'Bahia não vai sofrer retaliação em governo Bolsonaro', diz presidente do PSL baiano

Deputada está no Rio discutindo transição; veja baianos cotados no governo

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  • Thais Borges

Publicado em 29 de outubro de 2018 às 17:39

- Atualizado há um ano

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Ainda que Jair Bolsonaro (PSL) tenha perdido para Fernando Haddad (PT) na Bahia, a presidente estadual do partido do presidente eleito, Dayane Pimentel, garante que o estado não vai sofrer nenhuma “retaliação” do governo federal a partir de 2019. Na Bahia, Haddad recebeu 72,69 % dos válidos, contra 27,31% de Bolsonaro. 

“Não existe (a possibilidade) de forma alguma. Quando iniciamos esse processo, Bolsonaro já conhecia todo o histórico baiano. Ele se sente extremamente abraçado porque, por ser um estado em que a esquerda ainda tem um certo domínio, ainda assim as vozes que clamam por Bolsonaro são muito mais fortes”, afirmou Dayane, eleita deputada federal, por telefone, ao CORREIO. 

Dayane está no Rio de Janeiro (RJ) desde domingo (28), quando acompanhou a apuração dos votos com Bolsonaro. Após a confirmação da vitória de seu líder político, gravou com uma mensagem com ele sobre o sucesso de ambos nas urnas. Assista.

No Rio, Dayane tem participado de reuniões sobre o processo de transição do governo. Segundo ela, esse é o momento de “diálogos internos”.“O que nós sabemos é que nenhum partido de esquerda jamais fará participação alguma no novo governo. Estamos sentindo falta das técnicas no novo governo, porque é sempre nomeação política. A esquerda não vai compor (a base), mas estamos conversando com todas as outras siglas para ver quem pode se encaixar”, explica Dayane.  Dayane Pimentel diz ser a representante oficial de Bolsonaro na Bahia (Foto: Divulgação) Ela acredita que, dentre os partidos que estavam na coligação na Bahia (PHS, PPS e PRTB), nenhum deve permanecer por cláusulas de barreira. “A questão do PHS não bate muito com a nossa ideologia, mas podemos dialogar. Com a esquerda, não, mas com o restante, sim”, disse, sem querer adiantar possíveis nomes baianos que podem compor o alto escalão do governo ou aderir à base de Bolsonaro. 

Para fechar o “time” do novo Presidente da República, ela diz que tem tido “conversas produtivas” com alguns políticos, como o prefeito de Salvador ACM Neto (DEM), e o prefeito de Feira de Santana, Colbert Martins (MDB). Entre os membros do próprio partido, que elegeu dois deputados estaduais (Capitão Alden e Talita Oliveira), ela afirma ser a representante oficial de Bolsonaro no estado. 

“Estamos querendo abraçar outras pessoas, mas dizer que está com Bolsonaro só por dizer, a gente não aceita. Temos reuniões previstas, já estamos conversando com algumas lideranças e a gente vai estar anunciando a qualquer momento. Também temos pressa, afinal, o Brasil está um caos”, afirma. 

Possíveis nomes Ainda que a presidente estadual do PSL não confirme os nomes, o CORREIO conversou com figuras que dizem estar com Jair Bolsonaro ou que defenderam a candidatura do presidente eleito ao longo da campanha. Entre os deputados estaduais eleitos pelo PSL, o Capitão Alden, que teve 39.372 votos - o 58º deputado a entrar, de 63 -, diz que aguarda a reunião com a presidente para alinhar quem será a base de Bolsonaro no estado. 

Alden, que é policial militar lotado no Departamento de Pessoal, defende pautas sobre a redução da violência. “Na verdade, a gente vai tentar adequar as pautas nacionais para o estado. Temos um dos maiores índices de violência do país e existe um erro dos gestores que é tratar segurança pública apenas do âmbito da polícia, mas é um conjunto de ações”, defendeu ele, que também rechaça possibilidades de retaliação aos baianos. 

