Comércio terá mais acessibilidade e será mais sustentável

Prefeitura vai requalificar o bairro nos próximos meses; veja imagens

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  • Gil Santos

Publicado em 10 de maio de 2018 às 09:00

- Atualizado há um ano

. Crédito: Foto: Marina Silva/ CORREIO
Como vai ficar a Praça da Inglaterra por Imagem: Divulgação/PMS

O estudante de direito Arnaldo Nascimento, 41 anos, passou por sufocos na tarde desta quarta-feira (9), no bairro do Comércio. Ele é cadeirante e estava com sérias dificuldades para se locomover na Rua Miguel Calmon, por conta da falta de acessibilidades das calçadas. Ele bem que tentou, mas precisou de ajuda para atravessar.

“Tenho que vim toda semana ao Comércio e é sempre igual. As ruas não estão preparadas para integrar pessoas com deficiência. Aqui perto tem uma loja reformando a calçada. Pergunte se eles farão uma rampa? Não terá”, afirmou, revoltado. Praças serão reformadas (Foto: Marina Silva/ CORREIO) As dificuldades vividas por Arnaldo são as mesmas de muitas outras pessoas com deficiência que precisam transitar pelo Comércio. O problema parece ter atraído a atenção das autoridades. A prefeitura informou que o bairro vai passar por reformas nos próximos meses e que, depois que as obras forem concluídas, haverá mais acessibilidade na região. 

O projeto elaborado pela Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), ligada à Prefeitura de Salvador, fará intervenções nas praças Visconde de Cayru, Inglaterra [ver imagens do projeto abaixo], Riachuelo, e Marechal Deodoro (praça da Mãozinha), além da Rua Miguel Calmon, que será reformada e arborizada. Haverá também mudanças no trânsito. 

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De uma maneira geral, as praças vão receber novos pisos, paisagismo, iluminação, bancos e outros equipamentos. A previsão é para que as obras sejam concluídas até o primeiro semestre de 2019. 

Ela vai fazer parte do projeto piloto Ruas Completas, que envolve 19 capitais brasileiras. Criado pela organização WRI Brasil Cidades Sustentáveis, o objetivo é construir modelos de sustentabilidade e qualidade de vida nos grandes centros urbanos do país. Rua Miguel Calmon vai receber 87 mudas (Foto: Marina Silva/ CORREIO) A rua vai receber ciclovia, terá as calçadas alargadas e sinalização inteligente, além de nova iluminação. O projeto também prevê a redução na emissão de gás carbônico. Por isso, 87 mudas serão plantadas ao longo da via.

A requalificação será feita com recursos da própria prefeitura e está orçada em R$ 4,6 milhões. A rua será requalificada da praça Visconde de Cayru até o prédio da Receita Federal. A praça Riachuelo, que fica no meio do caminho, também será recuperada e vai receber piso intertravado. A pavimentação é uma novidade já que a região tem apenas asfalto. Obras já foram iniciadas (Foto: Marina Silva/ CORREIO) Do apogeu ao abandono Quando Tomé de Sousa desembarcou em Salvador, em 1549, escolheu a região da Praça Municipal para construir a nova cidade por dois motivos: ali era um mirante, que permitia avistar os inimigos quando eles ainda estivessem distantes, e ficava próxima da área onde hoje é o bairro do Comércio, onde as águas eram tranquilas para os navios atracarem.

Com o passar dos anos, o porto tornou-se o mais importante da colônia, com movimentação intensa de navios levando e trazendo produtos das mais variadas regiões. Segundo o historiador do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB) Jaime Nascimento, essa região foi fundamental para o desenvolvimento do estado.

“Os primeiros navios trouxeram o material para a construção de Salvador. Depois, teve início o comércio com o Recôncavo e outras regiões. Os produtos que eram embarcados e desembarcados no porto, que naquela época funcionava ao lado do Mercado Modelo (Alfândega), eram negociados ali mesmo. Aquela era uma região de comércio intenso. Foi assim que surgiu o nome do bairro”, explica. Bairro foi aterrado ao decorrer dos séculos (Foto: Marina Silva/ CORREIO) A região foi aterrada diversas vezes, ampliando o bairro, e sempre foi alvo de especulação imobiliária. Nos anos 1950, algumas lojas e escritórios importantes migraram para a Avenida Sete de Setembro. Depois, nos anos 1990, foram para o Iguatemi e, mais tarde, nos anos 2000, para a Avenida Tancredo Neves.

“Isso foi puro modismo. Não houve um motivo específico para essa mudança, mas, com a saída dos grandes escritórios, os outros setores do comércio foram afetados, como restaurantes e pequenas lojas. Muitos moradores se mudaram e o bairro perdeu a função residencial”, conta.

Depois que as grandes empresas deixaram o Comércio, o preço dos aluguéis despencou, o que atraiu a atenção das universidades. Desde 2004, vários campi estão sendo instalados. Agora, espera-se que a revitalização dê mais uma injeção de ânimo no bairro e faça com que o Comércio saia ganhando nessa negociação cheia de altos e baixos.