Assassino entrou com pró-reitor do Ifba em prédio e fugiu com carro da vítima

Polícia analisa imagens de edifício em Brotas; enterro de professor reuniu 500 pessoas

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  • Tailane Muniz

Publicado em 14 de agosto de 2018 às 21:30

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Almiro Lopes/CORREIO e Reprodução

Edifício em Brotas onde crime aconteceu (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) O assassino do pró-reitor de Desenvolvimento Institucional do Instituto Federal da Bahia (Ifba), Anilson Roberto Cerqueira Gomes, 46 anos, entrou junto com ele no prédio Modern Life, na localidade de Parque Bela Vista, em Brotas, no final da tarde dessa segunda-feira (13).

A informação foi passada ao CORREIO por um morador do residencial, que pediu para não ser identificado. Conforme a fonte, Anilson chegou ao prédio, por volta de 17h20, acompanhado de um rapaz, aparentando ter 20 anos.

"Uma pessoa que encontrou com eles numa área comum me disse que ele [suspeito] era baixinho, cerca de 1,60m, e tinha uma fisionomia 'fechada'. Não cumprimentou as pessoas e se manteve de cabeça baixa", contou à reportagem.

Pouco mais de uma hora depois, às 18h30, o assassino saiu com o carro do professor, segundo a testemunha, e foi indagado na portaria sobre o uso do veículo. "O porteiro perguntou: 'pra onde você vai com o carro de seu Anilson?' E ele respondeu: 'vou ali na faculdade e já retorno'. E então o porteiro liberou", acrescentou o morador. Pró-reitor e professor foi aluno do antigo Cefet, atual Ifba (Foto: Reprodução) Imagens Por meio de nota, a Polícia Civil informou que a vítima foi encontrada morta no interior do apartamento e confirmou que o carro do professor, um Toyota Corolla, foi levado pelo assassino. Até as 19h, o veículo ainda não havia sido localizado.

Imagens do circuito de segurança do prédio registraram imagens do suspeito com a vítima e o caso está sendo investigado como latrocínio (roubo seguido de morte). "O corpo da vítima foi encontrado no interior de seu apartamento, na Rua Professora Guiomar Florence, com marcas de facadas. A Polícia coletou imagens das câmeras de segurança do prédio e está analisando. Algumas testemunhas já foram ouvidas e as investigações seguem com o objetivo de identificar e localizar o autor", completa a nota.

O professor teria sido morto com duas facadas, sendo uma no pescoço e outra no abdômen. A informação, no entanto, só será confirmada após conclusão da perícia feita no corpo da vítima. 

Especialista em gestão de condomínios, o síndico profissional Valdir Barbosa acredita que as medidas de segurança adotadas pelo edifício não foram adequadas. "Uma pessoa sair com o carro de um morador é algo que não pode acontecer assim, tão tranquilamente. A menos que o morador tenha avisado previamente, o que me parece que não foi o caso", disse ao CORREIO.

Ainda de acordo com Valdir, alguns moradores são resistentes à identificação prévia de seus visitantes. "Eles enxergam isso como invasão de privacidade, infelizmente. Isso dificulta nosso trabalho. Porque, por exemplo, se o rapaz entrou com ele, foi consensual. Não podemos fazer nada quanto à entrada", explica.

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Preocupação No prédio onde morava há cerca de cinco anos, Anilson era visto como alguém querido, mas que despertava a preocupação de alguns vizinhos. "Os porteiros eram preocupados porque todo mundo sabia que ele morava sozinho, mas trazia frequentemente pessoas desconhecidas", contou uma moradora.

Outra vizinha do pró-reitor comentou que as visitas da vítima costumavam sair do prédio com o carro de Anilson, sempre dizendo que eram alunos, e que depois voltariam. "Tanto que quando foi o assassino, o porteiro liberou porque acontecia sempre", completou.

O corpo do professor foi encontrado por volta de 23h30, após funcionários do residencial desconfiarem do rapaz não ter retornado com o carro. "Eu me deparei com a polícia recolhendo o corpo dele. [O professor] Deve ter sido surpreendido", contou um vizinho. Ainda conforme moradores, nenhum grito ou pedido de socorro foram ouvidos.  Anilson morava há cerca de cinco anos no apartamento onde foi assassinado (Foto: Reprodução) De aluno a pró-reitor Formado em Arquitetura, Anilson foi estudante do antigo Centro Federal de Educação Tecnológica da Bahia (Cefet-BA), atual Ifba, e dava aulas para o curso de Engenharia Civil. Querido na comunidade acadêmica, o sepultamento dele, na tarde desta terça-feira (14), no Cemitério Jardim da Saudade, em Brotas, atraiu pelo menos 500 pessoas - muitos deles colegas de profissão, alunos, amigos e familiares.

