Clubes da Série A decidem criar liga para organizar o Brasileirão

Documento foi assinado por 19 das 20 equipes que disputam o torneio; única exceção foi o Sport

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  • Da Redação

Publicado em 15 de junho de 2021 às 15:51

- Atualizado há um ano

. Crédito: Lucas Figueiredo/CBF

Dezenove dos vinte clubes que fazem parte da Série A assinaram um documento em que concordam em fundar uma liga para organizar o Campeonato Brasileiro, o que atualmente é feito pela CBF. O acordo foi entregue à entidade nesta terça-feira (15), em reunião dos times com a diretoria da confederação, no Rio de Janeiro.

A intenção é organizar o torneio já a partir do ano que vem. Os clubes, porém, sabem que as negociações podem demorar mais do que isso. Mas o consenso é que um pontapé inicial era necessário. De acordo com o plano, serão respeitados os critérios de acesso e descenso estabelecidos no Brasileirão atual, além da posição final das equipes nas competições de 2021, segundo o site ge.

O único clube que não assinou o documento foi o Sport. No entanto, o Leão pernambucano não é opositor da ideia, mas não fez parte já que está sem presidente. Milton Bivar renunciou nesta terça-feira e uma nova eleição ainda não foi marcada.

Em entrevista na saída da reunião, o presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, disse que a liga não deve ser vista como uma ruptura com a CBF. O discurso foi o mesmo dos dirigentes de Flamengo e Palmeiras, Maurício Galliote e Rodolffo Landim, respectivamente. 

O objetivo com o projeto é que os clubes tenham o controle do regulamento da competição e da captação das receitas. Outro ponto é a divisão do calendário, evitando que as equipes sejam prejudicadas nas data Fifa. 

"A liga não tem interesse em desafiar a estrutura da CBF. Vamos ser parceiros da CBF em outras competições também. Mas nós temos premissas que precisamos mudar para que os clubes tenham mais participação em discussões políticas da CBF. A gente quer continuar parceiro, mas temos um desafio próprio de autonomia", afirmou Guilherme Bellintani ao Uol.

Nas redes sociais, o presidente do Bahia mostrou o documento assinado e afirmou que os clubes da Série B também foram convidados para a liga.

"'A união dos clubes de futebol é uma ingenuidade sua'. Não, não era. Hoje 19 clubes de Série A assinaram o compromisso de criação imediata da Liga de Futebol do Brasil. Série B já foi convidada. Pedimos também equiparação nos votos na eleição da CBF e fim dos filtros de candidatura", escreveu Bellintani."Há muito o que fazer, e isso começa já. Por novo calendário, mais planejamento, investimentos e receitas. Por democracia, com equilíbrio, união e trabalho. Sem conflitos, sem ressentimentos. Nós, clubes de futebol, queremos chegar mais próximo do que cada brasileiro espera de nós", seguiu o presidente do Bahia.

Presidente interino da CBF, Antonio Carlos Nunes, conhecido como Coronel Nunes, participou apenas de uma pequena parte da reunião com os clubes. Ele precisou se retirar para fazer exames e cuidar de questões pessoais. A entidade, então, foi representada pelos vice-presidentes Fernando Sarney, Gustavo Feijó, Castellar Guimarães Neto e Ednaldo Rodrigues, além do secretário-geral Walter Feldman. 

Afastamento de Caboclo Segundo o Uol, as articulações para a criação da liga começaram após Rogério Caboclo ser afastado da presidência da entidade por causa de uma denúncia de assédio sexual e moral. Isso porque os clubes já haviam manifestado insatisfação, e a ausência de um líder de fato facilitou a união dos times.

Além da criação da liga, outra pauta é a reivindicação de que os clubes tenham participação igualitária na eleição da entidade. De acordo com o estatuto da confederação, há dois tipos de Assembleia Geral. A Administrativa é a que tem os maiores poderes. Por exemplo, toma decisões como destituir o presidente e votar as prestações de contas da CBF. Integram as 27 federações estaduais de futebol.

Já a Assembleia Geral Eleitoral, que só se reúne para escolher o presidente e os vices, tem a participação dos clubes. Mas, ainda assim, eles têm peso menor nas votações. As 27 federações têm peso 3 (portanto, 81), enquanto os votos dos 20 clubes da Série A têm peso 2 (40). Os votos dos clubes da Série B, por sua vez, têm peso 1 (ou seja, 20). 

No documento, os clubes exigem que a CBF estabeleça a igualdade de votos entre os clubes e federações. Ou seja, que cada um tenha peso 1 na eleição. 

Para a criação da liga, segundo o artigo 24 do estatuto da CBF, é necessário ter a aprovação da Assembleia Geral Administrativa. Ou seja: curiosamente, para tirar o poder das federações estaduais, é preciso ter a aprovação dessas mesmas federações estaduais.

O plano de criação da liga vem em um momento financeiro conturbado para as equipes. De acordo com o levantamento do blog de Rodrigo Capelo, somando os 20 clubes que disputaram a Série A em 2020, os quatro que subiram este ano para a primeira divisão e o Cruzeiro, o endividamento total chega a R$ 10,83 bilhões. Já as receitas dos clubes somam R$ 4,67 bilhões - menos da metade.

Veja a íntegra do documento entregue pelos 19 clubes à CBF:

"Por unanimidade dos presentes, 19 Clubes da Série A do Futebol Brasileiro – em razão de diversos acontecimentos que vêm se acumulando ao longo dos anos e que revelam um distanciamento total e absoluto entre os anseios dos clubes que dão suporte ao futebol profissional brasileiro e a forma como que é gerida a CBF – reunidos nesta data, decidiram adotar postulações e resoluções na forma abaixo elencada:

1. Requerer a imediata alteração estatutária que consagre uma maior participação dos Clubes nas decisões institucionais e na gestão da CBF, admitindo-se os clubes como filiados desta entidade;

2. Dentre os itens desta alteração estatutária, necessariamente deve ser incluída a votação igualitária nas eleições para escolha do Presidente e Vice-Presidentes da CBF, sendo certo que Federações e Clubes das Séries A e B terão seus votos contados de forma unitária e com o mesmo peso entre si;

3. Ainda no que se refere à alteração estatutária, inclui-se o fim dos requisitos mínimos para inscrição nas chapas concorrentes à eleição desta entidade, abolindo-se a necessidade de apoio de 8 (oito) federações e 5 (cinco) Clubes, permitindo-se o lançamento de chapas que tenham o apoio expresso de, ao menos, 13 eleitores independente de serem clubes ou federações;

4. Comunicar a decisão da criação imediata de uma Liga de futebol no Brasil, que será fundada com a maior brevidade possível e que passará a organizar e desenvolver economicamente o Campeonato Brasileiro de Futebol. Além dos Clubes signatários, os Clubes da Série B serão convidados a integrara a Liga.

Os clubes adotarão medidas efetivas para consumar a sua associação, para, de forma organizada, exercerem a administração do futebol brasileiro e do seu calendário".