"S" do ESG: Preto Zezé (CUFA) destaca potência das favelas e Daniela Mercury pede por 'Plano Axé'

Os dois integraram a programação do primeiro dia do III ESG Fórum Salvador e compartilharam experiências de ações sociais para a sustentabilidade

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  • Larissa Almeida

Publicado em 23 de maio de 2024 às 00:39

Daniela Mercury comandou palestra sobre o papel da indústria cultural na garantia da sustentabilidade Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

No primeiro dia do III ESG Fórum Salvador, o cofundador da Central Única das Favelas (Cufa) e presidente da organização no Rio de Janeiro Preto Zezé e a cantora Daniela Mercury levaram ao público presente no Porto de Salvador, no Comércio, suas experiências com o setor cultural que ajudam na luta pela garantia de direitos, diversidade e educação da sociedade, objetivos comuns ao ‘S’ do ESG. Na oportunidade, Daniela Mercury pediu a criação do Plano Axé, projeto de financiamento sustentável para o setor cultural da cidade, e Preto Zezé destacou a necessidade de uma linguagem comum e oportunidades para a população periférica.

Preto Zezé foi quem primeiro subiu ao palco após a palestra de abertura ministrada pelo prefeito Bruno Reis. Em seu discurso, o carioca que ganhou título de cidadão soteropolitano abordou a potência das favelas brasileiras, que atualmente abrigam cerca de 20 milhões de pessoas no Brasil e produzem em torno de R$220 bilhões em poder de consumo, e ressaltou o poder empreendedor e capaz de gerar soluções para a desigualdade social e de gênero desses espaços.

Preto Zezé falou durante palestra no III ESG Fórum Salvador Crédito: Ana Lucia Albuquerque/CORREIO

“Eu queria trazer um debate menos estigmatizado, fora da ideia de favela como fragilidade e tragédia, como estresse e esgoto a céu aberto, [mas] sem negar essa realidade, percebendo que diante dela muitas pessoas estão criando e produzindo soluções, alternativas e inovações para sobreviver. [...] Estamos falando de um lugar complexo em que a maioria das pessoas que tomam decisões de cada dez lares são as mulheres, então isso também é um ponto indicador que pensar em ESG é pensar a participação das mulheres em todos os espaços de poder”, frisou.

O cofundador da CUFA também chamou atenção para a necessidade da construção de uma agenda pública que inclua a população periférica e seja uma porta para a oportunidades e linguagem comum entre a população. Ele deu como exemplo de êxito sua experiência com a Cufa. “A orientação da Cufa é para que nós nos esforcemos sempre para construir uma agenda positiva, aproximando parceiros para produzir esse lugar”, disse.

“Nós lançamos a Taça das Favelas, que é uma rede de mobilização, e estamos realizando a Expo Favela em 24 estados, que é o ajuntamento de empresários, agentes de negócios e fundo de investimentos com empresários da favela, para que as pessoas de lá saibam o que é empreendedorismo, que é um termo novo. [...] É um outro dialeto que nós vamos precisar produzir para os Brasis se entenderem”, pontuou.

Daniela Mercury, por sua vez, enfatizou a importância da indústria cultural para as práticas ESG, uma vez que é a que menos polui e mais distribui riqueza na cidade, empregando mais de 5 milhões de pessoas. Tendo isso em vista, ele pediu o apoio do prefeito Bruno Reis e de Tarciana Medeiros, presidente do Banco do Brasil, que estavam sentados na plateia, para a criação do Plano Axé.

“Nós bem que podíamos ter uma carta de crédito das nossas turnês para negociar. Tem o Plano Safra, eu queria o Plano Axé para a cultura. Estamos precisando de financiamento, inclusive para colocar trios elétricos híbridos na rua para poluirmos menos e, quem sabe, inserir energia solar nas festas e eventos da cidade”, sugeriu.

No início da palestra da cantora baiana, ela fez a recitação de poesias e de trechos de suas músicas. Também salientou que, desde sempre, sua arte foi ligada aos direitos humanos e que, portanto, não poderia estar de fora do debate por uma cidade sustentável e atuante no combate às desigualdades e preconceitos. “Os repentistas dizem tantas coisas que a gente precisa ouvir, então as minhas canções sempre tentaram dizer com uma certa leveza. Eu sou soft power e a cultura é o soft power do Brasil e da Bahia. Nós estamos suavemente dizendo que é necessário ser dito, falando do nosso tempo e das pessoas do nosso tempo”, afirmou.

Ao falar sobre as experiências de garantia de direitos da sociedade, pilar ‘S’ do ESG, ela mencionou os casos de sucesso do Projeto Axé, que há 34 anos trabalha com crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade em Salvador e também citou o Neojiba, que promove a capacitação musical de jovens. “O Neojiba tem transformado as nossas crianças, que desejavam então estudar música, em profissionais e professores de arte, em cidadãos dignos. É isso que é direitos humanos com cultura”, apontou.

Por fim, Daniela concluiu dando destaque à importância da educação. “Eu acho que temos uma chance se a gente tiver mais escolas, mais impulsos profissionais, se a gente ampliar o trabalho do Neojiba dentro do município, porque eles têm um método que em três anos forma professores. Eles estão indo fazer um Núcleo lá em Maceió, inclusive por indicação minha, para acolher as crianças que estão sem educação, sem escola há mais de três anos. Isso é governança”, finalizou.

O III ESG Fórum Salvador é um projeto realizado pelo Jornal Correio e Site Alô Alô Bahia com o patrocínio da Acelen, Alba Seguradora, Bracell, Contermas, Grupo Luiz Mendonça - Bravo Caminhões e Ônibus e AuraBrasil, Instituto Mandarina, Jacobina Mineração - Pan American Silver, Moura Dubeux, OR, Porsche Center Salvador, Salvador Bahia Airport, Suzano, Tronox e Unipar; apoio da BYD | Parvi, Claro, Larco Petróleo, Salvador Shopping, SESC, SENAC e Wilson Sons; apoio institucional do Sebrae, Instituto ACM, Saltur e Prefeitura Municipal de Salvador e parceria do Fera Palace, Happy Tour, Hike, Hiperideal, Luzbel, Ticket Maker, Tudo São Flores, Uranus2, Vini Figueira Gastronomia e Zum Brazil Eventos.

*Com orientação da chefe de reportagem Perla Ribeiro