Amamentar pode ser difícil; saiba por quê

Mamaço, bate-papos e exposições chamam a atenção para o tema

  • Foto do(a) author(a) Laura Fernades
  • Laura Fernades

Publicado em 23 de agosto de 2021 às 05:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Fotos de Roberto Abreu

Navegar pelas redes sociais no mês de agosto, em plena pandemia, significa se deparar com pelo menos uma mãe amamentando em sua timeline. Isso porque a campanha Agosto Dourado busca conscientizar a população sobre a importância da amamentação, que nem sempre é fácil. Além do mamaço virtual aderido por famosos e anônimos, bate-papos e exposições chamam a atenção para o tema.

Quem passar pelo piso L1 do Salvador Shopping até o dia 29, por exemplo, vai encontrar fotografias de diferentes mães no exercício pleno da maternidade. São lactantes com crianças de 3 meses a 4 anos clicadas pelo fotógrafo Roberto Abreu. “O shopping acaba sendo um local onde podemos atingir um público variado que não iria olhar para a amamentação se não fossem ações como esta”, explica a psicóloga, educadora perinatal, doula e pós-graduanda em aleitamento materno Tarsila Leão, 38 anos.

Fotografada junto com seu filho de 4 anos, Tarsila é idealizadora da mostra e fundadora do A Mama (@amamasalvador), assessoria em aleitamento materno que desde 2012 promove A Hora do Mamaço em Salvador. Por causa da pandemia, o encontro tem sido virtual e daí veio a ideia de levar as imagens para uma mostra presencial com cenas cotidianas dessas mães.

“Quisemos mostrar uma amamentação possível, com mulheres desempenhando seus diversos papéis sociais e sem perder sua sexualidade ao amamentarem crianças de diversas idades. Precisamos desconstruir essa imagem da mulher que amamenta como uma pessoa passiva e apagada socialmente”, defende Tarsila.

Nada fácil Quebrar tabus é um dos objetivos do Agosto Dourado e o primeiro deles é que “amamentação é fácil e toda mulher já nasce sabendo”. Depois de ter os seios feridos e não aguentar mais de dor, desistindo de amamentar seus dois filhos após dois meses, a arquiteta Rosa de Carvalho, 62, percebeu como a falta de informação prejudicou sua maternidade.

Há 34 anos, buscou ajuda e ninguém soube informar o que deveria fazer para se sair bem na amamentação. Até em mastologista Rosa foi, sem sucesso. “Era uma dor insuportável, não tinha posição e ninguém soube me ajudar. É algo inconcebível hoje, mas foi assim. Hoje eu sei que a ‘pega’ estava errada, que a higienização do seio influencia, mas na época...”, conta.

Pega de surpresa, Rosa desistiu e até hoje lamenta. “Quando penso, é muito doloroso pra mim. Foi um processo muito sofrido e me senti absolutamente só. Amamentação não é uma coisa simplesmente maravilhosa. Você tem que aprender, alguém tem que lhe ensinar. Por isso é tão importante discutir o tema”, defende a arquiteta que buscou fazer diferente na maternidade da filha. Graças a ela, sua neta de 1 ano e 3 meses mama até hoje.

Pega Ao contrário de três décadas atrás, são incontáveis as assessorias em amamentação que existem hoje. A enfermeira obstétrica Loise Chamusca, por exemplo, é conhecida como “o socorro da mamãe” e faz o que pode para auxiliar as mães de primeira viagem. “A boa informação é a melhor amiga da amamentação”, defende a enfermeira que tem 20 anos de experiência e compartilha todo tipo de informação nas redes sociais (@socorro.da.mamae).

Loise defende que a mulher precisa compreender o porquê de amamentar o seu filho e acreditar na sua capacidade de alimentar o bebê. Precisa, ainda, conhecer o seu corpo e entender como tudo acontece. “A mãe precisa aprender como deve ser feita a ‘pega’ do bebê ao seio, que é a maneira que o bebê abocanha a mama. Se a criança faz uma pega errada, machuca, causando muita dor e desconforto”, explica.

O processo feito de forma errada pode levar à desidratação e desnutrição da criança, alerta a enfermeira, além da redução da produção de leite materno e outros problemas que contribuem “para o desmame precoce, o insucesso e o descrédito do aleitamento materno”. Por isso, em sua opinião, a amamentação precisa ser abraçada não só pela mãe, mas pela sociedade.

Daí vem a importância do Agosto Dourado, que mostra a relevância do aleitamento materno para a saúde da criança. Até em tempos de covid-19, já que o leite materno “é padrão ouro” e contém os nutrientes necessários ao bebê, além de células vivas – anticorpos, imunoglobulinas, lactoferrinas –, explica Loise. A amamentação deve continuar, mesmo em quem teve a doença ou recebeu a vacina, acrescenta.

“Segundo um estudo americano divulgado pela Sociedade Brasileira de Pediatria, em abril, as mães apresentaram altos níveis de anticorpos contra o coronavírus no leite materno, após a vacina. Embora ainda não se saiba o quanto as crianças ficam protegidas, o estudo já mostra a importância do aleitamento materno”, reforça. “A amamentação é importante para a construção de um planeta mais saudável e essa edificação é responsabilidade de todos”, conclui.

Dicas para se sair bem na amamentação

- Busque ajuda de profissionais para entender mais sobre o processo de aleitamento, as posições corretas (“pega”) e as intercorrências que podem acontecer, como a apojadura (processo inicial de produção do leite materno que deixa as mamas cheias, rígidas e pode ser doloroso); - Fique atenta ao enxoval: mamadeira, chupeta e fórmula podem não ser necessárias e às vezes atrapalham; - Chame uma rede de apoio para enfrentar os primeiros dias, que são os mais difíceis; - Não desista, amamentar é uma fonte de nutrientes importante para seu bebê. Começa difícil, mas passa; - Respeite seu corpo e amamente até quando for bom para mãe e bebê.