Camille Paglia realiza conferência em Salvador nesta terça (15)

Polêmica crítica cultural norte-americana participa do Fronteiras Braskem do Pensamento, no Teatro Castro Alves, às 20h30; relembre declarações polêmicas dela

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  • Naiana Ribeiro

Publicado em 14 de agosto de 2017 às 16:10

- Atualizado há um ano

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A intelectual e crítica americana Camille Paglia, 70 anos, desembarca em Salvador nesta terça-feira (15) para participar do Fronteiras Braskem do Pensamento, no Teatro Castro Alves (TCA), às 20h30. Na capital baiana, o evento já recebeu o escritor moçambicano Mia Couto, em julho. Em setembro, a atração é Graça Machel. Uma das intelectuais mais influentes da atualidade e a principal teórica do pós-feminismo, Camille é conhecida por suas opiniões polêmicas sobre temas como feminismo, sexualidade, política, religião, entre outros. 

A importância dela no universo intelectual caracteriza-se pela quebra de paradigmas e por uma relação tênue entre vida pública e privada, ao assumir-se, ainda na universidade, como homossexual, sofrendo preconceito de colegas e professores. Apesar da formação clássica, valoriza a cultura popular e massiva no ambiente acadêmico. No início dos anos 1990, Camille despontou como escritora com o livro Personas Sexuais, em que resgatava a influência dos papéis sexuais e do sexo na história da arte e da literatura. Apesar de ser declaradamente feminista, já sofreu muitas críticas por fazer ressalvas ao feminismo. No seu livro mais recente lançado no Brasil, a intelectual retorna aos seus estudos de origem: em Imagens cintilantes, destaca a história das artes plásticas a partir de 29 obras representativas de estilos e contextos sociais, do túmulo da Rainha Nefertari do Egito ao cinema norte-americano de George Lucas.

Confira entrevista exclusiva com a intelectual americana

Camille Paglia nasceu em Endicott, no estado de Nova York, em 2 de abril de 1947. Ela é professora da The University of the Arts, na Filadélfia, desde 1984. Liberal, define-se a favor da liberação de drogas, aborto, prostituição e pornografia. Tornou-se muito conhecida após publicar, no início dos anos 90, um artigo em que apontava Madonna como o futuro do feminismo. "Sou a favor da igualdade: peço o fim das barreiras ao avanço da mulher. No entanto, sou contra o protecionismo especial para as mulheres" (Foto: Divulgação) Luta social das mulheres A teórica, que já esteve em Salvador, em 2008, realizando a conferência Variedades do erótico na arte do século XX, analisa de forma crua a atual luta social das mulheres. “Acredito que um feminismo forte deve basear-se no respeito pelo homem, admiração pelo que alcançaram através da história. Esse retrato dos homens como sendo opressores é uma calúnia grosseira. Houve homens criminosos? Sim, certamente, mas os homens deram sua vida, através da história, pelas mulheres e pelas crianças. As mulheres precisam se responsabilizar por suas vidas e parar de culpar os homens por seus problemas, que têm mais a ver com questões e estruturas sociais e não são fruto de uma conspiração masculina”, afirma.

Ela completa dizendo que a infelicidade que muitas mulheres sentem hoje resulta em parte da incerteza delas sobre quem são e sobre o que querem nesta sociedade materialista, que espera que a mulher se comporte como homem e ainda seja capaz de amar como mulher. "Quando eu vou a Nova York, vejo essas mulheres nas ruas: bem cuidadas, lindas, bem-sucedidas, graduadas em Harvard, Yale e… tediosas! Te-di-o-sas. Não têm nenhuma mística erótica. Acho que o número de homens gays vem aumentando porque os homens são mais interessantes do que as mulheres”, polemiza.  

Relembre cinco declarações polêmicas da teórica1. “As mulheres nunca serão verdadeiramente livres se não deixarem os homens serem livres”No canal do Fronteiras do Pensamento, a intelectual fala sobre seu novo livro - uma coleção de seus textos que mais fizeram sucesso falando sobre gênero, sexo e feminismo de 1990 a 2016 -, sobre feminismo nos Estados Unidos, liberdade e pensamento. Ela argumenta que os homens devem ter o direito de determinar suas próprias identidades, interesses e paixões, sem a vigilância intrusiva e censura das mulheres com sua própria agenda política. "Por exemplo, se há um Centro das Mulheres oficial na Universidade de Yale (que existe mesmo), deveria haver um Centro dos Homens também — e os homens de Yale deveriam ser livres para fazer e dizer o que quisessem lá, sem gente bisbilhoteira pronta para denunciá-los ao escritório totalitário de assédio sexual", diz.  2. "Mulher deve ser maternal e parar de culpar o homem"Em entrevista à Folha de S.Paulo, a ensaísta afirmou que aposta na revalorização do lado maternal da mulher como chave para um reencontro afetivo entre os sexos. "As mulheres precisam se responsabilizar por suas vidas e parar de culpar os homens por seus problemas, que têm mais a ver com questões e estruturas sociais, e não são fruto de uma conspiração masculina", disse. Na mesma entrevista, ela se declara transexual, critica a produção da arte contemporânea e diz que Madonna deve parar de competir com as mulheres mais jovens. "Eu concordo que precisamos de igualdade de condições, mas isso não vai resolver os problemas entre os sexos", pontuou ainda. 

Em quase todos eventos que participa, Camille discute o desejo das mulheres de terem filhos. Segundo ela, isso foi deixado de lado pelas feministas contemporâneas. Veja trecho da conferencista do Fronteiras do Pensamento 2007 e 2015.

3. "O feminismo não é honesto com as mulheres"Em entrevista à Época, a americana diz que o movimento iludiu uma geração ao afirmar que era possível cuidar da carreira primeiro e ter filhos depois – plano frustrado pelas limitações da natureza. 4. "Nós sufocamos os homens. As mulheres pedem aos homens que eles sejam o que não são, e quando eles se tornam o que não são, elas não os querem mais"A intelectual discorda de praticamente todas as feministas modernas. Em entrevista a Revista Veja feita em março de 2014, Camille defende que as mulheres fazem com que os homenas se sintam errados o tempo todo. 5. O feminismo tornou-se um movimento que “protege um estilo de vida burguês”Em entrevista ao The Wall Street Journal, a professora defende que as pessoas, sejam homens ou mulheres, “precisam de estar permanentemente à defesa” porque “o mundo está cheio de potenciais perigos e desgraças.” Ela reafirma que os problemas das sociedades ocidentais se devem à influência negativa de certas correntes do feminismo e diz que essas “protegem um estilo de vida burguês”, criam uma “mentalidade infantil” e um ambiente social “desumano e antisséptico”.