Cadê o jegue? Pela primeira vez, o bicho fica de fora do tradicional arrastão na Ribeira

Ministério Público barrou a participação do animal na Levada do Jegue, alegando maus-tratos por conta do barulho

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  • Priscila Natividade

Publicado em 24 de junho de 2018 às 18:58

- Atualizado há um ano

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. por Fotos: Mauro Akin Nassor/CORREIO

O dia é de São João, mas quem deu mesmo o que falar foi o jegue. Pela primeira vez, o bicho ficou de fora do tradicional arrastão que puxa há 35 anos, no dia em homenagem ao santo, pelas ruas do bairro da Ribeira. Segundo o organizador da Levada do Jegue, Moisés Cafezeiro, na sexta-feira (22), o Ministério Público (MP-BA) proibiu o jegue de participar do desfile. 

"Foi de última hora. Recebemos a intimação alegando maus-tratos ao animal por conta do som e aí tivemos que cumprir. Mas vamos entrar com uma ação na Justiça para o jegue voltar. É uma tradição de 35 anos que não faz mal nenhum e só leva alegria", afirmou Moisés.

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O cortejo saiu com um pouco mais de 1h de atraso, ainda na expectativa de que o jegue aparecesse. “Estão dizendo aí que ele não vem este ano, mas isso nunca aconteceu. Aí estamos aqui esperando para ver”, afirmou um dos músicos da fanfarra, que para não criar treta diante da boataria, preferiu não se identificar.

E não deu para o jegue. Mas foi só puxar um clássico de Gonzagão, que o arrastão saiu assim mesmo. E logo ali na frente, quem puxou o xote foi a aposentada Marina Pires, 88 anos. “O jegue não veio, mas animação eu tenho de sobra”. Falta, o bicho até fez, mas para o funcionário público Vicente Grana, 51 anos, deu pra compensar com o forró. “Cortaram o bichinho, que é uma tradição nossa. Falta faz, né? Mas o arrastão não pode deixar de acontecer”.  Aposentada Marina Pires, 88 anos, marcou presença no arrastão (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Tradição Tudo começou com o pai de Moisés. No São João, tinha o Jegue de Cueca, que vinha de Massaranduba, e a Jegue de Calçola, do Uruguai. Os dois arrastões se encontravam no Largo do Papagaio. Durante o percurso, os foliões batiam de porta em porta pedindo licor. 

“Moro no bairro há 60 anos. O jegue vai ficar na saudade só hoje. Vamos resolver essa situação. A tradição não pode morrer”. Dia de jogo do Brasil também tem desfile. “Todo jogo da Seleção na Copa a gente sai. É quando o jegue fica melhor”, completa Moisés.  Vicente Grana (de verde), 51 anos, compensou a falta do bicho com forró (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Barrado pelo MP, o jegue não fez muita falta para o técnico de segurança Kauã Batista, 33, e as filhas Samira e Serena. “A alegria e a união do povo é mais importante. Mesmo com o país em crise a gente não perde a esperança e a fé”. 

Já para o funcionário público, Everaldo Ribeiro, 57, mas conhecido no bairro como Vevéu, o jegue tem que voltar. “Todo ano a carroça vinha enfeitada. A gente trata o jegue com o maior cuidado e carinho que você possa imaginar. É uma coisa tradicional que não pode deixar de ter”, pontuou.

O licor, pelo menos, estava liberado. “Aqui é tudo de bom. Eu deixei de viajar porque o melhor São João que tem é esse daqui”.