Algoritmos que regem as redes sociais exercem pressão nas nossas decisões

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  • Nelson Pretto

Publicado em 9 de outubro de 2018 às 14:00

- Atualizado há um ano

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Encerrado o primeiro turno das eleições, muito a analisar, aprender e considerar.

Curioso e assustador constatar que o candidato mais votado não participou de nenhum debate e sequer foi às ruas, limitando sua campanha às redes sociais.

Todos os que estão lendo este texto devem ter recebido uma avalanche de mensagens por Whatsapp, com notícias sobre possíveis fatos que estariam ocorrendo durante a eleição. Menciono diretamente esse aplicativo porque justo ele tem sido o grande veículo de disseminação de notícias mentirosas criadas com propósitos eleitorais.

Pesquisadores do MIT, nos Estados Unidos, em artigo na revista Science de março passado, apontaram claramente para o fato de que as tais notícias inventadas (fakenews) se difundem rápida e profundamente. Concluíram eles, ainda, que os seus efeitos são mais fortes quando tratam de política do que até mesmo de temas como terrorismo, desastres naturais, ciência, entre outros.

Acompanhamos o uso desses mecanismos na eleição de Trump, nos EUA. Direto de uma cidade da Macedônia, jovens, para ganhar muito dinheiro, inventavam notícias sensacionalistas favoráveis a Trump, as impulsionavam nas redes e, assim, exerceram papel decisivo na eleição americana.

Também agora há indícios de que contas falsas e robôs estão sendo largamente utilizados no Brasil na disseminação das notícias falsas.

Não custa repetir que notícias não podem ser tomadas, de imediato, como verdadeiras ou falsas. Elas devem ser, sempre, objeto de interpretação. E por isso precisamos estar atentos a tudo que lemos, ouvimos e vemos, seja no zap ou na mídia. Mais do que tudo, cada informação deve ser checada quanto a sua fonte e conteúdo.

Chamou atenção, no domingo, a divulgação de um vídeo com uma na qual, ao se teclar o primeiro dígito, o voto se autocompletava para um candidato específico, numa clara indução de que o sistema estaria contaminado. Mais uma tentativa de desacreditar o processo democrático.

Dados do Relatório da Segurança Digital no Brasil indicam que 97% das pessoas repassam notícias falsas, sem conferir o conteúdo, criando, assim, uma onda em torno do seu candidato.

A eleição, momento fundamental para se debater propostas para o país, está se tornando uma verdadeira guerra, uma ciberguerra. Quase 100 milhões de ciberataques já ocorreram em 2018 e até dezembro estima-se que ocorra um aumento de 30% em relação ao ano passado, segundo o Laboratório de Segurança PSafe Tecnologia.

Os algoritmos que regem as redes sociais acabam exercendo enorme pressão nas decisões políticas que tomamos. Este é o momento de aprofundarmos os debates sobre as propostas dos dois candidatos, sempre na busca de combater, com todas as nossas forças, qualquer tentativa de estabelecimento de uma cultura do ódio e da intolerância. Temos que seguir intransigentes na defesa da dignidade da pessoa humana e na celebração das diferenças, sob pena de abrirmos espaço para um retrocesso civilizatório.

Nelson Pretto é professor da Faculdade de Educação da Ufba.

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