O presidente estadual do PHS, Júnior Muniz, afirmou que o partido realmente não tem uma definição, em nível nacional. A legenda deve se fundir com o PMN e, até lá, ainda não sabe como será o futuro. “Sem essa definição, não dá para dizer. Eu torço para que ele (Bolsonaro) faça um bom governo. Acredito no governo dele”. 

O PHS elegeu dois deputados federais – o cantor e vereador de Salvador Igor Kannario, com 54.858 votos, o 36º, de 39 eleitos, e o pastor Abilio Santana, com 50.345, o 37º. Kannário já fez críticas, em mais de uma ocasião, à Polícia Militar. “Ainda não sabemos qual é a vontade deles (dos deputados), mas vamos conversar. Acho que a gente vai entrar em um acordo para sair fortalecido”. 

Ministério Nos últimos dias, o nome da baiana Eliana Calmon começou a ser noticiado como uma das possíveis escolhas de Bolsonaro para o Ministério da Justiça. Ela foi citada até mesmo pelo ex-presidente interino do PSL, Gustavo Bebianno, ao lado do nome do juiz federal Sérgio Moro. 

Ministra do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de 1999 a 2013, Eliana era filiada à Rede Sustentabilidade, partido criado por Marina Silva. Antes disso, em 2014, inclusive, chegou a ser candidata ao Senado pelo PSB, mas ficou em terceiro lugar.  Eliana Calmon disse que não sabe se aceitará um eventual convite para o Ministério da Justiça (Foto: Arisson Marinho/Arquivo CORREIO) Após o primeiro turno, a Rede indicou neutralidade, mas defendeu que seus filiados não votassem no candidato do PSL. Após o posicionamento, ela deixou o partido. “Com a derrota de Marina, eu me posicionei favorável a Bolsonaro e, a partir daí, já entrei na campanha. Como tudo que eu faço, eu faço por inteiro, realmente fiz pronunciamentos, falei muito no ‘zap’ (Whatsapp), gravei entrevista. Só isso”, disse, antes de afirmar que pretende participar do governo Bolsonaro como cidadã brasileira. 

Por enquanto, ela afirma que não houve convites. Também não sabe se aceitará, caso exista um chamado. Hoje, ela comanda um escritório de advocacia em Brasília, especializado nas áreas de direito público e tributário nos tribunais superiores. “Já disse a ele que minhas bandeiras são o combate à corrupção no judiciário e em relação aos direitos da mulher. Fiquei extremamente surpresa, mas ainda não sei. Minha vida está toda esquematizada, dentro de um padrão que tracei e o Ministério da Justiça é um ministério extremamente difícil”. Quem viu Cláudio Silva na campanha de prefeito de Salvador, em 2016, talvez estranhe o fato de hoje ele ter sido um dos mais ferrenhos defensores de Bolsonaro na Bahia. Há dois anos, Silva era do PP, partido da base do governador Rui Costa (PT) e o mesmo do vice-governador João Leão. 

Hoje, ele é crítico do PT, mas diz que, desde aquela época, não criticava a direita. “Nossa campanha foi propositiva”, pondera Silva. Este ano, chegou a tentar ser deputado federal pelo PHS, mas, com 7.764 votos, não foi eleito. Figurinha frequente no alto dos trios que puxavam manifestações pró-Bolsonaro na Barra, Silva diz que deve “apoiar a mudança”.

Ele afirma que vai voltar às atividades empresariais – ele tem uma empresa de consultoria e tecnologia para gestão de cidades. “Estaremos sempre prontos para colaborar com a pátria. Caso não haja um movimento de mudança que seja benefício para todos, voltaremos às ruas para criticar não a figura de Bolsonaro, mas eventualmente em um governo mal-sucedido, que não acredito”.  Cláudio Silva não se elegeu e retomará atividades empresariais (Foto: Almiro Lopes/Arquivo CORREIO)