Bombeiros passam madrugada no rescaldo do incêndio de fábrica de colchões

Combate começou ontem e ainda não acabou

  • Foto do(a) author(a) Nilson Marinho
  • Nilson Marinho

Publicado em 20 de março de 2019 às 10:10

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO

Duas viaturas e 13 bombeiros ainda trabalham, na manhã desta quarta-feira (20), no rescaldo das chamas que consumiu 60% da fábrica de colchões Ortobom, no bairro de Valéria, em Salvador. Em frente à empresa é possível ver um carro do Corpo de Bombeiros estacionado. Funcionários retiram documentos e objetos que não foram atingidos pelo fogo. 

As equipes atuam no local revirando o material e eliminando possíveis focos de  reignição. As causas do incêndio ainda são desconhecidas, informa o Corpo de Bombeiros.

[[galeria]]

O clima entre os funcionários e trabalhadores, que eram beneficiados com a instalação da fábrica no bairro, lamentam o ocorrido. Muitos acompanham o trabalho do Corpo de Bombeiros desde o início, na manhã de terça-feira  (19). De acordo com um bombeiro, a equipe trabalha no combate a três focos de fogo que estão localizados em locais de difícil acesso. A dificuldade neste momento é de encontrar um caminho para chegar às chamas.  

O microempresário Diego da Silva, 28 anos, é filho do dono de um estacionamento que fica ao lado da fábrica. O local abrigava 16 caminhões de empresas terceirizadas responsáveis por fazer o transporte dos colchões.

"Meu pai trabalha aqui há 37 anos. Vamos esperar a empresa avaliar os danos e nos dar um posicionamento. É uma empresa responsável que empregava muitas pessoas de foram direta e indiretamente", lamentou.

Como o estacionamento está localizado bem próximo à fabrica, os caminhoneiros tiveram que tirar os veículos às pressas. O motorista José Carlos Moreira tinha três caminhões estacionados no local. Ele utilizou um deles para quebrar o muro e abrir caminho para os outros veículos. Há 20 anos ele trabalha como terceirizado para Ortobom."Por volta das 6h, um colega me ligou para avisar que era para retirar meus caminhões. Tive que dar duas rés para quebrar o muro e tirar os carros. Os bombeiros não queriam deixar, mas as labaredas estavam altas", relembrou. Os caminhões deles estão avaliados entre R$ 80 mil e R$ 100 mil. Todos sem seguro. "Seria o maior prejuízo se os meus caminhões fossem atingidos pelas chamas", completou.

A Defesa Civil de Salvador (Codesal) mantém o isolamento da área por conta do forte cheiro da fumaça que pode ser sentido nas imediações. No entanto, algumas famílias retornaram na manhã desta quarta para avaliar os prejuízos - ao todo, 20 imóveis no entorno da fábrica, nas ruas Eurico Temporal e Marcelino Garrido, tiveram que ser esvaziados.

Algumas das famílias, inclusive, não aceitaram dormir em um hotel do bairro, como foi proposto pela empresa Ortobom.

A cabeleireira Edinice Pio da Sé, 49 anos, por exemplo, acabou passando a noite na casa dos familiares em Valéria. Ela teve que deixar o imóvel, na companhia da filha de 22 anos, assim que o incêndio teve início. Sua casa está localizada na lateral da Ortobom. "Um funcionário da Ortobom saiu batendo nas casas, pedindo para que todos saíssem. Corri com minha filha, só com a roupa de dormir. Um susto muito grande porque a gente via as labaredas de longe", contou. Na sua casa, um pedaço do telhado metálico da empresa, de cerca de 1,5 m, foi parar na sala de estar. Com o impacto parte de um notebook, que estava em uma mesinha, acabou quebrando. Um tonel também foi projetado para a entrada da residência. 

Quem teve maior prejuízo foi o pedreiro Edcarlos Reis dos Santos, 20. Ele dormia ao lado da mulher, um filho e um enteado, na hora que as chamas começam a consumir a fábrica. "Peguei as crianças e sai correndo. Não sei como vai ser para recuperar a minha geladeira, fogão e armário que ficaram completamente destruídos. As crianças ainda estão no hotel e querem voltar para casa. Já expliquei para eles que vamos ter que mudar de endereço", contou. 

O engenheiro da Codesal, Expedito Filho afirmou que ainda existe material inflamável dentro da empresa, o que deixa o órgão e os bombeiros em alerta. "Temos que remover os escombros para poder combater o fogo, mas só podemos depois que o material, que está dentro de um tanque, for retirado", alertou.

Uma equipe da Companhia de Eletricidade do Estado da Bahia (Coelba) está no local para reestabelecer a rede elétrica. Às 9h30, técnicos informaram que parte da energia já havia sido religada nas ruas Eurico Temporal e Marcelino Garrido.

O fogo começou por volta das 5h50 de terça-feira (19) numa área restrita dentro da edificação, na Rua Eurico Temporal, no bairro de Valéria.Segundo o major Ramon Diego, que comanda a operação de combate, ontem, foram cinco frentes de atuação para confinar o fogo.

"Preservamos 40% da área edificada, a área de depósito, área de colchões, materiais, 14 caminhões e dois animais", explicou.

Com o apoio de órgãos da Prefeitura, caçambas de areia foram deslocadas ontem para estancar o avanço de um líquido inflamável, que vazou da fábrica. Muitas explosões foram ouvidas no depósito e os moradores da região saíram correndo.  

Fábrica vai receber incentivos fiscais A Secretaria Desenvolvimento Econômico do Estado da Bahia (SDE)  informou na tarde desta terça-feira que está acompanhando os desdobramentos do incêndio que atingiu a Indústria Baiana de Colchões e Espumas Ltda, a Ortobom, e que a pasta aprovou hoje a prorrogação de incentivos fiscais à empresa.

“A Ortobom gera 491 empregos diretos em Salvador e terá todos os incentivos legais do Estado para sua reconstrução. A fábrica, atingida pelo incêndio, que tem capacidade de produção mensal de 690 toneladas de blocos de espumas e 77 mil colchões, precisa desse suporte para se reerguer e continuar fomentando a economia da capital”, afirmou o vice-governador e titular da SDE, João Leão.

O benefício à empresa foi prorrogado durante reunião do Conselho do Desenvolve/Pró-Bahia, nesta terça-feira, na sede da SDE. A Ortobom deve assinar também, nos próximos dias, um protocolo de intenções com o Governo do Estado para ampliação de sua unidade industrial, com investimentos de R$ 9 milhões, gerando 100 novos postos de trabalho.

Órgãos da Prefeitura dão apoio a combate de incêndio Viaturas da Superintendência de Trânsito de Salvador (Transalvador) realizaram o bloqueio da via Marcelino Garrido, em Valéria, onde está localizada a fábrica de colchões que pegou fogo. A equipe foi deslocada desde às 6h29, assim que acionada, e o bloqueio ocorre para facilitar o acesso dos bombeiros e da estrutura necessária para combater o incêndio.

Equipes da Codesal também monitoram a área do imóvel e orientam moradores para que deixem as residências situadas nas proximidades do galpão, devido ao risco de intoxicação pela inalação da fumaça. Outros órgãos municipais, a exemplo da Limpurb e da Secretaria de Manutenção (Seman), também atuaram.    

*com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier