Baianas tomam susto com escolha para o The Voice+

Conheça Áurea Catharina, 69 anos, e Zeni Ramos, 67, novas vozes do reality da Globo

  • Foto do(a) author(a) Laura Fernades
  • Laura Fernades

Publicado em 20 de janeiro de 2021 às 09:52

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Artur Meninea/Gshow/Divulgação

Áurea Catharina, 69 anos, e Zeni Ramos, 67, foram as primeiras baianas selecionadas para o The Voice+, que começou no último domingo com uma nova versão dedicada às pessoas com mais de 60 anos. O curioso é que nenhuma das duas sequer imaginava que seria escolhida. Áurea, que mora em Porto Seguro, desacreditava tanto da possibilidade que quando a produção ligou pensou que fosse telemarketing.

E soltou os cachorros antes mesmo de escutar quem estava do outro lado da linha, afinal “aquele 021” ligou o dia todo para o celular dela. “Quando ouvi ‘aqui é a produção do The Voice+”, tive uma crise de riso. Foi o maior susto que tomei na vida!”, conta, rindo. Zeni, por outro lado, nem sabia que estava concorrendo. A família a inscreveu sem ela saber.

Quando descobriu, Zeni implorou para que não fossem adiante com aquela loucura. Mas foi voto vencido diante da “livre e espontânea pressão”, lembra. “Me apavorei. Disse ‘não tenho condição’, ‘olha minha idade, posso fazer papel ridículo’. Aí minha filha disse: ‘Mãe, sente aí que você vai gravar o vídeo’. Ainda bem que eles insistiram”, conta Zeni, sem conter a satisfação.

Zeni cantou Babalu, clássico de Angela Maria e garantiu uma vaga no time Claudia Leitte. Áurea, por outro lado, escolheu a música Fica Tudo Bem, de Silva, e entrou para o time de Daniel. Mas quem são essas novas vozes do cobiçado show de talentos da Globo? Não basta dizer que Áurea chegou a abrir um show de Simonal (1938-2000) no Maracanazinho e participou de um show de Vinicius de Moraes (1912-1980), enquanto Zeni já fez backing vocal para o Olodum e o Ilê Aiyê.

Reinvenção Elas vão além: são mulheres que desafiam a idade, se reiventam e buscam novas oportunidades depois dos 60 anos. “Achava que já tinha feito tudo em termos de música. Não achava que pudesse fazer uma coisa dessa natureza, de grande porte”, confessa Zeni, que foi a primeira mulher a cantar no Mosteiro de São Bento. No espaço sagrado, permaneceu por 37 anos ao mesmo tempo em que atuava como enfermeira.

Zeni começou a cantar com 10 anos, mas quando sua mãe percebeu que estava se empolgando muito, deu um freio: “Não, filha, cantora tem vida fácil. Vamos cantar na igreja”, lembra. Na época, sua família ajudou a construir uma igreja, carregando água e cimento, onde criou um coral e sua mãe a direcionou para o canto sacro.

“Como eu não podia cantar música popular, fui estudar. Fui fazendo enfermagem e cantando nas festas de Natal, de São João, casamentos, formaturas...”, cita Zeni, que chegou a ser indicada ao Troféu Caymmi de melhor banda de apoio. A música andava junto com sua atuação nos hospitais, afinal só assim conseguia enfrentar a dura realidade da profissão.

“A música me ajudou muito, porque trabalhar em ambiente hospitalar não é brincadeira. Lidar com sofrimento, com a dor das pessoas não é fácil. O que me aliviava era a música, ligava o som do carro e cantava. No dia seguinte estava renovada. Às vezes, cantava dentro do centro cirúrgico, além de cantar para os pacientes”, conta.

Em 2017, ela gravou um disco que considerou sua despedida na música. Os planos, com a aposentadoria, eram viajar e aproveitar a família. Até que tudo mudou. “Eu dizia que sou feliz, realizada, bem casada, meus filhos são ótimos, agora quero viajar, aproveitar a vida, já estou perto dos 70. Aí surgiu o The Voice e pensei: Meu Deus do céu, ainda tenho fôlego”, diz, orgulhosa.

Sonho “Quero te ver no palco da Globo”, era o que Áurea Catharina escutava da mãe há cerca de 20 anos. “Mas mãe, sou velha já”, respondia na época a então professora, achando que sua carreira de cantora não tinha futuro. Sem se dar por satisfeita, a mãe de Áurea insistia: “Catharina, Clementina de Jesus começou com 63 anos. Vá!”. Hoje, Áurea dedica sua conquista à sua mãe, que morreu há 15 anos: “Isso é por você e pra você. E vou botar pocando!”, avisa.

Com uma rotina de trabalho em barzinho de terça a sábado, Áurea comemora a nova fase. “Durmi Áurea Catharina e acordei Áurea Catharina do The Voice. A cabeça tem que estar muito boa, senão você pira. Como diz um amigo meu: o bagulho é doido (risos). Em um dia você tem o Instagram com dez pessoas, de repente o Rafa Vitti e o Silva estão me seguindo. Olha só o que o The Voice me deu? Sou eternamente grata”, vibra.

Para quem acredita que a partir dos 60 anos a vida já está perto do fim, Áurea dá uma lição. “Os 60 anos de dez anos atrás não são os mesmos de agora. Tenho um amigo médico que fala que a tendência é passar dos 100. E eu vou até 104, vou logo avisando. Anota aí!”, gargalha. O segredo da longevidade, em sua opinião, é cuidar do corpo e dar muito beijo na boca. “Você não vai encontrar uma velhinha aqui”, garante.

“Meus alteres são feitos com garrafa pet de um litro e meio, puxo ferro e faço hidroginástica em casa. E dou muito beijo na boca! É o antídoto ideal pra tudo. Ele para a velhice”, afirma Áurea, que já foi casada três vezes e hoje não quer saber de ninguém “comendo meu iogurte e abrindo minha geladeira”. “E o que apareceu de ex-namorado agora?”, gargalha. “Ao passado não volto nem a pau. E só namoro até 40 anos, porque depois é um tal de ‘dói aqui, dói ali’, completa, rindo.

Ao ser questionada sobre o que acha de um programa dedicado ao público 60+, Áurea reafirma que a vida só acaba com a morte. “Antes disso, tudo é viável”, defende. Então manda seu recado para os que temem seguir seu sonho: “Não fique com medo, vá. E se uma coisa não der certo, vá na outra. Uma hora vai dar. Agora, não se anule, porque você vai ficar velho mais rápido e vai arranjar doença mais rápido. Largue tudo isso, vá procurar seu sonho, seja ele qual for”.