dar ao luxo de desconsiderar o tempo das coisas. Então, a essa altura da vida, eu sei exatamente qual o tempo das coisas, e a gente só vai tratar de uma disputa para governador em 2026 pós-eleição municipal. Eu tenho disposição de enfrentar o debate político sobre o presente e futuro da Bahia. É claro que uma candidatura não pode ser resultado apenas da sua própria vontade pessoal, ela tem que ser resultado de uma série de coisas que vão ser avaliadas após 2024. Vontade, disposição, coragem, experiência e a capacidade para enfrentar mais uma eleição para o governo do estado, eu não tenho dúvida que possuo. Eu não vou agora dizer que sou pré-candidato ou que vou ser candidato porque é cedo.
Mas considera um projeto nacional para 2026?
A gente tem que tentar construir um projeto nacional que possa ter conexão com um projeto na Bahia. Em 2022, nós somos vítimas de um quadro de polarização nacional, onde eu, infelizmente, não conseguia me encaixar nem de um lado nem de outro por falta de naturalidade, de identidade e de afinidade. Então, eu espero poder participar da construção de um projeto nacional, que ainda está em aberto, que possa ter conexão com um projeto na Bahia. Isso é um desafio, que não é só meu, mas de diversas lideranças no país.
E ser candidato a algum cargo nacional?
Essa não é minha prioridade. Se as circunstâncias e os astros ajudarem, a ideia é tentar construir uma candidatura para governador. Agora é cedo. É muito cedo para falar sobre isso. Vamos esperar um pouco, tudo no seu tempo, na sua hora. 2026 ainda está longe.
*Colaborou a repórter Millena Marques