Conheça Covid, a galinha que virou mascote do gripário dos Barris

Animal, que chegou à unidade de saúde com a pandemia, é paparicado por pacientes e funcionários

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  • Wendel de Novais

Publicado em 11 de março de 2021 às 05:45

- Atualizado há um ano

. Crédito: Marina Silva/CORREIO

Quem chega ao gripário dos Barris e observa o ambiente aberto do local logo percebe, entre ambulâncias, macas, pacientes à espera de atendimento e funcionários, uma presença, no mínimo, incomum. É que por lá passeia, para cima e para baixo, uma galinha bem gordinha e de penas brancas, que escolheu a unidade como casa. Não à toa, Covid - como é chamada por ter aparecido logo no início da pandemia, quando ainda era um pintinho - acabou virando o xodó e é paparicada dia e noite pelos funcionários e pacientes, que a alimentam e veem nela um alívio na rotina desgastante de uma unidade de saúde que atende, em média, 180 pacientes diariamente.

Sua origem é incerta. O fato é que, desde que a tenda do gripário foi instalada no local, a galinha está lá.

Depois de um ano, Covid já desfila com um corpo robusto, empanturrado com as guloseimas que recebe. E ela não aceita qualquer coisa. Vira a cara pro milho. Gosta mesmo é de pão e das sobras de comida que disputa com os pombos. Mesmo criteriosa, Covid não deixa de receber comida e muito menos atenção. Seu jeito manso e pidão faz com que muitos acabem reparando nela e gastando minutos para fazer um carinho na galinha, que não se acanha na hora do afago. Galinha chama a atenção de pacientes pelo tamanho (Foto: Marina Silva/CORREIO) Os pacientes que vão ao gripário costumam repetir sempre o mesmo ritual. Chegam, pegam a ficha, arrumam um lugar para sentar e, por fim, estranham e dão risada de Covid, que passa tranquila entre eles, principalmente quando vê comida. Gisele Silva, 34 anos, ficou um tempo encarando a galinha e depois tratou de saber o porquê da presença dela. “Eu estranhei, né? Não é nada comum você chegar em um gripário, na UPA, e ver uma galinha. Fiquei toda confusa. Até perguntei pro rapaz e ele me avisou que era a mascote daqui. Eu logo vi, tá toda gordinha, bem alimentada", disse aos risos.

O amigo Apesar de bem alimentada, a galinha não permanece no gripário só pela comida. Lá, ela é muito bem tratada. O maior responsável por isso é Jucelmo Conceição, 49, agente de portaria que só precisa assobiar para Covid, que ela vai ao seu encontro toda faceira. E o carinho é recíproco: Jucelmo adora a galinha. “Virou nosso xodó, nossa mascote. Comigo ela se apegou ainda mais porque dou muito carinho a ela. Quando eu chego de manhã cedo, ela tá sempre me esperando, aqui perto da portaria. Não passo sem falar com ela. É gratificante, eu gosto do afeto, da brincadeira com ela”, declarou Jucelmo. Galinha virou xodó no gripário dos Barris (Foto: Marina Silva/CORREIO) O agente diz ainda que não foi só ele que se apegou à galinha. Todo funcionário conhece e gosta do animal. Ele conta que é comum ver, hora ou outra, o povo dando atenção a ela. “Já vejo sempre o povo brincando com ela, dando o que comer, fazendo um carinho. É como eu disse, um xodó mesmo. Se ela some, o povo já fica doido atrás dessa galinha. No meio de tanta tristeza que a gente vê, ela faz a nossa alegria, é o motivo das poucas risadas", relatou.

Outro funcionário do local, que preferiu não revelar o nome, reiterou o carinho que as pessoas têm por Covid e o fato de a galinha ser um dos poucos motivos para sorrir no gripário. “O povo gosta demais, ela é uma graça. A gente tava precisando disso. Tanta porrada, tanta coisa triste que a gente presencia todos os dias”, afirmou o funcionário, que justificou o tamanho dela pelo fato de Covid ser pidona e sempre encostar em quem está com comida.

A galinha é tão querida que, como Jucelmo adiantou, não pode ficar muito tempo sem dar as caras. Se ela sai da grama na frente do gripário, seu lugar preferido, já provoca aflição no pessoal, que tem medo que ela seja levada. É o que garante a técnica em enfermagem Tânia Maria de Jesus, 49. “Às vezes a gente procura e ela está escondidinha. A gente fica com medo de alguém levar”, revela. Todos não querem perder o evento que é a galinha, que leva um pouco de alegria para o gripário dos Barris.

* Com supervisão da chefe de reportagem Perla Ribeiro