Caminhada da Liberdade comemora o Dia da Consciência Negra

Cortejo saiu do Curuzu e foi até o Centro Histórico

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  • Milena Hildete

Publicado em 20 de novembro de 2017 às 23:00

- Atualizado há um ano

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 A nova edição da Caminhada da Liberdade ocorreu no ritmo da percussão (Foto: Arisson Marinho/CORREIO) O batuque dos tambores dos blocos afros de Salvador fizeram a 17ª edição da Caminhada da Liberdade parecer um verdadeiro Carnaval fora de época, na tarde desta segunda-feira (20). As milhares de pessoas que saíram do bairro do Curuzu até o Pelourinho, no Centro Histórico, dançavam e cantavam para anunciar a resistência e resgatar a ancestralidade do povo negro. O evento foi o ponto alto das comemorações do Dia da Consciência Negra em Salvador.   Quando a caminhada começou, o sol já estava quase indo embora. Ao som da canção “Depois que o Ilê Passar", o Mais Belos dos Belos, como o bloco afro Ilê Ayiê é chamado, deu o ponto de partida da festa. Outros blocos, como Malê Debalê e Os Negões completaram a festa.

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Nem o atraso do primeiro fez com que os participantes desanimassem. Teve gente que até matou aula para participar do festejo. Foi caso da estudante de ensino médio Eduarda Victória, 18 anos. Com farda e tudo, ela seguiu atrás do trio, e explicou o motivo da decisão de participar do evento. "Eu sou preta e gorda, como é que deixa de vir para cá hoje? A escola vai ficar pra amanhã", comentou.Dona Jaciara Maria Anunciação, 61 anos, também não deixou de marcar presença. A aposentada, que sai no Ilê, todo Carnaval, há mais de 44 anos, perdeu a visão há cerca de cinco, quando foi vítima de um AVC. Apesar das limitações, ela não deixa de participar da caminhada.“Aqui eu sou feliz. Me sinto feliz por ser negra e sou apaixonada pelo Ilê”, disse.Na companhia da mãe, a estudante Núbia Silva, 20, comemorou a 17ª participação no evento. Ela se enfeitou e fez questão de colocar uma roupa bem colorida para ir à caminhada. “Todas essas expressões corporais, como o nosso canto e dança, simbolizam a força do mundo negro, a nossa resistência”, explicou a jovem.

Sua mãe, a agente comunitária Lucidalva Silva, vê na celebração uma oportunidade de refletir sobre a situação do seu povo. “Hoje é um momento de refletir a inclusão dos negros na sociedade”, avaliou.

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E o feriado? A secretária da Promoção da Igualdade Racial, Fábia Reis, aproveitou para falar sobre o projeto de lei federal 296/2015, que propõe que o Dia da Consciência Negra se torne um feriado nacional. “É uma agenda extramente importante do ponto de vista simbólico, porque nós temos um grande herói, que é Zumbi dos Palmares", citou.

O fundador e presidente do bloco, Antônio Carlos dos Santos, o Vovô do Ilê, falou sobre a importância da figura de Zumbi, um dos líderes do Quilombo dos Palmares, o maior dos quilombos do período colonial. “Antigamente, saíam grandes delegações para celebrar Zumbi em Palmares (Alagoas). É importante que a gente trate Zumbi como um herói e não como uma assombração”, defendeu. “No nosso dia a dia, ele [Zumbi] precisa ser lembrado através das músicas, das escolas”, completou.

Nesta quinta-feira (23), a Defensoria Pública do Estado (DPE) vai realizar a segunda edição do Júri Simulado – releitura do Direito na História, que encena o julgamento de Zumbi dos Palmares. A ação é uma homenagem ao Novembro Negro e vai ocorrer na Rua Pedro Gama, na Federação.

A série Júri Simulado  – releitura do Direito na História é um projeto do subdefensor público geral do Estado, Rafson Ximenes, da subcoordenadora da Especializada de Direitos Humanos, Eva Rodrigues, e do defensor público Raul Palmeira. A série traz a proposta de garantir o resgate dos direitos de personagens da história popular que, à época, não puderam exercer a prerrogativa de todo acusado: o contraditório e a ampla defesa efetiva. A doutora em história Wlamyra Ribeiro de Albuquerque fará uma palestra no encerramento do evento.

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