Animação documental Flee revela drama de refugiados

Filme é um emocionante relato de um afegão que fugiu do seu país na década de 1990

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  • Roberto Midlej

Publicado em 21 de abril de 2022 às 09:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: divulgação

Tão grave quanto não ter o que comer ou não ter uma renda é o drama de não ter um lar. Mas "lar" aqui não é apenas o fato de não ter um teto, um abrigo. Mas é o fato de não ter direito a um lugar fixo para viver, de não ter direito a uma nação que lhe ofereça direitos básicos. Não ter uma terra que considere sua casa.

É como o drama que os refugiados ucranianos estão vivendo. Saem de sua casa às pressas, muitas vezes sem um destino, com a roupa do corpo. Muitas vezes, não fazem ideia de pra onde vão, sem o direito sequer de escolher em que país viver.

E foi esse o drama que muitos afegãos viveram, quando fugiam da guerra em seu país, na década de 1980. Perseguidos, eles recorriam a traficantes de pessoas e eram transportados em condições desumanas e de muita insegurança.

O afegão Amin Nawabi, que viveu esta tragédia, resolveu contar sua história ao amigo Jonas Poher Rasmussen, cineasta e radialista dinamarquês que a transformou em uma animação. A produção conquistou um feito inédito e surpreendente: foi indicada ao Oscar de melhor filme internacional, melhor animação e melhor documentário.

Não venceu nenhum dos três, mas isso não diminui em absolutamente nada suas inúmeras qualidades, inclusive técnicas, mas, sobretudo, dramáticas. Já sabemos desde sempre que o Oscar está longe de ser um parâmetro de qualidade, mas Flee perder para a apenas bonitinha Encanto, da Disney, é uma dessas injustiças históricas que marcam a premiação norte-americana. Se era pra perder, melhor seria não ter sido indicada. Pelo menos, a Academia não passava esta vergonha.

Amin (que usa um nome falso, para preservar sua identidade), que escondeu seu passado por vinte anos, desfruta na Dinamarca de uma liberdade que jamais teria em seu país: ele é gay, o que poderia levá-lo ate à morte hoje em território afegão. Em um depoimento emocionante - e chocante em alguns momentos -, ele fala de seu passado, das lembranças da família e do pai, desaparecido depois de ser levado pela polícia quando ele ainda era criança.

“Enquanto fazíamos o filme, percebi que ele ainda procurava onde poder se instalar de uma vez por todas. Mas, finalmente, ao conseguir se abrir, contar toda sua história para o filme, ele conseguiu fazer as pazes com o seu passado e superar a culpa que sentia pelos sacrifícios que sua família fez por ele”, revela Rasmussen, que optou pela animação para poder alterar a fisionomia dos personagens e assim preservar Amin. também a família, que voltou para o Afeganistão.

No circuito Saladearte e no Cine Metha Glauber Rocha