Arnaldo Antunes abre Flipelô com concerto poético nesta quarta (7)

Primeiro dia será encerrado com concerto da Orquestra Afrosinfônica em homenagem a Castro Alves

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  • Da Redação

Publicado em 7 de agosto de 2019 às 06:20

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Arisson Marinho/ CORREIO

Músico, poeta e artista plástico, Arnaldo Antunes vai abrir a Festa Literária do Pelourinho (Flipelô) nesta quarta (7), às 19h, com uma performance poética, que pouca gente teve oportunidade de ver. Isso porque, segundo o próprio artista, é um formato mais raro dentro de sua agenda, e a maior parte das apresentações que fez foram fora do país.

"O convite da Flipelô é uma maravilha, porque junta várias situações: uma oportunidade de voltar à Bahia, sempre uma delícia; dentro de um evento literário gratuito, aberto ao público, que considero uma das ocasiões mais gratificantes para qualquer artista", comemora. 

A apresentação, que antes seria na Arena do Sesc-Senac, foi transferida para o Largo do Pelourinho. De acordo com a organização, uma decisão que visa atender à demanda do público, que costuma lotar a abertura da Flipelô.Roteiro aberto Nas redes sociais, ele tem reforçado o convite entre os fãs, com trechos gravados da performance, que costuma mudar a cada execução. "O roteiro é sempre aberto, decido dias antes o que entra e o que fica de fora. Gosto de incluir leituras e canções à capela de músicas que costumo cantar", adianta.

Caso da canção O Nome Disso (1995), que anos depois virou uma antologia e hoje entra como um dos grandes momentos da apresentação. "É uma performance enxuta, onde levo alguns poucos objetos, como o globo com o qual interajo nessa música. O objetivo é explorar a musicalidade  da poesia, reunindo vozes, sussurros, entodas. Com um sampler, sobreponho essas vozes, possibilitando uma polifonia", explica.

 

Todos os sons são misturados a projeções assinadas por Márcia Xavier, artista visual que tem uma grande contribuição nos trabalhos do músico; os dois mantém um relacionamento há quinze anos. É dela a parte gráfica de vários álbuns dele, além de outras parcerias, como o livro ET Eu Tu e algumas músicas, como a recente Orvalhinho do Mar, que encerra o álbum RSTUVXZ, lançado em maio do ano passado . "Ela pilota as projeções do computador, inserindo imagens relacionadas ao que digo, no ritmo do que falo", explica Arnaldo, ao dizer que está contente com a integração entre os dois no trabalho.

Na Flipelô, a performance ganhou um título que é em si mesmo uma figura de linguagem: Pelo (ô) Protagonismo Para Palavra Plástica Poética Popular. Uma aliteração, cuja repetição das sílabas faz do tema quase um trava-línguas.

Homenagens Daí a importância de Castro Alves, homenageado da Flipelô este ano. "Ele é um poeta de importância enorme para Bahia e paro Brasil. Na música Diáspora, [do último disco dos Tribalistas] eu declamo 'Deus! Ó Deus! Onde estás que não respondes? Em que mundo, em qu'estrela tu t'escondes ', que é um trecho de um poema dele. Castro Alves é um poera muito atual, nesse sentido, é um ícone, que falou dos negros, dos escravos, da liberdade. É um poeta extremamente simbólico", comenta.Trabalhador da palavra, Arnaldo promove de forma fluida uma conversa entre diferentes linguagens: poemas, ensaios, letras de música e caligrafias. Seu grande barato é simplesmente criar, seja lá para qual meio for. "A poesia é a alternativa a esse mundo terrível em que todos vivemos", costuma afirmar.

É por tudo isso, que ele comemora a realização de tantas festas literárias pelo país. "Mais do que nunca é necessário que existam eventos como esse, não só como incentivo à leitura - por incentivar o apego aos livros que estão sendo substituidos pelas telinhas -, mas porque a gente vive numa época de guerra contra a cultura. A gente tem que nutri essa resistência de afirmar os valores que acreditamos ser essenciais, da escuta do outro, da cultura, dos direitos humanos. O livro tem um tempo diferente e é essencial para gente pensar melhor, para gente proporcionar uma vida melhor a todos", defende.

Para ele, assim como a família e os professores, as festas literárias têm essa responsabilidade da dar um sabor à leitura. "Ninguém vai passar a ler o que não curte. Claro que as festas não dão conta de toda a problemática que envolve esse hábito, mas acho muito bem-vindas. É sempre um desafio", continua.

Poema sinfônico A noite será encerrada com um concerto da Orquestra Afrosinfônica no Largo do Pelourinho, às 20h. Na ocasião, eles apresentam o Poema Sinfônico Castro Alves, composto pelo repertório da orquestra e por músicas dedicadas à obra do escritor Jorge Amado; os arranjos e regência são do maestro Ubiratan Marques. Concerto da Orquestra Afrosinfônica será acompanhado de projeções do VJ Gabiru na fachada da Fundação Casa de Jorge Amado (Foto: Divulgação/ Facebook) A obra de Castro Alves ganha vida com os poemas O Povo ao Poder, O Navio Negreiro e As Duas Flores, a partir de intervenções do ator Jackson Costa e da projeção mapeada do artista Gabiru sobre a fachada da Fundação Casa de Jorge Amado. Das músicas dedicadas a Jorge Amado, destacam-se o arranjo inédito para É Doce Morrer no Mar, parceria de Dorival Caymmi com o autor do romance Mar Morto, e Maracatu do Congo, parceria de Ubiratan Marques com Mateus Aleluia que está sendo gravada para o segundo álbum da Orquestra Afrosinfônica.

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