Casos de racismo no futebol aumentam 72% em 2017; BA é 2º lugar

Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol foi lançado na Fonte Nova

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  • Bruno Queiroz

Publicado em 17 de dezembro de 2018 às 19:58

- Atualizado há um ano

. Crédito: Felipe Oliveira / EC Bahia

A Fonte Nova sediou nesta segunda-feira (17) o evento de lançamento do Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol, em uma parceria entre o Esporte Clube Bahia e o Observatório da Discriminação Racial no Futebol, fundado em 2014 pelo administrador gaúcho Marcelo Carvalho.

O relatório registrou 77 casos de discriminação em 2017, divididos entre racismo, machismo, LGBTfobia e xenofobia em todos os esportes envolvendo atletas brasileiros, tanto em território nacional quanto no exterior. Destes, 43 foram de cunho racista no futebol brasileiro. Houve um crescimento de 72% em relação a 2016, ano em que 25 casos foram registrados. A marca superou inclusive o número registrado em 2015, que foi de 35 casos no Brasil, recorde até então.

O estado com mais ocorrências de discriminações foi o Rio Grande do Sul, com 10. A Bahia aparece em segundo lugar, com três casos, empatada com o Rio de Janeiro. Este é o primeiro ano que a Bahia tem registros do tipo.

Desde que foi fundado, em 2014, o Observatório notificou 86 casos de discriminação no Brasil. O Rio Grande do Sul também lidera os números gerais, com 26 registros. Os três estados do Sul do país estão entre os cinco com mais casos registrados. Ao lado da Bahia, a Paraíba é o estado onde há maior incidência no Nordeste, com outros três casos nos quatro anos analisados.

“O Bahia é um clube que hoje, no Brasil, está identificado com a luta da questão do preconceito e da discriminação. Por essa luta, surgiu esse convite e o Bahia aceitou. É uma parceria que nasce com o lançamento do Relatório. A ideia é que a gente tenha uma agenda de ações para 2019”, afirmou Marcelo Carvalho. 

Além de representantes do Observatório, o evento na Fonte Nova recebeu Vilma Reis, ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia, a líder religiosa e ativista Makota Valdina, além do ex-jogador João Marcelo, campeão brasileiro pelo Bahia em 1988. Uma mesa de debate foi mediada pelo atual presidente tricolor, Guilherme Bellintani.

“O Observatório tem essa iniciativa de forma pioneira, para nós é um prazer enorme fazer parte disso. A gente dá um passo largo para colocar o combate ao racismo como uma política institucional do Esporte Clube Bahia e não mais como uma coisa pontual”, disse Bellintani. 

Os casos na Bahia Em 12 de março de 2017, no jogo entre Jacuipense e Flamengo de Guanambi, pelo Campeonato Baiano, o camaronês Koffi, do Flamengo, acusou o técnico do Jacuipense, Clebson Araújo, de injúria racial por tê-lo chamado de “macaco” e “macaco preto”. O atleta registrou queixa na delegacia de Riachão de Jacuípe, mas não há informações sobre a resolução do caso ou qualquer punição.

Quase um mês depois, no Ba-Vi do dia 9 de abril, câmeras que transmitiam a partida, também válida pelo estadual, mostraram Lucas Fonseca, do Bahia, fazer gestos em direção a Kanu, do Vitória, insinuando que o jogador rubro-negro estava com mau hálito. Kanu entrou com um processo alegando que o gesto teria causado danos à imagem dele e que, nas redes sociais, passou a ser chamado de “homem do bafo”.

Por fim, em outro clássico, mas pelo Campeonato Brasileiro, em 22 de outubro do ano passado, Renê Júnior afirmou ter sido chamado de “macaco” pelo colombiano Tréllez, do Vitória. O atacante rubro-negro foi denunciado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva, no artigo 243-G , por “ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”. Acabou absolvido.

Mais dois casos relacionados à Bahia, porém que ocorreram através das redes sociais, foram registrados. Um deles envolvendo o ex-jogador tricolor Feijão, que, após publicar uma foto do orixá Ogum, foi chamado de “macumbeiro” por um usuário. O atleta, no entanto, não registrou ocorrência.

O outro envolveu uma montagem na qual duas torcedoras negras do Bahia eram comparadas a torcedoras brancas do Grêmio com a legenda: “Ainda tem gente que acha que time é tudo igual”.

Para ler o Relatório Anual da Discriminação Racial no Futebol na íntegra, clique aqui.

*Integrante da 13ª turma do programa Correio de Futuro, com supervisão do editor Herbem Gramacho.