'A casa que era a alegria dela, hoje é só tristeza’, afirma tia de universitária morta

Crime foi em Cachoeira, no Recôncavo, e ex-namorado é procurado

Publicado em 29 de novembro de 2019 às 05:30

- Atualizado há um ano

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Cada tijolo comprado, cada parede suspensa, cada telha empilhada era motivo de comemoração. E foi assim, a cada etapa, que Elitânia de Souza da Hora, 25 anos, ergueu o maior sonho: a casa própria. Ela foi assassinada a tiros na noite desta quarta-feira em Cachoeira. E foi na humilde construção, numa zona rural de Cachoeira,no Recôncavo do estado, que o corpo dela foi velado nessa quinta-feira (28).

"Era tudo o que ela queria. Conseguiu tirar o sonho do papel com muito suor. A casa que era a alegria dela, hoje habita a tristeza", declarou Arlete Souza, 40, tia de Elitânia. Elitânia de Souza da Hora tinha 25 anos (Foto: Reprodução) A polícia já tem um suspeito. Trata-se do ex-namorado dela, Alexandre Passos Silva Góes que teve a prisão preventiva decretada. Segundo moradores de Cachoeira, Alexandre administra uma fazenda da família na localidade de Rosário, zona rural de São Félix. Ele seria filho de um juiz aposentado que atuou nas duas comarcas: São Félix e Cachoeira. Depois do velório, o corpo da universitária foi enterrado no cemitério municipal da cidade.

Elitânia construiu a casa num terreno onde estão outras casas de parentes, na Fazenda Guaíba, no Quilombo Tabuleiro da Vitória, na zona rural de Cachoeira.

O CORREIO teve acesso à casa da universitária – uma construção sem reboco, com dois quartos, sendo um com suíte, sala, cozinha, banheiro e sala de estudo. "Apesar da casa ainda em obras, ela vinha para cá nos finais de semana, pois dividia um apartamento com a uma colega da faculdade no centro da cidade. Ela passou esse sábado e o domingo aqui e já tinha avisado a mãe que retornaria este final de semana", contou Arlete. Casa que Elitânia construiu no Quilombo Tabuleiro da Vitória (Foto: Tiago Caldas) Quarto Os três bichos de pelúcia - um coelho e dois ursos - sobre a cama ainda arrumada estavam do jeito que Elitânia deixou. Era o canto favorito dela. "Ela adorava ficar aqui. Descansava por horas. Quando não estava aqui, estava na sala de estudo", disse Arlete.

Na sala de estudos estão livros, trabalhos da universidade, plantas naturais e um caixote envernizado transformado num presépio. Na cozinha apenas um fogão e alguns bancos. "A casa dela é simples, mas jeitosa. A gente tem uma noção pelo piso, de porcelanato. Esse dinheiro foi de quando ela trabalhava como recepcionista de um hotel antes de entrar na universidade. Ela começou a obra no início deste ano", declarou a tia.

Já a sala nada lembrava a principal área da casa. Não havia um móvel sequer, apenas o caixão, que era arrumado por funcionários da funerária para o velório.

Revólver Segundo Arlete, a sobrinha lhe disse que certa vez o ex-namorado Alexandre apontou uma arma para a cabeça dela. “Isso foi há um ano. Por causa disso, ele o denunciou e logo depois foi concedida a medida protetiva”, disse a tia.

Apesar da medida protetiva, que proíbe a aproximação do acusado da vítima, Alexandre ligava fazendo ameaças à universitária, na insistência de manter a relação. “Ele ligava de número não identificado. Uma vez, ele ligou quando Elitânia estava na delegacia de Cachoeira. No dia, ela passou o telefone para o delegado João Mateus, que deu uma bronca nele”, contou.

Inspiração A universitária era um exemplo para o povo quilombola. “Muitas crianças aqui a admiravam, porque viam nela um estímulo para estudar e seguir em frente”, disse Arlete.  

Além de parentes e vizinhos, alunos da UFRB compareceram ao velório. “Ela era uma pessoa que transmitia luz e era nossa referência devido ao seu engajamento. Não admitia desigualdades, desrespeitos”, declarou a estudante de Filosofia, Joane dos Santos, 25.