Professor aposentado do instituto, Antônio Scardino trabalhou com o pró-reitor por muitos anos. "Ele foi essencial na ampliação do Ifba, antigo Cefet, para municípios do interior. Era ele quem fazia as vistorias dos locais e nos dava esse subsídio. Era aluno, foi professor e virou pró-reitor de um modo admirável, com uma carreira de respeito. Nós, da comunidade acadêmica, não temos o que dizer dele", completou Scardino, acrescentando que recebeu com surpresa a notícia da morte do colega de profissão. Parentes e amigos durante cortejo fúnebre no Jardim da Saudade (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) O aposentado Manoel Eduardo Pinheiro da Silva, 78, trabalhava como inspetor do Ifba quando Anilson entrou na instituição em 1978, àquela época como aluno. Jovem, o estudante gostava de ir para a escola sem fardamento e era repreendido por Manoel."Ele era muito educado, sempre foi. Mas quando eu cobrava a farda dele, ele não gostava, mas era incapaz de me desrespeitar. Dizia: 'por favor, seu Manu, é só hoje', e eu liberava", relembra o antigo funcionário do Cefet. "Virou professor e costumava esquecer o crachá, que eu cobrava também. Não gostava quando eu cobrava. 'Poxa, seu Manu, até hoje o senhor pega no meu pé', falava em tom de brincadeira", completou Manoel, saudoso.  Abalados, familiares não falaram com a imprensa (Foto: Almiro Lopes/CORREIO) Colega de Anilson, a assistente da equipe médica do Ifba, Creuza Nascimento, também falou sobre o quanto o professor era querido por todos. "Hoje, quando recebemos o comunicado do falecimento, e do modo que foi, ficamos todos estarrecidos. Eu lembro dele como aluno. São 41 anos no instituto, então, a gente sente e fica muito triste", contou ao CORREIO, acrescentando que o Ifba suspendeu o expediente nesta terça-feira ao meio-dia, para que todos pudessem ir ao enterro.

A simpatia e alegria do pró-reitor foram lembradas também por quem foi formado por ele. O engenheiro Fábio Damasceno, 30, disse que só guarda boas recordações. "A gente só tem coisas boas para falar dele. Muito, muito dedicado, e comprometido com a profissão. Eu devo muito da minha postura profissional a ele, que foi uma referência para mim", comentou.

Amigo da família, o aposentado Cremildo Queiroz, 65 anos, disse que Anilson era uma pessoa reservada e que não comentava muito de sua vida pessoal. "Eu sempre vou lembrar dele como alguém formidável e muito alegre. Tinha paixão pela vida. Ele não tinha filhos, então, andava com muitos amigos. Estamos todos muito chocados com tudo isso", declarou.

A mãe de Anilson participou do sepultamento, mas não quis conversar com a imprensa. Bastante abalada, ela acompanhou o cortejo de dentro do carro de transporte do cemitério. O pró-reitor era filho único.

Por meio de nota, a Universidade Federal da Bahia (Ufba) disse que "lamenta profundamente" a morte do professor. "Neste momento de dor e consternação, apresentamos nossos sinceros pêsames aos familiares, aos amigos, e a toda comunidade do Instituto Federal de Educação – Ifba", diz o comunicado. O Ifba também divulgou uma nota de pesar sobre o caso.

Leia na íntegra:"É com imenso pesar que o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (Ifba) comunica o falecimento do professor Anilson Roberto Cerqueira Gomes, pró-reitor de Desenvolvimento Institucional e Infraestrutura.

Anilson foi estudante da Instituição, professor do Campus Salvador e, como pró-reitor, atuou no projeto de expansão I, II, III, IV e V do IFBA, cujo objetivo foi implantar, no interior da Bahia, novas unidades. Em virtude disso, o Ifba decreta luto oficial e suspende as atividades por três dias. Será realizada uma missa hoje, 14 de agosto, às 16h na Capela ala C do Cemitério Jardim da Saudade. O sepultamento será às 16h30.

O Ifba lamenta profundamente o ocorrido e expressa suas condolências e solidariedade aos familiares e amigos."