Calheiros não é Jean Wyllys

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  • Malu Fontes

Publicado em 4 de fevereiro de 2019 às 05:00

- Atualizado há um ano

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As eleições que conduziram Jair Bolsonaro à Presidência da República todos os dias dão sinais de que não acabarão nunca, em termos de clima político nas ruas, na imprensa, nas redes. O tom da polarização, o bate-boca do eleitorado vitorioso e derrotado nas urnas, as rupturas entre amigos e familiares são eventos ainda não superados. Nesse final de semana, mais um round: a eleição para a presidência do Senado, que estatelou as pretensões do senador Renan Calheiros, cujo poder e influência vêm desde o tempo da República das Alagoas e de Canapi, os velhos tempos de Fernando Collor de Mello.

O clima circense prevaleceu poderoso na sessão de sábado e derrubou a certeza de Calheiros de continuar surfando nas ondas do poder do Senado. O capo das Alagoas estava certo de presidir o Senado, e, aparentemente, sob os auspícios do clã Bolsonaro. Renan estava certíssimo de continuar poderoso, dando as cartas nas Alagoas, onde reelegeu o filho governador, e no Planalto Central. Mas o caos político brasileiro às vezes age contra seus próprios intestinos. O Senado tem 81 senadores. Pois bem: já estava decidido que Renan, em votação secreta, seria eleito o presidente da Casa pela maioria dos pares.

SENADOR PRESO - Sim, o surrealismo político brasileiro é tamanho que vivemos para ver Renan Calheiros usar o ex-deputado federal do PSOL (RJ) Jean Wyllys (que renunciou ao mandato sob o argumento de que tanto ele quanto sua família estão sendo ameaçados de morte) como referência bibliográfica, digamos. Diante da aparente fraude, que fez aparecer 82 votos onde só poderia haver 81, era preciso desmanchar tudo. Propôs-se voto aberto e vá entender: Renan Calheiros estrilou. Era algo antidemocrático. Mas assim foi.

Depois de 81 senadores somarem 82 votos, ficou bem desenhado como a matemática política no Congresso Nacional pode ser numericamente precisa. Diante dessa conta, a marca da seriedade das coisas no Brasil sempre parece ainda mais risível. Quem era um dos principais fiscais do controle numérico das urnas? O senador Acir Gurgacz, do PDT de Roraima. A condição pessoal de Gurgacz é ótima para fiscalizar a legitimidade da honestidade e rigor de qualquer processo legal: ele, embora de posse de um mandato de senador, está preso e comparecerá às sessões do Senado graças às prerrogativas da condição de preso em regime semiaberto.

DAVI OU GOLIAS? - Com o voto de um senador inexistente e a proposta de nova sessão, com votação aberta, Renan Calheiros, jogou a toalha. Não participaria de uma votação com manifestação aberta dos pares. Assim, elegeu-se Davi Alcolumbre, um dos senadores mais jovens da Casa, 41 anos, do DEM de Amapá. E como não achar o Brasil engraçado? Com a eleição de Alcolumbre, só se fala em “renovação no Senado”. Mas, diante de Calheiros, um senador de 41 anos do Acre, é revolucionário. Além de um sedutor aparentemente eficientíssimo: foi eleito com o apoio do senador Randolfe Rodrigues, da Rede do Amapá, e do ministro tatuado da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. Água e óleo ideologicamente falando.

Ao ver sua eleição subindo no telhado, Renan retirou a candidatura, mesmo após o argumento de que ele não era Jean Wyllys e não renunciaria ao mandato. Ora, e por que renunciou à candidatura? E sobre Davi, aninhou: ele não é um Davi. É Golias. Se Renan acha alguém Golias, deve ser mérito do objeto da nomeação ou algo a ser considerado não tão ruim assim.