'As lives são as novas avenidas', diz vocalista do Afrocidade

Grupo baiano lança EP nesta sexta-feira (15) e dá uma prévia do próximo disco

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  • Laura Fernades

Publicado em 13 de janeiro de 2021 às 06:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Iury Taillan/Divulgação

Os famosos encontros ao vivo do Afrocidade deram uma pausa por conta da pandemia, mas o grupo percussivo encontrou uma forma de não deixar essa chama se apagar. Para aplacar a saudade dos Afrobailes, shows que tomaram conta do Pelourinho antes da quarentena, o grupo lança na próxima sexta-feira (15) o EP Afrocidade na Pista. O anúncio foi feito nesta terça-feira (12), nas redes sociais do grupo.

Uma música inédita, uma releitura e duas velhas conhecidas dos shows compõem o trabalho que tem produção musical de Mahal Pita. "Na pista, que é nosso quilombo, o corpo é comunicação e instrumento desse movimento. A gente está vivendo em momentos pandêmicos e os meios de comunicação se tornaram a pista. As lives são as nossas novas avenidas. Ao materializar nossa arte com esses meios, a gente não deixa de se comunicar", explica o vocalista MCDO, 31 anos, ao CORREIO.

Também compositor do Afrocidade, MCDO conta que o EP é uma espécie de "resumão" da trajetória de dez anos do grupo. Ao mesmo tempo, é uma sinopse do que o público vai encontrar em seu primeiro álbum que será lançado pelo edital Natura Musical. Ainda sem data, o trabalho reunirá músicas inéditas gravadas durante um temporada de um mês em uma casa no Rio Vermelho.

Enquanto o trabalho não chega, o público pode desfrutar do EP que passeia por referências percussivas que vão de Timbalada a Fela Kuti. Estão lá os hits Que Swing É Esse, Te Liguei e Eu Vou no Gueto, que passam a ter nova roupagem. Esta última, por exemplo, ganha uma harmonia inspirada no trabalho do grupo de pagode Fantasmão. "Acabamos vendo que era isso que faltava pra música", comenta o vocalista. A inédita Tô Pra Onda completa o EP.

Fé Adaptar-se à nova realidade passou a ser uma urgência, afinal o grupo acostumado com os encontros ao vivo se viu de mãos atadas. As criações sempre partiam dos shows, da reação da rua às batidas percussivas, da captação daquela energia que emanava de forma presencial. De uma hora para a outra, tudo ficou diferente. "Nosso diálogo é coletivo, a partir do olhar, do encontro", reforça MCDO.

O EP, porém, fez o grupo se distanciar e entender sua criação. "O bom foi que antes da pandemia a gente fez um ao vivão no estúdio para captar energia. Veio a pandemia e a gente se adaptou o novo formato", lembra o vocalista do grupo que já passou por palcos importantes, como o do Coala Festival, da Virada Cultural de São Paulo e de cidades como Londres e Liverpool, na Inglaterra.

Criado em Camaçari, o grupo apresenta um som que bebe em influências africanas cada vez mais fortes. A ideia é fugir da já conhecida "música preta norte-americana" que "foi maravilhosa na década de 1990, mas a indústria monopolizou", explica o vocalista do Afrocidade. Artistas de Cabo Verde, Costa do Marfim, Nigéria e Angola passaram a fazer parte do repertório do grupo. O resultado pode ser visto no EP, mas com muito mais força no disco que está por vir.

Para os que estão com saudade dos shows, o representante do grupo avisa que não se deve deixar de ter fé. "A gente está vivendo um momento difícil de pandemia, momento de transformação individual e coletiva do ser humano, um processo social para olhar pra o outro e se unir. A gente está com nosso público, com nossa periferia", avisa.

Os obstáculos estão aí não para paralisar, mas para inspirar novas saídas acredita o vocalista."A dificuldade sempre veio pro povo preto da perfieria e a gente sempre aflorou nossa criatividade. A gente está usando nossa criatividade pra isso. A guerra continua. Mas lançando esse EP no início do ano é uma inspiração para renovar as forças", defende.