BaianaSystem lança curta documental sobre ausência do Carnaval

Filme produzido pelo grupo musical em parceria com a Amazon Music traz reflexão sobre a não realização do Carnaval na terra do Carnaval pelo segundo ano seguido

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  • Ronaldo Jacobina

Publicado em 20 de fevereiro de 2022 às 07:00

- Atualizado há um ano

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Nos últimos 10 anos, o BaianaSystem tem se consolidado cada vez mais como uma das presenças mais aguardadas e celebradas do Carnaval de Salvador. Do alto do seu Navio Pirata, a banda liderada por Russo Passapusso arrasta multidões de foliões, provoca o público com debates importantes, como a política e as desigualdades sociais, reverencia as referências musicais ancestrais e sacode a galera no sentido mais amplo do verbo sacudir. Tudo isso sem desgrudar a vista do que acontece na avenida sempre com um olhar profundo para além da maior festa de rua do planeta.

CONHEÇA O CORREIO AFRO (Divulgação) Cena do filme com o ator Leno Sacramento no Centro Histórico Estas imagens, registradas na memória dos integrantes e documentadas por diversos fotógrafos, resultaram num extenso arquivo visual que, revisitado durante estes dois anos de pandemia, serviu de suporte para o curta-metragem Manifestação – Carnaval do Invisível, que a banda, em parceria com a Amazon Music, lança no próximo dia 21, segunda-feira,  no canal da plataforma musical no YouTube.  Ao longo de 20 minutos, o filme faz uma reflexão sobre a não realização, pelo segundo ano consecutivo, do Carnaval na terra onde esta manifestação cultural é considerada uma das festas de rua mais simbólicas do mundo.  

A obra é definida pelo vocalista da banda, Russo Passapusso, como “um manifesto visual a partir dos sentidos, percepções e reflexões provocados pela ausência do Carnaval em Salvador”. Passapusso ressalta que o BaianaSystem sempre foi muito audiovisual. “As músicas sempre vieram carregadas de imagens, de pesquisas, e ao longo da nossa trajetória, sempre refletimos sobre o comportamento do público, das cordas e outras questões que envolvem a festa. Nestes últimos dois anos sem a sua realização, nos debruçamos sobre este material e decidimos fazer essa leitura deste processo inerente ao nosso trabalho”, explica.  (Divulgação) Curta documental do BaianaSystem tem coprodução da Janela do Mundo Para complementar o seu precioso arquivo, o grupo foi buscar outros registros visuais de carnavais desde a década de 40 até os dias atuais, e construiu uma “obra manifesto” onde expõe seu pensamento e sentimentos a cerca do que essa ausência significa, fortalecendo o questionamento sobre como serão os futuros carnavais. Pergunta, aliás, que o irrequieto grupo, sempre questionador, tem feito desde sua primeira aparição na festa de rua da capital baiana. 

O resultado é um manifesto visual contado a partir do olhar do personagem invisível, o cidadão que é peça fundamenta para que a folia aconteça, que volta à cena para manifestar aquilo que os sentidos sozinhos não dão conta. “Uma testemunha da história com suas marcas e seu olhar mais profundo”, diz o guitarrista Roberto Barreto. 

Para dar agilidade e força à obra, os diretores Filipe Cartaxo, Letícia Simões e Russo Passapusso recorrem a uma metáfora colocando em cena um personagem, vivido pelo ator Leno Sacramento, do Bando de Teatro Olodum, que passeia pela cidade como um palco andante, que flutua pelas ruas de Salvador, com a cabeça coberta por uma espécie de “armadura” de cordas. A escolha das ruas do Centro Histórico para as locações, segundo Claudia Lima, da Janela do Mundo, coprodutora do filme, é pelo fato desta região “ser um território potente de construção de identidades”.  (Divulgação) Making of do filme Manifestação - Carnaval do Invisível Através de depoimentos, imagens de arquivo e metáforas visuais, a narrativa é costurada pela onipresença da música, substrato e fundamento da festa e conta com a participação de quatro personagens que têm uma forte ligação com o carnaval em seus diversos aspectos. Uma delas é a antropóloga baiana Goli Guerreiro, uma das mais importantes pesquisadoras dos ritmos locais e autora dos livros e A Trama dos Tambores e Terceira Diáspora. É ela quem abre o filme com uma presença luminosa e que “arrasta” o espectador para dentro da história que narra ali. “Bom demais fazer parte do documentário. Gente do bem reunida, pensando, transpirando. Energia alta, tipo carnaval: denso, crítico, belo. É sobre silêncio, é sobre nós. Aqui e agora, na sintonia do tempo, como `os baianas` sempre estão. Arte na veia!”, celebra Goli.

Outra lenda viva do Carnaval presente no curta-metragem é o músico e educador Mestre Jackson, com passagens pelo Olodum, Apaxes do Tororó e Comanches do Pelô e um dos criadores de células rítmicas que deram origem ao samba reggae e suas derivações. Para completar o time, tem também o músico e educador Ubiratan Marques, regente e diretor da Orquestra Afrosinfônica; e Mateus Rocha, cineasta e folião do trio elétrico Navio Pirata.  O documentário musical inédito foi realizado pela Máquina de Louco com produção associada da Janela do Mundo.

Ficha técnica Direção: Filipe Cartaxo, Letícia Simões e Russo Passapusso Elenco: Leno Sacramento, Goli Guerreiro, Mestre Jackson, Maestro Ubiratan Marques, Matheus Rocha, Emilly e Emanuelly do Rosário Silva Santos Trilha Sonora: BaianaSystem e Maestro Ubiratan Marques  Produção: Máquina de Louco Produção associada: Janela do Mundo Ano da produção: 2022 Duração: 20 minutos Estreia: 21/02/2022, no canal Amazon Music no YouTube

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