Copa gringa: estrangeiros em Salvador vibram com a final do mundial

A maioria da torcida no Pelourinho estava a favor do time croata, que ficou em segundo lugar

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  • Nilson Marinho

Publicado em 15 de julho de 2018 às 18:50

- Atualizado há um ano

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O turista francês Cristophe Pavie, 47 anos, acredita estar certo. A taça erguida, no final da partida, no estádio Lujniki, em Moscou, pelo goleiro Hugo Lloris, não pertencia ao seu país. Ela é do mundo. Sim, isso porque, argumenta o turista, dentro de campo, defendendo a le bleu, estava uma segunda geração de imigrantes - mais da metade dos jogadores escalados para defender a pátria francesa tem suas raízes em 17 países.

No Pelourinho, às 12h, quando a França e a Croácia, entravam em campo para decidir o mundial 2018, os franceses, de passagem por Salvador, se concentravam nos bares para assistir à partida. Era na Cantina da Lua que a maioria deles estava, inclusive Cristophe, na companhia de sua esposa e filhos.

Àquela altura, enquanto a equipe do CORREIO conversava com Cristophe, a França vencia a Cróacia por 2x1 - o placar final foi de 4x2. Para ele, o que mais contou para levar os franceses à final foi o time veloz, jovem e multiétnico. O turista francês Cristophe Pavie, 47 anos, e a família vibram com gol da França (Foto: Mauro Akin Nassor/ CORREIO) "A mistura é um vantagem pra todo o mundo, porque temos uma mistura de cultura, de pensamentos, de causas sociais, refletindo no jogo. Mas, na França, ainda há pessoas que têm racismo", diz o turista francês, denunciando muitos de seus compatriotas. 

A França chegou à competição, ao lado da Nigéria, com o elenco mais jovem, com a média de 26 anos. A mais velha foi a Costa Rica, com 29,6. A média do Brasil foi de 28,7. Falando nisso, Mbappé, 19 anos, que marcou o quarto gol para a seleção campeã, foi o jogador mais jovem a balançar as redes em uma final desde Pelé.   Familia recifense e a torcida dividida: Andréa Alves e o filho José Carlos com os fanceses; já o pai, José Carlos torceu pela Croácia (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Pelas ruas e estabelecimentos do Centro Histórico, nada de croatas. Mas sem problema, já que a maioria dos soteropolitanos que ali estavam os representava, acreditando e desejando que a seleção do leste do velho continente pudesse chegar lá. 

O motorista Nicolas Marques, 36, acompanhava a partida em uma pequena televisão de um bar com amigos. Não se engane ao pensar que ele estava a favor dos franceses só porque vestia a camisa do campeão mundial. Na verdade, Nicolas queria ter visto os croatas levantarem a taça.

Mas no guarda-roupa nada de camisa quadriculada nas cores branca e vermelho, só restou a azul. "Não estou falando russo e nem grego, já disse: essa era a única camisa que eu tinha, foi um presente do meu pai", justificava o motorista, já cansado daqueles que desconfiavam da sua torcida pela Croácia. A torcida das argentinas foi para a Croácia (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) Não era conveniente para amigas argentinas torcer para França. Como poderia desejar que seus algozes no campeonato, aqueles que foram capazes de eliminá-los nas oitavas de final, pudessem ser os primeiros do mundo? Assim, como não era conveniente para nós brasileiros. Basta buscar na memória a triste final de 1998, quando perdemos para os donos da casa na cidade de Saint-Denis, na França. "Claro que (torço para) Croácia, porque perdemos para a França e vocês também", disse a mochileira Carolina Melgarejo.

A alemã Selina Van Schumann, 23, também estava ao lado dos croatas. Embora ela tivesse motivos para torcer o nariz para a França pela relação histórica conflituosa entre as duas grandes potências europeias, Selina jura que torceu pela Croácia apenas pelo fato de uma das sua melhores amigas ter nascido lá.  A alemã Selina Van Schumann, 23, também estava ao lado dos croatas (Foto: Mauro Akin Nassor/CORREIO) O fato é: os franceses voltam para casa com a medalha no peito, já  os croatas, carregando a prata, saem do campeonato reverenciados pela sua boa atuação. Os hermanos, coitados, finalizaram a Copa com um astro que não trouxe o caneco. Os alemães não foram os mesmos que passaram por cima dos donos da casa em 2014, conquistando o primeiro lugar. E nós brasileiros, que não desistimos nunca, ficamos a esperar mais quatro anos, para, enfim, cravar a sexta estrela. Até 2022. 

* Com supervisão do chefe de reportagem Jorge Gauthier